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segunda-feira, 18 de junho de 2018

A MAÇONARIA ENTRE A FORCA E O CACETE, ENTRE O MITO E A REALIDADE (1807-1834)




AUTOR: Fernando Marques da Costa;
EDIÇÃO: Campo da Comunicação, Maio 2018, p. 612


LANÇAMENTO:

DIA: 19 de Junho 2018 (19,00 horas);
LOCAL: Grémio Lusitano (Rua do Grémio Lusitano, 25, Lisboa):
ORADOR: Fernando Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.

ORGANIZAÇÃO: Instituto de Estudos Maçónicos

Durante o século XIX e parte do XX o essencial da história da Maçonaria portuguesa foi redigida por maçons, assente mais em 'tradições' do que em documentos e apoiada pelo memorialismo e pela historiografia liberal. Ora o século XIX caracteriza-se por uma atenção especial dada à história atribuindo-lhe uma utilidade social, política e ideológica. Essa função social é construída por uma releitura do passado como elemento identitário. A Maçonaria construiu uma memória histórica composta por uma realidade selectiva, que iludia e silenciava outras. Construiu, assim, um arquétipo historiográfico que durante muito tempo dificultou uma leitura mais serena e objectiva do que foi a sua realidade.

Talvez hoje valha a pena preferir a realidade ao mito, por muito que isso custe: os mitos são mais arrebatadores que a realidade” [da contracapa]

[ANOTAÇÃO NOSSA]: Este noviciado e estimulante livro de Fernando Marques da Costa - que decerto dará origem a curiosas e viçosas polémicas na historiografia maçónica - reúne (em sua primeira parte) um interessante e apreciado conjunto de textos e “episódios da história da Maçonaria em Portugal” (entre 1807 e 1834) que são aqui severamente desconstruídos. Tais episódios, que exerceram (e exercem) uma marca pedagógica relevante, quer na celebração e triunfo revolucionário do constitucionalismo liberal quer no ideário e memória do maçonismo (com o qual se confunde), resultam, segundo o próprio, numa desmedida ritualização de mitos evocativos, acentuando posicionamentos irredutíveis e “visões mitificadas” no panteão maçónico, produzindo, a partir dessas “leituras erradas”, vários e românticos “mitos historiográficos” liberais e maçónicos, que a muitos iluminaram e iluminam.

[anotemos alguns dos episódios referidos: “Inquisição. Um mito a revisitar” e “O surto das Lojas Portuguesas e a preocupação com a faísca da sedição” (a condenação e perseguição à Maçonaria não seria acompanhada, no seu inicio, por um “combate doutrinário” sustentado contra ela, preocupação que só é verificável posteriormente à Revolução Francesa e a implicação daí decorrente no espaço maçónico); “A Grande Reunião de 1801” (análise das fontes historiográfica maçónicas onde se patenteia e descreve o processo de criar uma estrutura organizativa maçónica nacional, a formação do GOL); “Sousa Coutinho Maçon?”; “A estranha prisão de Hipólito José da Costa” e “A missão de Hipólito José da Costa e a criação do Grande Oriente Lusitano”; “Os motins de Campo de Ourique”, “O Conselho Conservador, a Maçonaria e os Modelos Conspirativos” e, ainda, “O Conselho Conservador, uma organização paramaçónica?”; “Gomes Freire de Andrade. O Mártir do Mito” e “Gomes Freire de Andrade e o Neotemplarismo” (reprodução de partes do anterior livro de Marques da Costa, “Gomes Freire de Andrade. O Mártir do Mito, Setembro, 2017); “A Setembrizada. Rutura e Mudança”; ”O Sinédrio e a Maçonaria. Os Labirintos da História” (importante reflexão sobre a relação entre o Sinédrio e a Maçonaria, com curiosas referências ao maçonismo de Manuel Fernandes Tomás)]

Estamos, neste construído operativo, no “grande rio da história” (Fernando Catroga) onde o constitucionalismo português e o maçonismo caminham a par com a “entificação da ideia do progresso”. Não cumpre, aqui, dar sentido a essa “exaltação paradigmática”, por muito esforçada que ela nos pareça. Seja-nos permitido dizer que não nos é relutante admitir que a maçonaria não exerceu uma acção de especial relevo a partir dos “conventículos maçónicos”, antes da constituição (1804) do Grande Oriente Lusitano (GOL), aliás conforme a autorizada reflexão de Marques da Costa. E assumir, que depois da sua constituição e expansão, o dissídio entre as maçonarias foram tão acentuadas (tenha-se em conta a restauração da Carta) que o GOL se torna ela mesma uma força conservadora, bloqueando “os ímpetos revolucionários”. Estávamos ainda longe da unidade maçónica, isto é da formação (1869) do Grande Oriente Lusitano Unido (GOLU), sob o malhete do Conde de Paraty. Saber se esse especial momento permite de imediato dar origem a novas alterações ideológicas que sejam instrumentos de novas realidades militantes (caso de 1820) e se, posteriormente, tenha conduzido a uma sociabilidade política aguerrida no combate político após a vitória (1834) sobre o despotismo miguelista, não é assunto de momento (ver, a esse propósito, além das diferentes análise de Marques da Costa, o importante texto de Fernando Catroga, “A Maçonaria e a Restauração”, Revista de História das Ideias”, vol. 7, 155-181). Apenas cumpre, em clarificação, revisitar as ruturas (sempre) existentes na corrente do liberalismo constitucional português e no campo maçónico, e disso darmos conta e apreço, para se entender o tempo, o espaço e a dimensão da (re)construção do mito e da verdade.

Merece, porém, o excelente e merecedor estudo de Marques da Costa umas breves anotações.

A primeira reside na competente exegese interrogativa acerca da "credibilidade das fontes” e “os modelos interpretativos até hoje utilizados na leitura desses episódios” (p. 355) da mitologia maçónica. Estamos, deste modo, perante a velha querela do problema da conceituação teórica e sua legitimação; estamos, ainda e para o que nos interessa por agora, perante o problema da natureza narrativa da história e do seu ordenamento, onde, nos parece, que a “caça aos factos” (na impossibilidade de aceder a muitas das fontes primárias, porque inexistentes, dada a sua destruição nos ominosos tempos do absolutismo) não poderá por em causa um certo “discurso narrativo” (Ricouer) de acontecimentos (e a sua preservação), muitos deles de natureza memorialística e alguns narrados no espaço periodista, verificando-se o competente exame crítico dessas ocorrências a partir e mediante o entrecruzamento de outras fontes de transmissão documental, para que não se transforme a “memória em mercadoria”.

Isto é, se a narrativa e a tradição maçónica pode (também) ser entendida a partir de uma série de acontecimentos construídos ao mesmo tempo que as suas narrativas – “o acontecimento ocorre no discurso” – nos termos das conjecturas dos seus actores, então na evocação do seu passado não se deve perder o “jogo da descontinuidade” e a sua “dimensão episódica” (tempo real e de acção) a pretexto de uma qualquer aparência de continuidade específica [a tal exaltação paradigmática desse “grande rio da história”], que o torna simbolicamente ininteligível aos seus leitores. Se, de facto, algumas das narrativas pessoais criadas são meras seduções políticas dos seus protagonistas ou dos seus publicistas [exemplo: a formação do GOL, a “Conspiração de 1817”, “O Sinédrio” ou a perseguição da “Inquisição” à “pedreirada”], e que fomentaram ritos de recordação, esse rumor tornado mito, não deixando de ser um curioso labirinto entre a demanda da “realidade” e a edificação de uma putativa “ficção”, então não se pode deixar de analisar a sua natureza, origem, concepção e evolução. Para se entender como o mito tem sido alimentado e florescido em crença até aos nossos dias.

Uma segunda questão, necessariamente ligada à anterior, trata do problema da historiografia liberal e maçónica oitocentista, sem dúvida assaz complexa, em ligação com as provas preliminares da relação estabelecida entre os maçons, entre estes e as lojas e a rede de sociabilidade daí resultante. As curiosas ramificações clandestinas dessas “histórias variáveis”, a relação entre o “ser” e o “conhecer” dessa rede relacional, ou “afinidades conviviais” (p.361) não pode ser entendida fora dessa res gestae que foi o período do Triénio Liberal [e em Espanha, comparativamente; veja-se, por expl., Irene Castells, La Utopia insurrecional del Liberalismo, Barcelona, 1989] que produziu um vínculo interpessoal e político extraordinário e que foi um acontecimento ou epifania (re)fundadora da matriz identitária das maçonarias ibéricas.

De facto, o período revolucionário nos Estados Peninsulares (1820-1823) viu nascer no tronco comum da maçonaria novas formas de sociabilidade política (carbonarismo, as sociedades patrióticas, os clubes e associações paramaçónicas – ver José Manuel Martins, Os Estados Peninsulares e as Sociedades Patrióticas, Comissão Liberato, 2016), que conservando (algumas) o seu primitivo carácter iniciático rapidamente abandonaram os seus aspectos filantrópicos e confluíram para um ativismo romântico em que jogaram importante papel político contra o absolutismo, sem que a(s) maçonaria(s), elas mesmas, tenham criado essa mesma oposição. Quer isto dizer que as dissidências maçónicas [curiosamente sobre o papel da Maçonaria em Espanha neste período, J. A. Ferrer Benimeli não dá importância ao papel das lojas, não considera as lojas “irregulares” ou “selvagens” como maçonaria, estabelecendo o pressuposto teórico de apenas se considerar a maçonaria como uma sociedade secreta de caraterísticas iniciáticas – vide Castells, 1989] introduziram uma nova leitura e complexidade ideológica, novas formas de luta política, onde a documentação, por motivos de resguardo, não existia.

Portanto, cumpre dizer, se é certo que a escassez de fontes maçónicas nesse período [como foi dito, a documentação ou foi destruída ou nem existia] produz, na época pelos seus protagonistas ou depois pelos publicistas, uma sistemática construção ilusória e mitificadora da realidade inteligível (desse mesmo conhecimento, entenda-se), não menos certo é que uma visão inevitável que daí resulta, ao expor uma suposta esterilidade das práticas maçónicas fora da ritualística, não pode por si só conduzir e gerar sucessivos “mitos historiográficos” (note-se, apenas porque citado, a Conspiração de 1817), em prejuízo de um conhecimento visível pelos sinais que o exprimem (e são alguns, mesmo que fragmentados estejam) e pela luminosidade com que abraçaram a luta pelo constitucionalismo, como mais tarde pelo Livre Pensamento. Na verdade, se as revoluções fazem os seus revolucionários, a maçonaria cria os seus próprios maçons.

J.M.M.

sábado, 26 de março de 2016

O CASO DOS “DIVODIGNOS” E AS LUTAS ENTRE LIBERAIS E ABSOLUTISTAS



LIVRO: O caso dos “Divodignos” e as lutas entres liberais e absolutistas. História. Memória e Ideologia ;
Autor: Luís Reis Torgal;
EDIÇÃO: Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, 2016.

A Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova promoveu o lançamento do livro 'O Caso dos ‘Divodignos’ e as Lutas Entre Liberais e Absolutistas: História, Memória e Ideologia”, de Luís Reis Torgal, com o objectivo de documentar, preservar e divulgar a importância deste acontecimento histórico, segundo anunciou, hoje, a autarquia.




O lançamento da obra coincidiu com a inauguração de um memorial, na sexta-feira, no lugar do Cartaxinho, freguesia de Ega, uma vez que nesse lugar, a 18 de Março de 1828, deu-se o recontro entre estudantes liberais da associação secreta designada por “Divodignos” e uma comitiva universitária e eclesiástica que ia a Lisboa prestar homenagem ao proclamado “Rei Absoluto” D. Miguel, que se opusera à Carta Constitucional.

Nesse acontecimento morreram dois lentes da Universidade de Coimbra, tendo sido posteriormente executados nove estudantes, em 20 de Junho de 1828, no cais do Tojo, em Lisboa.


Com esta inauguração e com a apresentação do livro, o executivo da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova 'pretende colocar em prática uma das mais nobres missões do poder autárquico, que é estar ao serviço da preservação e divulgação da micro-história local, que consiste muitas vezes em pequenos episódios e acontecimentos cujo alcance, se não têm repercussão fora de portas, falam todavia no íntimo à comunidade autóctone', justifica a vereadora Liliana Pimentel no prefácio da obra.

O caso dos 'Divodignos', nomeadamente, o recontro entre a associação secreta dos estudantes liberais e a comitiva universitária e eclesiástica, acontecimento vulgarmente conhecido por 'assassinato dos lentes', tem sido fortemente divulgado pela literatura, pois os acontecimentos subjacentes ao drama atingiram notoriedade nacional, tanto assim que despertaram imediato interesse literário, sob a forma de ficção literária, cénica, telenovelística e popular', refere a autarquia condeixense”

[LER AQUI | AQUI | AQUI ]

FOTOS via Pró-Associação 8 de Maio, com a devida vénia


Sociedade dos Divodignos" [Divodigus] ou Divodis (1828) - Era composta, na quase totalidade, por estudantes liberais - o seu presidente era Francisco Cesario Rodrigues Moacho -, e de onde saíram os estudantes que participaram nos assassinatos e ferimentos aos lentes e cónegos [Jeronymo Joaquim de Figueiredo e Mattheus de Sousa Coutinho, foram os lentes mortos], no dia 18 de Março de 1828, além de Condeixa [sítio do Cartaxinho]. Tinham as reuniões na Rua do Loureiro, em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima do Arco de D. Jacintha" [in, Apontamentos para a História Contemporânea, p. 93]. Tinham os Divodignos "uma constituição, uma lei orgânica, que prescrevia a obrigação de actos violentos, e nestes, até o assassinato" [cf. Alberto de Sousa Lamy, A Academia de Coimbra 1537-1990].

Segundo um elemento pertencendo à sociedade [conta JoaquimMartins de Carvalho] faziam os Divodigus as assembleias num casarão quase subterrâneo, sito nos Palácios Confusos. Foi, aí, que se resolveu a trama de Condeixa, isto é, o cumprimento da deliberação de tirar do caminho de Lisboa os "membros das duas deputações " que levavam felicitações ao rei d. Miguel.

Assistiram a essa sessão dos Divodignos, 200 académicos liberais, tendo sido sorteados 13 deles para o cumprimento da missão. Segundo Joaquim Martins de Carvalho [op. cit], os membros dos Divodignos que "desfecharam as armas" foram: Delfino Antonio de Miranda e Mattos [de Barcelos], Bento Adjuto Soares Couceiro e Antonio Correia Megre.

Perante a descoberta ocasional do crime ocorreram populares e uma força de Cavalaria, que ali passava, pondo em debandada os Divodignos. Foram presos e enforcados [cf. Joaquim de Carvalho, op. cit, p. 96] nove deles [Bento Adjuto Soares Couceiro, Delfino Antonio de Miranda e Mattos, Antonio Correia Megre, Domingos Barata Delgado, Carlos Lidoro de Sousa Pinto Bandeira, Urbano de Figueiredo, Francisco do Amor Ferreira Rocha, Domingos Joaquim dos Reis e Manuel Inocêncio de Araújo Mansilha]. Foram conduzidos para Lisboa e do processo resultou na sentença [muito contestada juridicamente] de morte por "enforcamento" no dia 20 de Junho de 1828, no "cais do Tejo, a Santa Apolónia" [cf.Lamy, op. cit].

Ainda segundo J. Martins de Carvalho evadiram-se os quatro restantes [diga-se que José Germano da Cunha, nos "Apontamentos para história do Concelho do Fundão" (Lisboa, 1892) diz-nos que foram enforcados 10 dos membros dos Divodignos e que escaparam 3, referindo: Bernardo Nunes, o padre Bernardo Antonio Ferreira e Francisco Sedano Bento de Mello], registando Martins de Carvalho os seguintes:

Antonio Maria das Neves Carneiro (do Fundão, e que acabou por ser enforcado em 1830), Francisco Sedano Bento de Mello (Caldas da Rainha), José Joaquim de Azevedo e Silva (Lisboa) e Manuel do Nascimento Serpa (falecido na Misericórdia de Lagos, com o nome de "Fresca Ribeira"- ver obra citada e, principalmente, o Capitulo XII, "Sentença que condenou à morte os 9 estudantes enforcados a 20 de Junho de 1828"; do mesmo modo, consultar os "Grande Dramas Judiciários", de Sousa e Costa; idem para Oliveira Martins, inPortugal Contemporâneo, vol I.; ou Teófilo Braga, "História da Universidade de Coimbra", tomo IV; tb Camilo Castelo-Branco, in "O Retrato de Ricardina.”

[texto nosso, publicado no Almocreve das Petas (ver Associações de Coimbra), a 24 de Novembro de 2003 | outra Anotação nossa]

J.M.M.

segunda-feira, 16 de março de 2015

CONFERÊNCIA/EVOCAÇÃO – OS DIVODIGNOS E AS GUERRAS LIBERAIS


CONFERÊNCIA: "Os Divodignos e as Guerras Liberais”;
ORADOR: dr. Luís Reis Torgal [Faculdade de Letras da Univ. de Coimbra]

DIA: 18 de Março 2015 (18,00 horas);
LOCAL: Casa da Escrita (Rua Dr. João Jacinto, no 8, Sé Nova - Coimbra);

ORGANIZAÇÃO: Pró-Associação 8 de Maio, A.A.C., Ateneu de Coimbra;
NOTA: pelas 19,00 horas seguir-se-á uma cerimónia dodescerramento de placa toponímica”, justamente na Rua do Loureiro [local onde os Divodignos faziam as sua reuniões, ou como nos diz Joaquim Martins de Carvalho, “em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima do Arco de D. Jacintha” – in Apontamentos para a História Contemporânea, p. 93]

[ANOTAÇÃO SOBRE] "A Sociedade dos Divodignos" [Divodigus] ou Divodis (1828) - Era composta, na quase totalidade, por estudantes liberais - o seu presidente era Francisco Cesario Rodrigues Moacho -, e de onde saíram os estudantes que participaram nos assassinatos e ferimentos aos lentes e cónegos [Jeronymo Joaquim de Figueiredo e Mattheus de Sousa Coutinho, foram os lentes mortos], no dia 18 de Março de 1828, além de Condeixa [sítio do Cartaxinho]. Tinham as reuniões na Rua do Loureiro, em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima do Arco de D. Jacintha" [in, Apontamentos para a História Contemporânea, p. 93]. Tinham os Divodignos "uma constituição, uma lei orgânica, que prescrevia a obrigação de actos violentos, e nestes, até o assassinato" [cf. Alberto de Sousa Lamy, in A Academia de Coimbra 1537-1990]

Segundo um elemento pertencendo à sociedade [conta Joaquim Martins de Carvalho] faziam os Divodigus as assembleias num casarão quase subterrâneo, sito nos Palácios Confusos. Foi, aí, que se resolveu a trama de Condeixa, isto é, o cumprimento da deliberação de tirar do caminho de Lisboa os "membros das duas deputações " que levavam felicitações ao rei d. Miguel.

Assistiram a essa sessão dos Divodignos, 200 académicos liberais, tendo sido sorteados 13 deles para o cumprimento da missão. Segundo Joaquim Martins de Carvalho [op. cit], os membros dos Divodignos que "desfecharam as armas" foram: Delfino Antonio de Miranda e Mattos [de Barcelos], Bento Adjuto Soares Couceiro e Antonio Correia Megre.

Perante a descoberta ocasional do crime ocorreram populares e uma força de Cavalaria, que ali passava, pondo em debandada os Divodignos. Foram presos e enforcados [cf. Joaquim de Carvalho, op. cit, p. 96] nove deles [Bento Adjuto Soares Couceiro, Delfino Antonio de Miranda e Mattos, Antonio Correia Megre, Domingos Barata Delgado, Carlos Lidoro de Sousa Pinto Bandeira, Urbano de Figueiredo, Francisco do Amor Ferreira Rocha, Domingos Joaquim dos Reis e Manuel Inocêncio de Araújo Mansilha]. Foram conduzidos para Lisboa e do processo resultou na sentença [muito contestada juridicamente] de morte por "enforcamento" no dia 20 de Junho de 1828, no "cais do Tejo, a Santa Apolónia" [cf. Lamy, op. cit].

Ainda segundo J. Martins de Carvalho evadiram-se os quatro restantes [diga-se que José Germano da Cunha, nos "Apontamentos para história do Concelho do Fundão" (Lisboa, 1892) diz-nos que foram enforcados 10 dos membros dos Divodignos e que escaparam 3, referindo: Bernardo Nunes, o padre Bernardo Antonio Ferreira e Francisco Sedano Bento de Mello], registando Martins de Carvalho os seguintes:

Antonio Maria das Neves Carneiro (do Fundão, e que acabou por ser enforcado em 1830), Francisco Sedano Bento de Mello (Caldas da Rainha), José Joaquim de Azevedo e Silva (Lisboa) e Manuel do Nascimento Serpa (falecido na Misericórdia de Lagos, com o nome de "Fresca Ribeira"- ver obra citada e, principalmente, o Capitulo XII, "Sentença que condenou à morte os 9 estudantes enforcados a 20 de Junho de 1828"; do mesmo modo, consultar os "Grande Dramas Judiciários", de Sousa e Costa; idem para Oliveira Martins, in Portugal Contemporâneo, vol I.; ou Teófilo Braga, "História da Universidade de Coimbra", tomo IV; tb Camilo Castelo-Branco, in "O Retrato de Ricardina".

J.M.M.

terça-feira, 7 de maio de 2013

HISTÓRIA DAS SOCIEDADES SECRETAS POLÍTICAS E RELIGIOSAS


PIERRE ZACCONEHISTÓRIA DAS SOCIEDADES SECRETASPolíticas e Religiosas, trad. de Heliodoro Salgado, Lisboa, Typographia Lusitana (Editora de Arthur Brandão), II vols. 911-V e 959-V págs. E.

Do índice: Os Carbonários; A Inquisição; Os Franco-Maçons; Os Estranguladores; Os Comburadores; A Camorra; Os Amigos do Povo; Os Companheiros; A Internacional; Os Mutilados Russos; Os Nihilistas; Os Fenianos; Os Illuminados; Os Jesuitas; Os Juízes Livres; Os Templários, Os Assassinos. [AQUI]

J.M.M.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ESTADO NOVO (OU UNIÃO NACIONAL)


ESTADO NOVO (a caminho da União Nacional ou … a caminho da Refundação do Estado]

Documento onde o signatário declara estar “integrado na Ordem Social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”

Documento onde o signatário declara não pertencer nem que “jamais pertencerei a associações ou institutos secretos”.

J.M.M.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

DAS SOCIEDADES SECRETAS AO SEGREDO DO SAGRADO


CONFERÊNCIA: "Das Sociedades Secretas ao Segredo do Sagrado";
ORADOR: Jorge de Matos (historiador);
DIA: 5 de Junho (19,30 horas);
LOCAL: Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella (Estrada de Benfica, 419, Lisboa);
ORGANIZAÇÃO: VITRIOL - Associação da Língua e Cultura Lusófona.

"Partindo da questão antropológica de 'sociedade secreta', procura-se sistematizar uma síntese contextualizante das categorias tipológicas de grupos sociais relacionados com os âmbitos temáticos e funcionais do Segredo e do Sagrado – da beneficência à terapia, do rito à iniciação, sempre rumo ao Absoluto" [AQUI]

J.M.M.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

JOSÉ CABRAL – MONÁRQUICO E NACIONAL-SINDICALISTA [PARTE II]



José Cabral foi deputado da Assembleia Nacional, entre 1934 (data da sua eleição) e 1950

[a 6 de Dezembro de 1937, apresenta José Cabral (no seguimento do atentado a Salazar de Julho de 1937) "um projecto de alteração ao no11 do artg. 8o da Constituição", visando ampliar a escala penal contra a segurança de Estado, pela introdução de duas novas categorias, "constituídas pela pena capital e pela de trabalhos públicos", deste modo reforçando o "sistema defensivo da Autoridade e da Ordem". Esta tentativa do restabelecimento da pena de morte e castigos Corporais Perpétuos em Portugal pela mão de José Cabral não teve êxito – ver sobre este assunto, "A Crise da República e da Ditadura Militar”, de Luís Bigotte Chorão, 2009, pp. 825-829]


e ficou conhecido por ter sido o autor do projecto-lei sobre a proibição das "Sociedades Secretas" (leia-se, a Maçonaria) em 1935 [apresentou-o na Assembleia da República a 19 de Janeiro; posteriormente, e a esse propósito, é publicado o livro - "Sociedades Secretas" - com introdução do mesmo José Cabral - ver LIVRO DIGITALIZADO AQUI ], o que levou à conhecida intervenção pública de Fernando Pessoa em defesa da Maçonaria e das Sociedades Secretas

[que originou uma violenta polémica que envolveu, nos jornais, Fernando de Sousa (n’A Voz), Alfredo Pimenta (idem), Rolão Preto (no Fradique), Joaquim Mendes Guerra (n’A Voz), Artur Bivar (no Novidades), Thomaz Ribeiro Colaço (no Fradique), António Tinoco (idem), José Cabral (n’A Voz) e Manuel Maia Pinto (ex-maçon, publ. no Fradique)]

num extenso, sereno e contundente artigo [“Associações Secretas”] publicado no Diário de Lisboa, a 4 de Fevereiro desse ano [o artigo – ou parte dele - saiu, depois, clandestinamente em opúsculo, sendo esta sua primeira publicação feita a expensas do Grémio Lusitano – voltaremos em breve a este curioso tema. Diga-se, ainda, que um segundo artigo de F. Pessoa foi cortado pela censura]. O projecto-lei de José Cabral foi aprovado [6 de Abril. Dias antes, a 4 de Abril, o Grão-Mestre Norton de Matos demite-se, transferindo os poderes para o Conselho da Ordem, na pessoa do seu presidente, Maurício Costa. A partir da sua morte, a 19 de Maio de 1937, o G.O.L. é dirigido por Luís Gonçalves Rebordão], com parecer favorável da Câmara Corporativa [27 de Março]. A Ordem é banida pela lei no 1901 de 21 de Maio de 1935, que perdurou até 7 de Novembro de 1974. Na sequência da lei é dissolvido o Grémio Lusitano [portaria de 21 de Janeiro de 1937] e os seus bens [como o Palácio Maçónico e outros templos] passam à posse da Legião Portuguesa [lei no 1950]. A Maçonaria entrou na clandestinidade, não sem antes ter tomada as necessárias medidas de emergência. Aliás, mesmo face a posições contraditórias, já anteriormente [ver Circular no1, do GOL, de 10 de Dezembro de 1931 ou a Circular no7 do Cons. da Ordem, de 10 de Março de 1933] tinha o G.O.L. reconhecido as ameaças e os intuitos persecutórios da ditadura, compreendendo bem o momento "excepcionalmente grave" que atravessava.

José Cabral colaborou no jornal Revolução Nacional [dir. Manuel Múrias]. Publicou os seguintes livros: “A Confissão”, Fafe, 1906 [conferência realizada em Maio no círculo católico de operários de Viseu] e “Sociedades Secretas”, Editorial Império, 1935 (142 p.).

Morre de cancro, em Lisboa, a 10 de Junho de 1950.

No seu funeral (Alto de S. João) estiveram presentes, entre outros, um corpo de legionários e membros da sua Junta Central, representantes do governo e da União Nacional, deputados, o director geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior, Pires de Lima, João Almeida (dir. geral do ensino secundário), Supico Pinto, Manuel Andrade de Sousa, Augusto de Castro, João Moreira de Almeida, Hipólito Raposo, o conde de Águeda, Manuel Múrias, Amaral Pyrrait, Nogueira Leite, Costa Leite.

FOTO: reprodução do panfleto "Um Grupo de Patriotas contra a proibição da Maçonaria (1935)", via Ephemera, com a devida vénia [CLICAR na foto para ler]


J.M.M.

JOSÉ CABRAL – MONÁRQUICO E NACIONAL-SINDICALISTA [PARTE I]


JOSÉ CABRAL, aliás José Pereira dos Santos Cabral [1885-1950], nasceu [16 de Setembro] em Travanca de Tavares (Mangualde). Formado em Direito por Coimbra [entra em 1906-07], foi advogado em Fornos de Algodres, director-geral dos Serviços Prisionais (1929), presidente da direcção da Associação do Patronato das Prisões, director geral dos Serviços Jurisdicionais de Menores, director dos Serviços de Acção Social e Política da Legião Portuguesa (medalha de oiro, por dedicação), administrador das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, da Companhia das Águas de Lisboa e presidente da assembleia-geral da Companhia de Seguros "Europeia".

Monárquico [aparece como candidato eleito nas listas monárquicas, pelo círculo no 18 de Gouveia nas eleições de 28 de Abril de 1918 e participa na revolta monárquica de 1919, tendo de exilar-se em Espanha] e católico, pertenceu ao grupo fascista formado em torno da revista Ordem Nova, à Liga Nacional do 28 de Maio e foi militante nacional-sindicalista [integrou e chefiou o grupo de Coimbra, fazendo parte do directório do Grande Conselho Nacional Sindicalista]. Mais tarde aderiu ao Salazarismo e à União Nacional [participa, mesmo, no I Congresso na União Nacional] rompendo (Março de 1934) com chefia dos “camisas azuis” de Rolão Preto e Alberto de Monsaraz [a cisão no movimento nacional-sindicalista e o “trânsito” para o Estado Novo foi acompanhada por outros, como Pedro Teotónio Pereira, Manuel Múrias, João Costa Leite (Lumbrales), Fernando Pires de Lima, Eusébio Tamagnini, Cabral Moncada, Ramiro Valadão, Supico Pinto, Dutra Faria, Luís Forjaz Trigueiros, Amaral Pyrrait, Castro Fernandes].

Curiosamente a proposta de dissolução do Movimento Nacional-Sindicalista (e a aceitação da liderança por Salazar) partiu do próprio José Cabral, na reunião do directório de Agosto de 1934 (já com a direcção ausente no exílio), presidida por Eusébio Tamagnini. A 18 de Agosto de 1934 sai o último número do jornal diário Revolução Nacional [sob direcção de Manuel Múrias, 146 numrs. As dívidas do jornal foram pagas por ordem de Salazar - VER jornal Revolução e Revolução Nacional AQUI], anunciando o seu termo. Os ex-fascistas tinham, por fim, chegado à governação. Por seu lado, os correligionários de Rolão Preto partiram para o exílio, entram na clandestinidade e não espanta que tenham aderido, mais tarde, às várias lutas e intentonas reviralhistas contra a ditadura, ao lado dos seus antigos adversários.

[a continuar]

J.M.M.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

COLÓQUIO - "AS SOCIEDADES SECRETAS"



25 de Fevereiro (18 horas) - Paços do Concelho da C. M. Lisboa
COLÓQUIO - "As Sociedades Secretas", pelo Dr. António Lopes, director do Museu Maçonico Português.

[está inserido no Programa das Comemorações do Centenário da República]

J.M.M.
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