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quinta-feira, 1 de julho de 2021

A HISTÓRIA DA ECONOMIA E OS SEUS LIMITES – ÁLVARO GARRIDO


A História da Economia e os seus limites – por Álvaro Garrido, in Público

O crescimento rápido que a economia portuguesa evidencia nos anos de 1960 a 1973 constitui um facto económico saliente, é verdade, mas não lhe podemos atribuir um valor absoluto. As demais dimensões da realidade que o podem explicar ou contradizer não falam por si, nem tão pouco são captadas pela contabilidade agregada do crescimento.

No espaço público português e noutras arenas de debate — ou de combate tribalizado, muitas vezes sem discussão nem conhecimento — sucedem-se as manipulações da história a preceito das batalhas políticas do presente. A história e a memória não são construções neutras ou isentas de conflito. Se dúvidas houvesse, é claro que a escrita da história e os trabalhos da memória são assuntos do presente e por isso se diz que toda a história é contemporânea.

Importa reconhecer que a História académica, feita por profissionais e assente em conhecimento especializado, não detém o exclusivo das narrativas sobre o passado. No entanto, a História deve assumir um papel decisivo na interpretação das sociedades no tempo. Precisamos dela para dar sentido ao presente e imaginar o futuro.

Infelizmente, as redes sociais estão cheias de historiadores de ocasião e nas livrarias é demasiado fácil encontrar livros de cordel que reclamam novas versões da história e descobertas delirantes, sem rigor de prova nem talento narrativo.

Em Portugal, os usos políticos do passado têm sido causa e efeito de polémicas sobre o passado colonial, a violência política da ditadura salazarista e de outros regimes políticos e, com menor frequência, acerca do papel da mulher e de coletivos cuja voz está pouco inscrita na memória social. Menos comuns costumam ser os debates públicos em torno de questões económicas, seja a magna questão da convergência e da divergência (o progresso e o atraso, como em tempos se diria), seja o problema das desigualdades, que os historiadores económicos conhecem e estudam há mais de cinquenta anos.

Quase tudo foi dito e interpretado sobre a intervenção do historiador económico Nuno Palma na convenção do MEL, em especial por Pacheco Pereira e Fernando Rosas, historiadores em cujos argumentos me revejo.

Nessa já famosa conferência, em que Palma vestiu a pele do especialista que veio trazer luz sobre um assunto que, de repente, importa ao debate político atual, as adversativas que usou não parecem nada inocentes. As ressalvas fizeram parte da mensagem sentencial que a convenção pretendia emitir sobre o fracasso da democracia portuguesa em matéria de desenvolvimento económico. Era esse o móbil da intervenção e devemos reconhecer que a mensagem passou.

Dado que vivemos num tempo em que importa “dissecar tudo” sobre o passado recente (palavras presidenciais), importa lembrar que há diversas formas de fazer História económica e que, entre os historiadores profissionais, é imensa e quase intransponível a distância que se criou entre subdisciplinas e maneiras de fazer História. Umas dessas barreiras reside na incomunicabilidade entre os historiadores que fazem História política da época contemporânea e os historiadores económicos (em especial os economistas-historiadores). O problema é velho, mas tem contornos novos que, no contexto atual, se cruzam com os movimentos políticos da federação das direitas que se prefigura.

Creio que boa parte do problema está no modo de pensar a economia, nos seus pressupostos metodológicos e no modo como a História económica se deixou tomar, exageradamente, pelas abstrações da “ciência económica” que se pretende apolítica e ahistórica. É claro que há razões académicas, relacionadas com o modelo de produção e difusão científica atual, que ajudam a explicar essa tendência, mas não é essa a questão principal nem aquela que aqui me ocupa.

A necessidade de expulsar a política e os factos sociais das explicações económicas é um pressuposto metodológico da Economia convencional, de raiz neoclássica, que tende a tornar a História económica um exercício de economia retrospetiva. No plano metodológico, aprecio esse exercício, por vezes muito sofisticado e apoiado em métodos econométricos e testes contrafactuais criativos. Como dizia Eric Hobsbawm, esse tipo de História pode, até, ser um bom detetor de absurdos, mas em regra oferece apenas uma visão esquemática e tendencialmente abstrata da realidade económica, que não capta o pulsar das sociedades humanas na medida em que opera numa linguagem muito distante do que deve ser a escrita da História e porque evade da narrativa todas as demais dimensões do “real vivido”. Nessa perspetiva redutora da História económica, os factos económicos explicam-se por si próprios e são autossuficientes ou destinam-se apenas a validar a teoria. Assim entendida, a análise do económico pelo económico é um tique metodológico que, uma vez aplicado ao tempo passado, resulta em interpretações históricas redutoras. Em regra, o método que as sustenta elimina a contingência e a historicidade das ações humanas, isto é, pouco atende à natureza injuntiva das diversas dimensões da realidade histórica.

Não por acaso, Nuno Palma foi chamado ao MEL ou aceitou participar na reunião das direitas imoderadas e inquietas, para ali apresentar uma narrativa conveniente e pré-determinada sobre o desenvolvimento económico português do pós-guerra à atualidade, com ênfase nos últimos anos da ditadura de Salazar e Caetano. A narrativa apoiou-se em dados de contabilidade nacional e, sem surpresa, adotou uma epistemologia das continuidades. Esta perspetiva é muito comum na historiografia conservadora sobre o Estado Novo e, obviamente, implica uma certa despolitização e a desvalorização do papel histórico das ruturas políticas e das mudanças induzidas por movimentos sociais.

Mais do que reelaborar e difundir uma interpretação sobre a performance económica do Estado Novo no terceiro quartel do século XX, ou no segundo fôlego de existência do regime, a tese que Palma trouxe ao MEL procurou atingir o 25 de abril e diabolizar o PREC. Basicamente, sugeriu que o desenvolvimento económico português, a abertura ao exterior e a convergência com os países do “centro”, ainda que tenham sido processos tardios, foram êxitos da ditadura que, entretanto, a revolução e as instituições democráticas desbarataram.

Não é nova a tendência de recontar a história do Estado Novo colocando em primeiríssimo plano o fenómeno de crescimento que Portugal registou entre 1950 e 1973 e atribuindo à narrativa do “crescimento económico moderno” – apenas uma imagem abstrata, cujo conceito vem de Simon Kuznets – um valor absoluto ou um significado superlativo.

Sabemos do encantamento que este facto económico suscita, por exemplo, nos alunos de Economia, e no homo economicus que há em cada um de nós. O crescimento rápido e o fenómeno de convergência que a economia portuguesa evidencia nos anos de 1960 a 1973 — em menor medida, de 1950 a 1973 — constitui um facto económico saliente, é verdade, mas não lhe podemos atribuir um valor absoluto. As demais dimensões da realidade que o podem explicar ou contradizer não falam por si, nem tão pouco são captadas pela contabilidade agregada do crescimento.

Basta lembrar dois negativos dessa fotografia excessivamente otimista e distorcida da “idade de ouro” do crescimento económico português, cujos diagnósticos são contemporâneos desse período de grandes paradoxos: o insuspeito trabalho do economista católico e corporativista Adérito Sedas Nunes, Portugal, sociedade dualista em evolução (1964); o ensaio do engenheiro fabril e intelectual marxista João Martins Pereira, Pensar Portugal Hoje (1971). Entre outros escritos daquela época que fazem mais pela sua interpretação do que a insistência na imagem redutora de uma golden age à portuguesa, os ensaios de Sedas Nunes e de Martins Pereira são retratos eloquentes de um outro país e dos problemas estruturais que conviviam com o crescimento rápido da economia — a emigração em massa para a Europa (não por acaso, entre 1960 e 1973 a população portuguesa decresceu 3%), as tremendas desigualdades sociais e assimetrias do território, o arcaísmo do mundo rural, a miséria social e a ausência de modernidade. Problemas estruturais que a História pode e deve discutir, mas de maneira séria e injuntiva, sem recalcar o primado da política na vida económica e social de um fascismo que, afinal, existiu.

A História da economia e os seus limites – por Álvaro Garrido [professor-investigador de História Económica da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra], in Público, 1 de Junho de 2021 – com sublinhados nossos.

J.M.M.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

ELOGIO DO PROF. DOUTOR JOAQUIM ROMERO MAGALHÃES


Tendo sido publicado na página da Associação Portuguesa de História Económica e Social, o elogio proferido pelo Doutor Álvaro Garrido nas cerimónias fúnebres do Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães, realizado na Capela de S. Miguel da Universidade de Coimbra, 26 de Dezembro de 2018 e que pode ser consultado/descarregado AQUI, toma-se a liberdade de o partilhar e divulgar junto dos seguidores deste espaço virtual.
A.A.B.M.
…….
Querem-se bem ponderadas as palavras que compõem este elogio, que não é só meu, mas de todos nós aqui presentes, Colegas, Amigos e Familiares de Joaquim Romero Magalhães.
Este é um elogio da FEUC, escola em que JRM sempre ensinou e que muito ajudou a construir, mas sobretudo da sua alma mater, a Universidade de Coimbra, que por vezes fustigava com o seu humor mordaz, mas que amava muito, bem o sabemos.
De uma certa forma, esta oração é um tributo da comunidade académica, em geral, a um dos grandes Professores que a Universidade portuguesa conheceu nas últimas décadas; uma homenagem a um dos melhores historiadores portugueses de sempre, não tenho dúvidas em afirmá-lo.
Para mim que ainda não tenho a sabedoria dos anciãos, é uma honra profundamente triste evocar aqui, neste dia e lugar, a perda de um Amigo e de um Mestre a quem devo tanto.

A Morte Chega Cedo, diz o poeta. Cedo demais, sempre.
Elogiar um Amigo muito querido, dizer das suas qualidades, expressar-lhe uma vez mais o nosso profundo afecto e admiração, parece um ofício redundante; um desafio daqueles que a vida nos traz, que o rito da despedida nos pede, e de cujo encargo me quero ocupar com a dignidade e a elevação que sempre nos exigiu JRM.
Fazê-lo em pleno Natal, festejando a natividade de um Redentor de cuja existência histórica e revelação o nosso Querido Amigo nunca se convenceu, parece ainda mais cruel, algo contraditório até. Mas talvez tudo isso nos faça compreender que a Vida apenas nos condena a sermos fortes.

Neste particular momento, para estarmos mais próximos de JRM, devemos evitar dramatismos e olhar para diante, com saudades do futuro, como dizia Teixeira de Pascoaes.
A prosa dos dias belos, como a dos momentos tristes, quer-se limpa; habitada por boas palavras, rente ao sentido das coisas, dizendo-as na sua justa medida, criando com elas algo que nos anime a prosseguir o caminho. Era assim que JRM entendia essa relação difícil entre as palavras e as coisas, buscando simplificá-la pela prosa cristalina que, em tantos e tantos textos, nos ofereceu.

Todos sabemos e recordamos, já com Saudade e com um carinho sem limites, o talento quase literário de JRM, a sua ironia fina, a sua erudição histórica e a vasta cultura com que nos deliciava, a sua palavra claríssima e nunca excessiva.
Um Amigo, um Mestre, Professor de muitos de nós, também de mim, quando por ele fui deliciosamente orientado sem um único momento difícil ou de desencontro, tendo nascido aí, nessas longas horas de conversa do doutoramento, uma profunda Amizade que muito me lisonjeia e que de resto se estende aos colegas do grupo de História Económica e Social da FEUC e a todos quantos tiveram o privilégio de terem o Prof. Romero como orientador científico.
Recentemente, no seu Algarve, numa cerimónia de mão-cheia que o fez Feliz e que nos encheu de felicidade a todos, JRM confessou com excessiva modéstia que nunca pôde ser o escritor que gostaria de ter sido, talvez porque lhe faltasse talento para isso, ainda que fosse Filho de Pai... Modéstia dos grandes…, parece-me.

Não quero iludir a tristeza que todos sentimos, mas julgo que devemos encontrar na Vida e na Obra de JRM motivos de alegria e de exemplo que enformem uma vida académica em cujo quotidiano, mil vezes fragmentado e cada vez mais longe da leitura e da escrita, possamos achar novos significados e redescobrir o essencial.
JRM tinha um apurado sentido do que interessava e do que não interessava, deitando borda fora o acessório, o trivial e o efémero. Daí o seu gosto por memórias, opúsculos, história na primeira pessoa e aberta a múltiplas interpretações, sem andaimes nem artifícios teoréticos.
Quantas vezes o vi, no seu Gabinete de maravilhoso cheiro a verdadeiros livros, interromper uma conversa que entretanto seguira por trivialidades, buscando na estante um bom livro que nos recolocasse no caminho do essencial.
Livros de tudo ele tinha e tem (até uma bela colecção de policiais), fazendo jus à sua natureza de extraordinário bibliófilo, visitante regular de alfarrabistas, ainda que a visita a alguns deles, sobretudo do Porto, fosse também destinada a rever amigos da Invicta ou a fugir por horas da morna Coimbra...

Num breve excurso, vou valer-me de informações colhidas da lauda proferida pela Professora Maria Leonor Costa no doutoramento em honra de JRM realizado no Algarve, e do texto assinado pela Professora Maria Eugénia Mata e pelo Professor Nuno Valério no volume de Estudos em Homenagem publicado pela Almedina, em 2012, para sintetizar o percurso académico e cívico de JRM:

Joaquim Romero Magalhães nasceu em Loulé em 1942.
Filho do Professor de liceu e escritor Joaquim Magalhães e de Célia Romero, Professora do Conservatório de Faro, progenitores que muito admirava.

Cursou o liceu em Faro e seguiu para Coimbra em 1959. No ano seguinte preteriu o Direito em favor da História, percurso comum a diversos historiadores de renome.
Nos tempos de estudante, em plena ditadura de Salazar e guerra nas colónias africanas, participou activamente no movimento associativo estudantil de Coimbra.
Ao reprimir a crise académica de 1961-62 por meio de forças policiais e comissões administrativas, a ditadura acabou por estimular dissidências e novas dinâmicas de compromisso entre o movimento estudantil e as oposições ao Estado Novo.
Membro da República do Prakistão, onde conviveu com outras notáveis figuras da vida democrática do país, o estudante Romero Magalhães foi presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, em 1963, e presidente da Associação Académica de Coimbra, em 1964.

Defendeu a sua tese de licenciatura na FLUC em 1967, intitulada Para o Estudo do Algarve Económico durante o século XVI, publicada em 1970 pelas Edições Cosmos.
Em 1973, após um brevíssimo período como professor do ensino secundário e metodólogo, iniciou a sua carreira de docente na FEUC.
Tivera, entretanto, um longo interstício imposto pelo cumprimento do serviço militar em África, que realizou entre 1967 e 1970, assunto sobre o qual reivindicava um certo e compreensível direito ao silêncio.

Na FEUC, prestou provas de Doutoramento em 1984 ampliando o trabalho que iniciara na Faculdade de Letras. A Tese prosseguiu os estudos sobre o Algarve económico da Época Moderna; ampliou as leituras de Pierre Vilar, de Albert Silbert e do orientador Vitorino Magalhães Godinho e intitulou-se O Algarve Económico, 1600-1773. Viria a ser publicada na Editorial Estampa em 1988. Um marco da historiografia portuguesa.
Vitorino Magalhães Godinho, figura notável da cultura portuguesa, revolucionou a historiografia, enfrentou os poderes provincianos e o historicismo balofo promovido pelo Estado Novo e viu em Romero Magalhães o seu principal discípulo e herdeiro intelectual.

JRM fez provas de Agregação na FEUC em 1993, apresentando um notável relatório para uma cadeira de História da Europa, a sua oportuna paixão académica desse período.
Alcançou posição de Catedrático em 1994 e jubilou-se em 2012.

Exultante com o desfecho democrático da Revolução de 25 de Abril de 1974 e com a mudança de rumo que Portugal conheceu, JRM foi chamado a participar em decisões públicas de tremenda importância para a transformação da sociedade portuguesa e das instituições.

Portugal conheceu em 1976 uma nova Constituição política. Consolidara-se a Democracia.
Então com 34 anos, JRM deu um contributo decisivo ao país nesta fase da vida nacional, como deputado eleito pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. Nessa condição, em março de 2016 recebeu o título de Deputado Honorário à Assembleia da República.

Além de deputado, Joaquim Romero Magalhães deu outros notáveis contributos para a causa pública.
Foi Secretário de Estado da Orientação Pedagógica entre 1976 e 1978 no Governo minoritário do Partido Socialista presidido por Mário Soares e cujo Ministro da Educação era Mário Sottomayor Cardia, personalidade que muito admirou.
As qualidades pessoais e académicas de JRM e a sua viva militância socialista fizeram-no ponderar as possibilidades de prosseguir a vida política. Optou, porém, por regressar plenamente à vida académica, mas teve ainda uma intervenção destacada na vida do Município de Coimbra, como Presidente da Assembleia Municipal, entre 1986 e 1998.

Joaquim Antero Romero Magalhães cedo descobriu, na sua adolescência, em Faro, os olhos finos com que observou a sociedade portuguesa, ontem como hoje marcada por vincadas desigualdades sociais e por assimetrias regionais persistentes.
O Algarve deve-lhe uma escala de observação e uma história atenta a essas desigualdades, bem como à geografia económica dos espaços, às estruturas sociais e de poder. Trouxe também um novo olhar relativamente ao papel de regiões periféricas na expansão marítima portuguesa. Outros haviam de seguir o mesmo caminho.

JRM sabia Geografia como poucos e nunca se esqueceu dela como saber aliado da História, mesmo quando muitos começaram a buscar no indefinido horizonte das “Ciências Sociais” um aparato teórico que amiúde resulta na des-historicização da própria História.

JRM tem uma vastíssima bibliografia publicada, que se traduz em análises históricas fecundas. Devemos salientar o volume terceiro da História de Portugal dirigida por José Mattoso, por si coordenado e por muitos considerado o mais equilibrado dos sete volumes desse grande empreendimento editorial.

Facilmente descobrimos na obra de JRM um apurado sentido didáctico e tão provocador como o foram alguns dos intelectuais portugueses republicanos que lia e admirava, e cujas memórias coleccionou.
Muitos dos seus trabalhos destinavam-se a incentivar discípulos e a rasgar novos horizontes. Era um Professor que fazia investigação e que nunca se quis ver na pele de um investigador que aulas não desse, ou que as achasse supérfluas para melhor escrever História.
Os largos milhares de páginas impressas que nos deixa – livros, capítulos de obras coletivas, ensaios e mais de uma centena de artigos – são o testemunho da sua fina prosa, reflectem a sua admirável erudição.
Era um notável historiador de frases curtas e escrita irónica. Conjugava rigor e qualidade literária, mesmo quando descrevia matos, gados ou sardinhas, ou quando interpretava paisagens económicas.

A análise histórica produzida por JRM, sempre preocupada em explicar narrativamente, nunca perdeu de vista as estruturas, as conjunturas, os complexos histórico-geográficos e outras categorias heurísticas difundidas pela Escola dos Annales. No entanto, essas influências nunca se mostraram contraditórias em relação a um estilo muito próprio de quem pensava e escrevia por cabeça própria. Dele nos fica um estilo inconfundível, assente na intuição explicativa do historiador, numa memória invejável e numa cultura imensa.
A história produzida por JRM evidencia um profundo conhecimento das instituições que regulam a vida social, política e económica das populações que estudou ou entreviu nas fontes.
Alguns desses magníficos trabalhos dispersos, sobre temas tão relevantes para a História Moderna quanto os Concelhos, a Inquisição e a fiscalidade no império do Brasil, encontram-se reunidos no título genérico de Miunças, em quatro volumes publicados recentemente na Imprensa da Universidade, editor que muito prezava e a que destinou outros projectos, já em fase manuscrita.
Comuns a todos os espaços que estudou são os Concelhos, enquanto unidades de base da organização política do Reino, mas também de integração social e económica. Com Joaquim Romero Magalhães, o municipalismo tomou um novo alento e voltou a ser um tema importante para os historiadores da Época Moderna e mesmo da contemporaneidade.

As qualidades e o reconhecimento de historiador que JRM rapidamente alcançou, não o impediram de abraçar funções que dele exigiram decisão equilibrada, bom-senso e algum realismo. Era um reformista que acreditava nas instituições e que nunca as deixou tal como as recebera.

Entre 1985 e 1989 foi Presidente do Conselho Directivo da FEUC, cargo que voltou a exercer entre 1991 e 1993. Foi ainda Presidente do Conselho Científico da mesma Faculdade entre 1989 e 1991.
Devemos ainda salientar o seu papel na coordenação do primeiro gabinete de mobilidade de estudantes no âmbito do programa Erasmus, criado na FEUC em meados de oitenta, cujos horizontes e práticas abriram caminho a uma internacionalização pioneira da Faculdade.

A sua familiaridade com os temas do Brasil-colónia, a colaboração extensa que teve em obras dirigidas por historiadores de renome internacional, beneficiou claramente do papel e das redes que construiu na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, onde assumiu o cargo de Comissário Geral entre 1999 e 2002.
Esta entidade comemorativa, dependente da Presidência do Conselho de Ministros, reforçou claramente o sentido da sua missão durante o comissariado de Joaquim Romero Magalhães.
Coube-lhe dirigir o programa das comemorações do Descobrimento do Brasil, procurando o envolvimento conjunto dos dois países e de outros Estados, nomeadamente das ex-colónias portuguesas.
A tarefa não era fácil. Os projetos comemoracionistas dirigidos por JRM foram um êxito reconhecido por diversos interlocutores nacionais e estrangeiros. Evidência que confirma as qualidades diplomáticas e a reputação académica que construíra, nomeadamente no meio académico e intelectual brasileiro.

A notabilidade da acção de Joaquim Romero Magalhães foi igualmente reconhecida por organismos públicos brasileiros e pelo Estado português, através de um conjunto significativo de distinções honoríficas:
Foi Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Brasil desde 1999.
Em 2000, recebeu o grau de Grande Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul, o mais alto agraciamento do Estado brasileiro a cidadãos estrangeiros.
Obteve ainda a medalha de mérito da Fundação Joaquim Nabuco e foi distinguido como Grande Benemérito do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro em 2001.
Em 2002, o Estado português reconheceu a dimensão da sua obra académica e cívica, concedendo-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, uma das ordens nacionais de maior prestígio.

No caminho trilhado como cidadão e historiador, JRM adiou muitas vezes a escrita de um livro, que acabou por ver a luz do dia no momento mais certo. Discorreu sobre a República em Vem aí a República, 1906-1910, dado à estampa em 2009 na Almedina. Sabemos do prazer que a escrita deste livro lhe deu.
O momento histórico da emergência das forças republicanas falava especialmente a Joaquim Romero Magalhães dadas as suas raízes familiares. O seu próprio modelo de cidadania, os valores republicanos que subscrevia, eram uma herança desse período intenso da vida nacional.
O conhecimento histórico e a afinidade cívica que JRM tinha sobre a I República e seus antecedentes, bem como a experiência que tivera na Comissão dos Descobrimentos, foram razões óbvias para a sua integração na Comissão de Projectos para a Comemoração do 1.o Centenário da República Portuguesa, em 2005, e na Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República, entre 2009 e 2011.

Nunca deixando de ser Professor, a sua reputação de Historiador e de Docente universitário conquistaram um alcance internacional.
JRM leccionou em prestigiadas Universidades estrangeiras.
Foi professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1989 e 1999); da Universidade de São Paulo (1991 e 1997) e da Yale University (2003).

Queridos Colegas, Amigos e Familiares do Professor JRM:
Por todas as razões, e sobretudo pelos nossos sentimentos de enorme admiração e afecto por JRM, creio que devemos lembrar sempre, no nosso trabalho quotidiano, hoje fragmentado em mil tarefas que pouco reflectem a Universidade que ajudou a construir, a obra ímpar e a ética de um grande historiador.
Tal como a história, a Vida é contingente; ganha-se e perde-se. Rapidamente.

Não, não vamos despedir-nos hoje, nem nunca, de Joaquim Romero Magalhães porque o seu exemplo vai perdurar e será por nós seguido e evocado na FEUC, na UC, em numerosas universidades portuguesas espalhadas pelo mundo fora, em Portugal, no Brasil, em Espanha, em França, nos EUA.
Recebi entre ontem e hoje, nestes dias esquisitos em que praticamos muitas convenções, inúmeras mensagens de colegas de diversas universidades, em especial de Lisboa e do Porto, do Brasil e de Espanha. Encontram-se muitas mensagens publicadas nas redes sociais e noutros lugares de escrita e todas as invocações vão no mesmo sentido: era o Mestre, sabia tudo de História, gostávamos muito dele, grande sentido de humor, mesmo quando mal-humorado; quero estar convosco e juntar-me a essa e a outras homenagens, disseram muitos colegas.

Há um claro denominador comum nessas mensagens quentes: o que mais importa é salientar o que JRM nos deixou, agradecer a sua amizade e o saber com que tanto nos enriqueceu.
Não sendo possível nomear todas essas afectuosas invocações, quero destacar o voto de pesar e a sentida homenagem que a Associação Portuguesa de História Económica e Social prestou, no respectivo site, a JRM, através do seu Presidente, Luciano Amaral. Foi salientado aí o seu enorme contributo de JRM como sócio fundador dessa imensa rede de historiadores e economistas criada por Vitorino Magalhães Godinho em 1980 e de cuja primeira Direcção JRM fez parte.

Devemos ao Professor Joaquim Romero Magalhães um elogio à Vida que connosco viveu, ao seu papel inestimável na FEUC, na Universidade de Coimbra, na Universidade Portuguesa, na sociedade portuguesa em geral.
Na cerimónia do doutoramento honoris causa que teve lugar na Universidade do Algarve a 12 de Dezembro, JRM mostrou toda a sua vitalidade intelectual e o brilho invulgar do seu pensamento, apoiado numa vastíssima cultura e num fino recorte literário.
Leu-nos um texto lindíssimo, onde está quase tudo o que melhor o define. Ficámos todos encantados de o ouvir e será essa uma das melhores memórias que connosco guardaremos. Não para a arquivar, mas para fazermos uso dela, dando conta do seu exemplo aos mais novos.

Recentemente também, em Novembro de 2018, a Câmara Municipal de Loulé comemorou os 25 anos da revista Al Ulya anunciando a criação de um prémio de estudos algarvios com o nome de JRM. Sentiu essa honra com justificado orgulho.

Estes últimos reconhecimentos públicos, de grande significado não apenas sentimental, acabaram por religar as diversas escalas do trabalho historiográfico de JRM e da sua própria vida.
JRM era uma grande personalidade académica que alcançou um justíssimo reconhecimento público.
No plano cívico, era um homem interveniente e comprometido com o socialismo democrático e com a ética republicana; acreditava muito na construção europeia e nas suas instituições, inclusivamente na construção paulatina de uma Europa federal.
Acreditava no reformismo, na Razão e nas Instituições democráticas. Tinha uma personalidade emotiva, desassombrada e sempre comprometida com a causa pública. Vamos ter muitas, muitas saudades dele.

Sabemos todos que gostava muito de Miguel Torga e de José Régio, de Eça e de Aquilino. Mas é do Cancioneiro de Pessoa que lhe quero deixar, em nome de todos nós aqui presentes e de inúmeros amigos que não puderam estar aqui, este Poema:

A morte chega cedo,
Pois breve é toda a vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

F. Pessoa, Cancioneiro


Muito obrigado.

Coimbra, 26 de Dezembro de 2018
Álvaro Garrido


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

DESAFIOS DO MAR PORTUGUÊS (SEMINÁRIO) - O BACALHAU: HISTÓRIA E FUTURO

Nos próximos dias 21 e 22 de Outubro no Museu Marítimo de Ílhavo, realiza-se a 5a edição do seminário Desafios do Mar Português.

Pode ler-se na nota de abertura deste seminário:

A 5.a edição do Seminário Desafios do Mar Português, agendada para 21 e 22 de outubro, será dedicada ao tema “O Bacalhau: História e Futuro”, tendo como parceiro a Associação dos Industriais de Bacalhau.

O tema em discussão na edição deste ano tem por objetivo a reflexão sobre um sector da atividade económica nacional de relevo como é a pesca do bacalhau, nas suas dimensões de captura, transformação, comercialização e sua importância estratégica, sem deixar de fomentar as observações em torno de temas histórico-culturais, onde se tem destacado o contributo do Museu Marítimo de Ílhavo.

O programa do seminário pode ser consultado abaixo:

PROGRAMA

21 OUTUBRO, SEXTA-FEIRA

09h30 Sessão de abertura
Ana Paula Vitorino, Ministra do Mar (a confirmar)
Fernando Fidalgo Caçoilo, Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo

10h30 PAINEL I - A Pesca e o Património Biológico
Pescadores e homens do bacalhau: um retrato antropológico
Luís Martins (Antropólogo)

O trabalho a bordo e a gestão da pesca longínqua
José Paulo Vieira da Silva (Capitão da Marinha Mercante)

O bacalhau como recurso biológico: sustentabilidade e biopolítica
Carlos Sousa Reis (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)

debate

pausa para café

11h45 PAINEL II - A Indústria e o Negócio
A economia e política do bacalhau: regulação e atividade económica no século XX
Álvaro Garrido (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Museu Marítimo de Ílhavo)

Política de pescas e economia do bacalhau na Espanha contemporânea
Fernando González Laxe (Universidade da Corunha)

Das secas à indústria e técnicas modernas de transformação do bacalhau
Fernando Chagas Duarte (Direção Geral das Pescas)

Desafios de gestão da atual indústria do bacalhau
Aníbal Paião (Pascoal & Filhos, S.A)

debate

pausa para almoço

15h00 PAINEL III - Mercados e Consumos
O consumo de bacalhau na Península ibérica: uma perspetiva histórica
Jesús Giraldez Rivero (Universidade de Santiago de Compostela)

A indústria de pesca e o negócio exportador de bacalhau da Islândia
Björgvin Þór Björgvinsson (Project Manager da Food – Fisheries and Agriculture and Iceland Responsible Fisheries)

As exportações de bacalhau e os mercados da lusofonia
Ricardo Alves (Riberalves, S.A.)

O Bacalhau, a inovação de produto e a cozinha contemporânea
Ricardo Costa (Chef Executivo no Hotel The Yeatman, Porto)

debate

pausa para café

17h15 Lançamento do n.o 4 da “ARGOS - Revista do Museu Marítimo de Ílhavo
Degustação de bacalhau com espumante da Bairrada

21h30 Espetáculo de teatro “O Lugre 2016”, encenado por Graeme Pulleyn, com base na peça de Bernardo Santareno

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22 OUTUBRO, SÁBADO

09h30 PAINEL IV - Memória e Identidade – o bacalhau como património
Bacalhau, cultura popular e identidade nacional
José Manuel Sobral (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa)

Património do bacalhau em Euskadi
Rosa García-Orellán (Universidade Pública de Navarra)

O Gil Eannes onde naveguei e assisti as tripulações da frota
António Trabulo (Escritor e ex-Médico no Navio Hospital Gil Eannes)

Os navios da frota bacalhoeira
António Manuel Gonçalves (Academia de Marinha)

debate

pausa para café

11h30 Conferência de Encerramento
História e memória da “White Fleet” na Terra Nova
Jean-Pierre Andrieux (Escritor)

12h00 Sessão de encerramento

José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas (a confirmar)

12h15 Visita Especial ao Aquário dos Bacalhaus do Museu Marítimo de Ílhavo


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INSCRIÇÕES ATÉ 19 DE OUTUBRO DE 2016
ciemar.mmi@cm-ilhavo.pt
com os seguintes dados: nome, profissão, instituição e contactos

Um evento que merece a melhor divulgação.

A.A.B.M.

domingo, 17 de abril de 2016

HISTÓRIAS DO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO.


Na próxima segunda e terça-feira, 18 e 19 de Abril de 2016, o Instituto de História Contemporânea, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, realiza o seu encontro anual dedicado ao tema: Futuros da História.

No momento em que se reúnem os elementos do instituto realiza-se um colóquio com os investigadores do mesmo para analisar um determinado problema.

Pode ler-se na nota de divulgação do evento:
Promovido pelo IHC no quadro do seu plano estratégico, o encontro “Futuros da História” tem por finalidade estimular o questionamento de práticas de investigação já consolidadas no domínio da História, bem como o debate acerca de novas tendências de pesquisa. De realização anual, na sua primeira edição, o encontro teve como tema “Os Sujeitos da História”. Nesta segunda edição, organizamos um debate sobre as diferentes análises e interpretações a que a história dos séculos XIX e XX português tem vindo a ser sujeita. De que modo a questão de género e o fim dos impérios europeus se implicam e podem implicar-se na investigação historiográfica? De que modo historiadores com diferente formação intelectual – com diferentes hábitos metodológicos, com 
diferentes percursos académicos ou com diferentes inclinações político-ideológicas – olham para a história dos movimentos políticos do Portugal Contemporâneo? Em que medida as variações na forma de problematizarmos a questão do poder – do status weberiano à governamentalidade foucauldiana – poderão repercutir-se nas análises que têm sido elaboradas? E, finalmente, perguntamos também de que maneira é que investigadores provenientes de outras tradições disciplinares – da antropologia à economia, passando pela sociologia – observam aquele 
mesmo período. 

»»» 18 de Abril 
9h45 | Abertura
por José Neves (coordenador do encontro) e Pedro Aires de Oliveira (presidente da direcção do IHC) 
10h-13h| Mesa 1 | Novas Fronteiras
História das mulheres e de género em Portugal desde o início do século XXI: linhas de investigação e impacto historiográfico, por IRENE VAQUINHAS (FLUC/CHSC) 
A cronologia colonial como problema, por NUNO DOMINGOS (ICS-UL) 
A natureza na história: perspectivas cruzadas sobre a história ambiental do colonialismo, por JOSÉ FERREIRA (ICS-UL e CHAM-FCSH-NOVA/UAç)) 
Moderação de Fátima Nunes (IHC-CEHFCi, Universidade de Évora) 
14h30-18h | Mesa 2 | História e Política 
Movimento real e movimento organizado. A historiografia portuguesa perante o protesto popular no longo século XIX, por DIEGO PALACIOS CEREZALES (Universidade de Stirling, Reino Unido) 
O regresso dos filhos pródigos de Oliveira Martins, por PAULO JORGE FERNANDES (FCSH-UNL, IHC-UNL) 
Liberalismo do indivíduo e ordem social, por CRISTINA NOGUEIRA DA SILVA (FD-UNL, Cedis)
Fernando Rosas e o Estado Novo: a trajectória de uma historiografia, por VICTOR PEREIRA (Universidade de Pau, França) 
Moderação de Luís Trindade (IHC-FCSH/UNL, Birkbeck College) 
18h30 | "Quem faz a história – Ensaios sobre o Portugal Contemporâneo".
Lançamento do livro publicado pela Tinta-da-china, coordenado por José Neves e com textos de Joana Estorninho de Almeida, Maria‑Benedita Basto, Ruy Blanes, Miguel Cardina, Diogo Duarte, Fátima Sá e Melo Ferreira, Cláudia Figueiredo, Steven Forti, Joana Cunha Leal, Emília Margarida Marques, Carlos Maurício, Tiago Pires Marques, Bruno Monteiro, Lais Pereira, Victor Pereira, Virgílio Borges Pereira, Pedro Ramos Pinto, Tiago Ribeiro, Ricardo Roque, Cristina Nogueira da Silva, Elisa Lopes da Silva, Marta Silva e Tomás Vallera. O livro será apresentado por António Sampaio da Nóvoa (Universidade de Lisboa) e Lurdes Rosa (Universidade Nova de Lisboa).


»»» 19 de Abril
10h-13h | Mesa 3 | Deslocalizar o Poder
Sociologia, História e o Portugal Contemporâneo em Hermínio Martins, por JOSÉ LUÍS GARCIA (ULisboa, Instituto de Ciências Sociais) 
As deslocações da História Contemporânea em Fernando Catroga e a modernidade portuguesa como objecto historiográfico, por FÁTIMA MOURA FERREIRA e FRANCISCO AZEVEDO MENDES (LAB2PT/Universidade do Minho) 
A historiografia como instrumento para uma análise crítica da escola moderna: um olhar sobre quatro itinerários de pesquisa (séculos XVIII a XX), por TOMÁS VALLERA (IE-UL)
Moderação de Frederico Ágoas (CICS.NOVA/ FCSH)

14h30-17h30 | Mesa 4 | História e Ciências Sociais 
Contemporaneidades imperfeitas: modernização e atraso de Portugal vistos pela História Económica, por ÁLVARO GARRIDO (FEUC, CEIS20) 
"Portugal, questão que eu tenho comigo mesmo": os antropólogos e o Portugal contemporâneo, por ROBERT ROWLAND (CRIA, ISCTE-IUL) 
A sociologia histórica em Portugal: depoimento, crítica e história, por DIOGO RAMADA CURTO (FCSH, IPRI-UNL)
Moderação de Frédéric Vidal (CRIA/ISCTE-IUL)
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Resumos das comunicações e notas biográficas dos conferencistas: 
HISTÓRIA DAS MULHERES E DE GÉNERO EM PORTUGAL DESDE O INÍCIO DO SÉCULO 
XXI: LINHAS DE INVESTIGAÇÃO E IMPACTO HISTORIOGRÁFICO

Nesta comunicação traça-se o desenvolvimento dos estudos das mulheres e de género em Portugal, desde o início do século XXI à actualidade, identificando-se o seu contributo para a historiografia recente e para a renovação da ciência histórica. Tomando como elemento de análise a investigação produzida em Portugal desde o ano de 2000, captada, sobretudo, a partir de bases de dados de repositórios científicos, apontam-se as principais linhas de pesquisa, os pressupostos 
epistemológicos em que assentam e enunciam-se os seus condicionalismos e as áreas temáticas pouco exploradas e/ou em construção. Finalmente, destaca-se o dinamismo destes campos de estudo, o modo como têm influenciado a emergência de novas áreas do conhecimento científico e conduzido ao respeito pela diversidade cultural e pela democratização da cultura
Irene Vaquinhas é professora catedrática de História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É Coordenadora Científica do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra, unidade I&D da FCT. Publicou, entre outros, os seguintes trabalhos: Violência, justiça e sociedade rural. Os campos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Penacova de 1858 a 1918, Porto, Afrontamento, 1996; "Senhoras e mulheres" na sociedade portuguesa do século XIX, 2a ed., Lisboa, Colibri, 2011; Nem Gatas Borralheiras, Nem Bonecas de Luxo. As Mulheres Portuguesas Sob o Olhar da História (Séculos XIX-XX), Lisboa, Horizonte, 2005; Nome de Código 33856. Os “jogos de fortuna ou azar” em Portugal entre a repressão e a tolerância (De finais do século XIX a 1927), Lisboa, Horizonte, 2006; O Casino da Figueira. Sua evolução histórica desde o Teatro-Circo à actualidade, Coimbra, Palimage, 2012; Saber perdurar. Grandes linhas de evolução do Casino da Figueira (1884-1978), Figueira da Foz, Casino da Figueira, 2015. Colaborou na História de Portugal, Dir. de José Mattoso, V vol. - O Liberalismo (1807-1890), Lisboa, Círculo de Leitores, 1993. Fez a coordenação científica do vol. III da obra História da Vida Privada em Portugal, A Época Contemporânea, dirigida por José Mattoso (Lisboa, 
Círculo de Leitores, 2011), sendo também autora de diversos capítulos.
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A CRONOLOGIA COLONIAL COMO PROBLEMA
Esta apresentação procura pensar de que modo a cronologia do colonialismo, dotada de problemas e abordagens próprias, se relacionou com outras formas de representar a história do século XX português.
Nuno Domingos é investigador do ICS-UL. Organizou, com Elsa Peralta, Cidade e Império. Dinâmicas coloniais e reconfigurações pós-coloniais (Lisboa: Edições 70, 2013) e publicou Futebol e Colonialismo. Corpo e Cultura Popular em Moçambique (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 
2012). 

A NATUREZA NA HISTÓRIA: PERSPECTIVAS CRUZADAS SOBRE A HISTÓRIA AMBIENTAL DO COLONIALISMO

Nas últimas décadas a História Ambiental tem-se revelado uma das correntes mais dinâmicas na historiografia internacional, colocando a relação entre as sociedades humanas e o resto da natureza no centro da análise histórica. Ao estender o seu olhar para abranger novos sujeitos 
da história, abordagens como as da História Ambiental são parte integrante de um panorama mais alargado de novas interpretações – que vão da História da Ciência e da Tecnologia, à Ecologia Política ou ao Material Turn – que têm questionado a dicotomia natureza/cultura e 
proposto narrativas históricas em que os actores humanos e não-humanos são colocados em diálogo constante.
Esta comunicação procura examinar algumas das possibilidades e dos limites destas propostas, tomando como ponto de partida os trabalhos dedicados à História Ambiental do colonialismo, principalmente no caso do império britânico, e traçando uma genealogia das suas diferentes 
perspectivas e dos seus debates internos. Por fim, procurarei desenvolver alguns pontos da minha própria investigação sobre as relações entre natureza e colonialismo em Goa, de forma a debater os caminhos destas abordagens no âmbito da historiografia portuguesa.
José Miguel Moura Ferreira é licenciado em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Mestre em História Moderna e dos Descobrimentos pela mesma faculdade. Bolseiro de doutoramento do programa «PIUDHist. História: Continuidade e Mudança num Mundo Global» (SFRH/BD/52283/2013), no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), e investigador no Centro de História d’Aquém e d’Além Mar (CHAM-FCSH-NOVA/UAç). 

MOVIMENTO REAL E MOVIMENTO ORGANIZADO. A HISTORIOGRAFIA PORTUGUESA PERANTE O PROTESTO POPULAR NO LONGO SÉCULO XIX
Durante muito tempo a história do movimento social identificou-se com a história do movimento operário. Os historiadores procuravam os momentos em que os operários desenvolveram a sua identidade de classe, organizaram sindicatos e partidos autónomos e abraçaram ideologias 
avançadas. Através de um diálogo com a obra de Manuel Villaverde Cabral, Fátima de Sá e Melo Ferreira e José Tengarrinha, esta comunicação analisa como a historiografia portuguesa saiu desse paradigma e, participando da renovação historiográfica internacional, passou a encarar as formas não ideologicamente enquadradas de protesto popular como uma dimensão autónoma e rica para a análise da vida política do século XIX.
Diego Palacios Cerezales é professor de História da Europa na Universidade de Stirling. Trabalha sobre os movimentos sociais e o Estado em Espanha e em Portugal durante os séculos XIX e XX. É autor dos livros «Estranhos Corpos Políticos. Protesto e Mobilização no Portugal do Século XIX» (Lisboa, Unipop, 2014), «Portugal à Coronhada», (Lisboa, Tinta da China, 2012) e «O Poder Caiu na Rua. 1974-1975» (Lisboa, ICS, 2003).

LIBERALISMO DO INDIVÍDUO E ORDEM SOCIAL 
O século XIX foi o momento da recepção e adesão do liberalismo em Portugal, bem como da noção correspondente de uma ordem fundada na liberdade e nos direitos do indivíduo. Essa ordem envolvia processos contraditórios de construção da liberdade e de “libertação” de ordens 
normativas antigas. Mas houve zonas da existência onde a opção pareceu ser a da não intervenção mas para deixar atuar (mesmo que transitoriamente), a ordem antiga, paternalista, a ordem das velhas pertenças e obediências, da natureza e da história. O sentido a minha intervenção será o indagar sobre o que está feito e o que se pode fazer para caracterizar melhor esta última dimensão do liberalismo português.
Cristina Nogueira da Silva é Professora na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Cedis. As suas principais áreas de investigação são, atualmente, a história intelectual do liberalismo, da cidadania e do estatuto jurídico dos territórios e populações do ultramar português nos séculos XIX e XX, temas sobre o qual publicou o livro Constitucionalismo e Império. A cidadania no Ultramar português (Lisboa, Almedina, 2009), e vários textos em 
publicações nacionais e internacionais 
O REGRESSO DOS FILHOS PRÓDIGOS DE OLIVEIRA MARTINS

A publicação de O Poder e o Povo – a Revolução de 1910, em 1976, a versão editada da tese de doutoramento defendida em Oxford dois anos antes por Vasco Pulido Valente, representou um momento de ruptura na moderna historiografia portuguesa. O impacto causado por esta obra 
garantiu quase imediatamente ao seu autor um lugar de destaque na comunidade académica nacional. Antecipando-se a François Furet ou a Simon Schama, propunha-se introduzir nos meios domésticos algumas das tendências metodológicas de inspiração anglo-saxónica na linha 
interpretativa de autores como a norte-americana Gertrude Himmelfarb. Ao aproximar-se da visão de uma “history from bellow”, cultivada por Richard Cobb, o autor surpreendeu ao recusar de forma tão polémica como inovadora uma visão marxista da História, então maioritária na 
Universidade portuguesa, na altura ainda submersa pelas correntes estruturalistas inspiradas na sempre muito celebrada “Escola dos Annales”. Ao mesmo tempo que se recuperava a centralidade do “Político” contestava-se o predomínio do “Económico”. A perspectiva adoptada afastava-se do campo de estudo das Ciências Sociais e aproximava-se do domínio literário. A partir deste ângulo polémico, a História voltou a 
centrar-se sobre as pessoas, sobre a acção do indivíduo, sobre o 
singular, sobre os actores enquanto intérpretes únicos da mudança 
histórica. Incidindo sobre a dimensão narrativa da disciplina, ao mesmo 
tempo menos problematizante dos acontecimentos, Vasco Pulido Valente 
seria o precursor em Portugal de uma variante da escrita da História. De 
forma provocadora, pode-se mesmo afirmar que seria o criador de uma 
verdadeira “Escola Historiográfica”, na linha do proposto por Oliveira 
Martins ainda no século XIX, sendo a genealogia cultivada por figuras 
como Maria Filomena Mónica, Maria de Fátima Bonifácio, Rui Ramos ou José 
Miguel Sardica, autores que a seu modo se assumiriam como continuadores 
e devedores do trabalho pioneiro de Vasco Pulido Valente. Esta 
comunicação pretende discutir os pressupostos em que assentou a 
concepção desta corrente, discutir o seu alcance e comentar a sua 
validade enquanto projecto historiográfico coerente.
Paulo Jorge Fernandes é Investigador Integrado do Instituto de História 
Contemporânea e Professor Auxiliar do Departamento de História da 
FCSH-NOVA onde tem leccionado História de Portugal Contemporâneo (Século 
XIX), História do Brasil Contemporâneo, História de Espanha, História 
Comparada do Colonialismo Europeu no Século XIX e História Política do 
Liberalismo em Portugal. Doutorado em História Institucional e Política 
Contemporânea pela FCSH-NOVA (2007). Publicou mais recentemente: Mariano 
Cirilo de Carvalho: o «Poder Oculto» do liberalismo português, 1876-1892 
(2010) e Mouzinho de Albuquerque: um soldado ao serviço do Império 
(2010). 

FERNANDO ROSAS E O ESTADO NOVO: A TRAJETÓRIA DE UMA HISTORIOGRAFIA 
Em 1999, num artigo publicado numa revista francesa, Fernando Rosas 
propunha como fio condutor da historiografia do regime salazarista a « 
história das relações do Estado Novo com a modernidade económica e 
social, com a modernidade política e sócio-cultural ». Uma problemática 
claramente inspirada no modelo da revista dos Annales dos anos 1950-1970 
: o económico e o social antecedem o político e o sócio-cultural. O 
artigo acabava com um apelo à «história comparada» para superar «os 
limites autárquicos nos quais o Estado Novo pretendeu fechar as 
realidades do país». No entanto, como se nota no seu livro Salazar e o 
poder. A arte de saber durar, a obra de Fernando Rosas foi 
progressivamente dando maior relevo ao político e ao cultural, em 
detrimento do económico-social e das relações internacionais. Como se 
pode compreender a evolução deste olhar?
Victor Pereira é doutorado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris 
e é professor auxiliar em história Contemporânea da Universidade de Pau 
et des Pays de l’Adour. É também investigador do Instituto de História 
Contemporânea. 
SOCIOLOGIA, HISTÓRIA E O PORTUGAL CONTEMPORÂNEO EM HERMÍNIO MARTINS 
Hermínio Martins, falecido no Verão do ano passado (Agosto de 2015), 
para além dos seus ensaios em filosofia da ciência, sociologia da 
tecnologia e teoria social, deixa como legado vários estudos sobre o 
Portugal Contemporâneo, entre eles um inédito de grande escopo. A 
comunicação debruça-se sobre esse acervo de “sociologia histórica” a 
partir da sua conceptualização da relação tempo e teoria e de conceitos 
como “nacionalismo metodológico”, “cesurismo” e “pré-formação”.
José Luís Garcia é doutor em Sociologia pela Universidade de Lisboa e 
Investigador Principal do quadro do Instituto de Ciências Sociais da 
Universidade de Lisboa (ICS-UL).Tem leccionado em várias universidades 
portuguesas e estrangeiras, entre as quais se encontram a ULisboa, USP, 
UNESP e o IPL. A sua bibliografia mais recente inclui La Contribution en 
ligne: Pratiques participatives à l’ère du capitalisme informationnel 
(co-editor com S. Proulx e L.Heaton), Quebec: Presses de l’Université du 
Québec, 2014; Jacques Ellul and the Technological Society in the 21st 
Century (co-editor com H. M. Jerónimo e C. Mitcham), Nova Iorque, 
Springer, 2013; Estudos sobre os jornalistas portugueses: Metamorfoses e 
encruzilhadas no limiar do século XXI, Lisboa, Imprensa de Ciências 
Sociais, 2009, Razão, Tempo e Tecnologia: Estudos em Homenagem a 
Hermínio Martins (co-editor com M. V. Cabral e H.M. Jerónimo), Lisboa, 
Imprensa de Ciências Sociais, 2006 e Dilemas da Civilização Tecnológica 
(co-editor com H. Martins), Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais. É 
ainda autor de dezenas de artigos e capítulos de livros e colaborador 
das revistas Journal of Risk Research, Análise Social, Revista Española 
de Sociologia, Revista Iberoamericana de Ciência, Tecnologia y Sociedad, 
Scientiae Studia: Revista Latino-Americana de Filosofia e História da 
Ciência, entre outras.

AS DESLOCAÇÕES DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA EM FERNANDO CATROGA E A 
MODERNIDADE PORTUGUESA COMO OBJECTO HISTORIOGRÁFICO 
Propomos aqui explorar a investigação de Fernando Catroga sobre o 
Portugal contemporâneo em dois planos: o das histórias das ideologias 
modernas e o das teorias da história. Entre as opções abertas pela 
operação catroguiana interessa-nos destacar a investida lançada no 
rasgar de horizontes mais compreensivos sobre a história intelectual e a 
história política. No horizonte de deteção desta galáxia interpretativa, 
atenderemos às intertextualidades e afinidades eletivas que mobilizam os 
caminhos percorridos até agora pelo autor, numa constelação suportada 
por focos intensos e cosmopolitas de problematização. Atenderemos 
sobretudo a três: a disseminação historicista e a memória da morte em 
Portugal; a hermenêutica da história e a heteronímia da teoria; a 
política respublicana portuguesa e a reatualização histórica dos afetos 
pátrios.
Fátima Moura Ferreira é Professora auxiliar e atual diretora do 
Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da 
Universidade do Minho, investigadora do Laboratório de Paisagens, 
Património e Território (Lab2PT). Os seus interesses de investigação 
movem-se em áreas de interseção do político e do ideológico. Entre os 
seus trabalhos mais recentes, saliente-se a coordenação conjunta dos 
livros “Organizar o País de alto a baixo: expressões políticas e 
políticas de ação na construção corporativa do Estado Novo” e “A 
Conquista Social do Território. arquitetura e corporativismo no Estado 
Novo” (ambos no prelo), no quadro do Projeto Space and coordination: 
planning, agencies and corporatism in Portuguese State Experience. A 
multi-scaling analysis (Lab2PT), e a coordenação da obra História da 
Universidade do Minho 1973-1974/2014 (Braga: Fundação Carlos Lloyd 
Braga, 2014).
Francisco Mendes é Professor auxiliar do Departamento de História do 
Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, onde ensina na 
área da teoria e metodologia da história. Investigador integrado do 
Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), e 
investigador colaborador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais 
(CICS.Nova.UMinho).

A HISTORIOGRAFIA COMO INSTRUMENTO PARA UMA ANÁLISE CRÍTICA DA ESCOLA 
MODERNA: UM OLHAR SOBRE QUATRO ITINERÁRIOS DE PESQUISA (SÉCULOS XVIII A 
XX) 
Tomando como exemplo trabalhos produzidos no âmbito da História da 
Educação por Jorge Ramos do Ó, Catarina Martins, Helena Cabeleira, Ana 
Luísa Paz e Tomás Vallera (IE-UL), propõe-se a identificação de um campo 
de estudos que, tendo como alicerce teórico a literatura 
pós-estruturalista e por objecto comum os processos de constituição do 
sujeito escolarizado, procura capturar a permanência histórica e os 
inquestionados da gramática escolar a partir de perspectivas diferentes. 
Desde o discurso pedagógico que acompanhou o estabelecimento do ensino 
liceal nos séculos XIX e XX à ideia de génio como tecnologia de governo 
no âmbito das aprendizagens artísticas, desde a reflexão de carácter 
"policial" sobre a educação dos marginais no século das Luzes à 
formulação do currículo moderno; na base destas investigações 
encontramos o princípio de que, pela análise do passado, se constitui 
uma história do presente.
Tomás Vallera é doutorando em Educação, variante de História da 
Educação, no IE-UL. Tem estudado a relação entre o conceito setecentista 
de "polícia" como ciência de governo e os fundamentos do sistema escolar 
moderno, tomando a Intendência-Geral da Polícia (1760-1833) e a Casa Pia 
de Lisboa (1780 -) como principais objectos de pesquisa. 
CONTEMPORANEIDADES IMPERFEITAS: MODERNIZAÇÃO E ATRASO DE PORTUGAL 
VISTOS PELA HISTÓRIA ECONÓMICA

Álvaro Garrido é Professor com Agregação da Faculdade de Economia da 
Universidade de Coimbra, onde coordena o grupo de História Económica e 
Social. Investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 
XX da Universidade de Coimbra (CEIS20). O seu trabalho incide nas áreas 
da História Económica e das Instituições na época contemporânea. Os 
temas do corporativismo, da economia marítima e da economia social são 
centrais no seu projecto de investigação. Recentemente publicou, com 
Fernando Rosas, Corporativismo, Fascismos, Estado Novo (Almedina, 2012); 
Cooperação e Solidariedade. Uma História da Economia Social 
(Tinta-da-China, 2016). Publicará em breve Queremos uma Economia Nova! O 
Corporativismo Salazarista (Temas & Debates). Prepara um projecto sobre 
história das políticas públicas do mar em Portugal.

"PORTUGAL, QUESTÃO QUE EU TENHO COMIGO MESMO": OS ANTROPÓLOGOS E O 
PORTUGAL CONTEMPORÂNEO
A tese de doutoramento de José Cutileiro, defendida em Oxford em 1968, 
foi inovadora, quer em relação à tradição antropológica britânica, quer 
em relação à etnologia portuguesa que então se praticava. Em certa 
medida, foi uma antecipação da antropologia renovada que viria a 
desenvolver-se em Portugal nas décadas seguintes. Esta comunicação irá 
examinar alguns dos estudos sobre Portugal efectuados após 1974, numa 
tentativa de esclarecer os eventuais traços distintivos do processo de 
construção do objecto "Portugal" pelos antropólogos contemporâneos.
Robert Rowland foi Professor de Antropologia no ISCTE-IUL (1979-2010) e 
Professor de História Social Europeia no Instituto Universitário 
Europeu, de Florença (1987-95). Inicialmente, efectuou trabalho de campo 
no Nordeste brasileiro (1965) e na Itália meridional (1967-70), tendo-se 
dedicado desde então a variados temas de antropologia histórica, 
demografia e história da família. 
A SOCIOLOGIA HISTÓRICA EM PORTUGAL: DEPOIMENTO, CRÍTICA E HISTÓRIA 
O ensino e a investigação da sociologia histórica, em Portugal, foi uma 
experiência tentada no Departamento de Sociologia da FCSH-UNL, por 
iniciativa de Vitorino Magalhães Godinho e de um pequeno grupo dos seus 
discípulos, no último quartel do século XX. Esse projecto foi concebido 
e vivido como um combate militante destinado a impor uma concepção 
aberta da história ao conjunto das ciências sociais, da economia à 
sociologia. O objectivo deste exercício é relativamente modesto: 
trata-se de submeter algumas reflexões sobre o sentido desse projecto. 
Através de tais reflexões, algumas delas de extrema dureza por 
implicarem críticas e denúncias, será possível perceber melhor e fazer 
compreender aos outros o sentido desse mesmo projecto, que alcançou 
alguns resultados, mas que, a ser julgado pelos critérios comuns da 
institucionalização académica, se saldou aparentemente num fracasso.
Diogo Ramada Curto ensina desde 1981 na FCSH-UNL, onde coordena o 
Doutoramento de Estudos sobre a Globalização. Co-dirige, com Nuno 
Domingos e Miguel Jerónimo, a colecção "História e Sociedade" das 
Edições 70. Publicou recentemente História política da cultura escrita: 
Estudos e notas críticas (Verbo, 2015).

Uma interessante iniciativa que merece a melhor atenção dos investigadores e a maior divulgação entre os que se interessam pela História Contemporânea.

A.A.B.M.
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