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sexta-feira, 24 de julho de 2015

A RAZÃO. SEMANÁRIO REPUBLICANO - PARTE II


Teve o periódico figueirense, "A Razão", como primeiro editor José Maria Roque dos Reis [era oficial-encadernador e já antes (21 de Janeiro de 1900) tinha sido editor do jornal bi-semanal “O Figueirense”, na sua 2a série], vulto republicano e católico, pertencente ao Centro Republicano José Falcão.

Acontece que ao no4 do jornal (19/02/1904) publica-se um artigo [sob o título “Verdade”] relativo à substituição do seu editor, José Maria Roque dos Reis [JMRR]. Nesse artigo [assinado por Eduardo Fernandes, José Soares Cornelo, José Augusto Germano Alves, Custodio de Moura, Joaquim Gaspar Martins, João Guerra Duarte e António da Silva], é publicada uma carta – transcrita d’O Século e assinada pelo seu correspondente na Figueira da Foz -, onde [JMRR] diz que “o Centro José Falcão faltou aos compromissos contraídos” com ele, enquanto editor do semanário “A Razão”.

O jornal, como replica à notícia produzida, considera, no mesmo artigo, que se trata de uma calúnia de JMRR e publica um “Desagravo” à notícia saída n’O Século.
Consideram que JMRRse ofereceu muito espontaneamente para editar o jornal” porque “nenhum medo tinha”, pelo que pediu um cargo no periódico. Como estava decidido que não figurasse nenhum nome de sócio do Centro no semanário (a não ser o proprietário, que lhes parecia ser de todo necessário legalmente), foi proposto que JMRR figurasse, então, como proprietário “in nomine”, o que foi aprovado pelos associados do Centro Republicano. Como se constatou – continuam - não se verificar a questão legal da “declaração de propriedade” suprimiu-se o cargo, ficando então JMRR como editor.

Ainda na mesma reunião, debateu-se se se devia “abordar assuntos religiosos”, entendendo-se que tal não era aceitável por “sistema”, mas que o assunto não devia ser “descurado”. Ora – continua a mesma nota ao artigo que estamos a citar, publicada ao no 4, 19/02/1904 – no número inicial do semanário foi apresentado uma “engraçada e curiosa” transcrição de “Os Mandamentos dos Padres”, que (citamos) “excitou o zelo catholico do snr” JMRR. Este último envia uma carta à direcção sobre o teor do artigo publicado, dizendo que se o “tivesse visto, não consentiria na sua publicação”.
Assim sendo JMRR abandona os quadros do jornal e ao no 4, surge já como Editor-Responsável, Amadeu Sanches Barreto [Curiosamente, ainda nas replicas ao assunto do “Desagravo”, atrás referido, no no 5 do semanário (25 Fevereiro 1904) há uma nota, intitulada “Pela última vez” sobre o caso que levou á substituição de JMRR, sob a pena de Gustaf Adolf Bergstrom, e na sequência de uma notícia saída no “Povo Figueirense”, que reza assim: “o Snr. Roque dos Reis, em carta que o Povo Figueirense gostosamente publica, diz ter pena de um ‘melro negro’ não assinar o desagravo. Não sendo meu intuito discutir o valor do inofensivo epíteto, declaro ao snr Roque que quando quiser estou às suas ordens …”].



O jornalista Amadeu Sanches Barreto, o novo editor, natural de Vila Real mas “filho adoptivo da Figueira” (como afirmava) era um “velho” republicano, tendo pertencido ao grupo carbonário que se estava a organizar na Figueira da Foz [cf. carta de Amadeu S. Barreto a Bernardino Machado, 29/05/1911], era amigo pessoal do dr. Afonso Costa e um indefectível admirador do dr. Bernardino Machado, viveu na Figueira da Foz, em Coimbra e em 1914 está na administração do concelho da Baía dos Tigres (Angola). Muito tempo antes tinha sido o responsável redactorial d’O Povo da Figueira [jornal fundado pela comissão republicana municipal da Figueira da Foz, em 1895], e, mais tarde, também editou e colaborou n’O Figueirense (II série), bi-semanário (1900-1902; curiosamente esta série era editada por José Maria Roque dos Reis) que de algum modo vinha em substituição daquele.

Diga-se que Amadeu Sanches Barreto foi proprietário do jornal “Voz do Tua” (8 de Agosto de 1886, Mirandela), publicou [Fevereiro de 1897] o bi-semanário democrático e republicano “Aurora da Liberdade” de Vila Real, comemorativo do 31 de Janeiro e é director do bissemanário dedicado ao professorado, “O Ensino”, publicado em Coimbra, em 1903. Como curiosidade refira-se que Amadeu Sanches Barreto publica o estimado e raro livro do poeta de Alte, Cândido Guerreiro, “Sonetos” (Coimbra, 1904, p. 67).
A partir do no 8, no cabeçalho do semanário aparece José Soares Coronel como editor, mantendo-se até ao seu fim

Os artigos publicados são, no fundamental, de interesse local, mas bem curiosos, caso da “Homenagem aos Vencidos do 31 de Janeiro” (no2) que relata a comemoração dessa data na Figueira da Foz pela gente republicana; e o comício promovido pelo Centro Eleitoral Republicano José Falcão no Teatro Chalet [presidido por Amadeu Sanches Barreto, em substituição do dr. Bernardino Machado, impossibilitado por motivo de doença; foi lida inúmeros telegramas, do dr. Afonso Costa, António Luís Gomes, Pádua Correia, Malva do Vale, França Borges, tendo participado e usado da palavra republicanos de vulto, como Fausto de Quadros, Adriano do Nascimento, Joaquim Cortesão] e a “grandiosa” manifestação que se lhe seguiu (no7, 10 de Março 1904).

[Algumas assinaturas] Colaboração: “A. Roinuj”, “Aber”, [Manuel Augusto] Cardoso Marta, Artur de Oliveira Santos, Artur Ribeiro, Cândido Guerreiro, Constantino Gomes Tomé, Cyro Ferreira, Domingos Albariño, Duarte Lima, Fausto de Quadros, Gustavo Adolf Bergstrom, “Index”, J. Astoc, João de Barros, Joaquim Cortesão, José Augusto de Medeiros, Matias d’Alverca, Maurício Aguas Pinto, “Mortsrgreb”, “Neto” (António Fernandes Silva?), “Phaon”, Tavares de Almeida, Tomás da Fonseca, Reynaldo de Carvalho, Simões Ferreira.

J.M.M.

A RAZÃO. SEMANÁRIO REPUBLICANO - PARTE I


A RAZÃO. Semanário Republicano [ao no 9, Órgão do Centro Republicano José Falcão]. Ano I, no I (27 Janeiro 1904) ao no XVII (22 Maio 1904); Administração e Redacção: Rua do Estendal, 33, 3o [depois, ao no7, Rua de Santo António, 9], Figueira da Foz; Editor: José Maria Roque dos Reis [ao no4, Amadeu Sanches Barreto; ao no8, José Soares Coronel]; Redactor Principal: Gustaf Adolf Bergstrom; Impressão: Typographia Democratica (Coimbra); Figueira da Foz; 1904, 17 numrs

Trata-se de um semanário figueirense que se dispunha a “lutar pela ideia da República, como primeira etapa a alcançar na senda do progresso”, referindo que fazem tenção de tomar o “mais humilde logar nas fileiras da democracia pela qual lutaremos sempre com serenidade, mas enérgica e intransigentemente” (in no1, texto assinado, em nome da redacção, por Gustavo Adolf Bergstrom).
[Gustaf Adolf Bergstrom nasceu em 1892 na Ilha de Santo Antão (Cabo Verde). De ascendência sueca pelo lado do pai, residiu na Figueira da Foz e casou com Amélia Lucas de Oliveira (e, assim julgamos, casou uma segunda vez com Maria da Luz – cf. O Paiz, Rio de Janeiro, 28/12/1916) – tiveram duas filhas, Maria Regina Bergstrom (n. 1902), que se fixou em Moçambique e Fernanda Bergstrom (n. 1910). Curiosamente o seu pai, Theodoro Segismundo Bergström (1856?-1934; foi director do BNU em S. Tomé e Príncipe) e o seu avô paterno, tinham casado também com cidadãs portuguesas. Gustaf Adolf Bergstrom dedicou-se à instrução pública, foi professor de ensino livre (especialidade em língua inglesa) em Lisboa (no Novo Colégio Inglês), Figueira da Foz e Coimbra. Foi jornalista e um ardente propagandista liberal e republicano. Foi maçon, tendo integrado a Loja maçónica "Academia Livre", de Coimbra.

Como jornalista, funda (11 de Maio de 1902) e redige o jornal “A Voz da Justiça” da Figueira da Foz (a 17 de Maio de 1903, Gustaf Bergstrom, cede a propriedade do jornal para a Associação de Instrução Popular, passando o periódico a ser administrado por maçons filiados na Loja Fernandes Tomás, loja maçónica instalada a 22 de Setembro de 1900 na Figueira da Foz); escreve no jornal, “Desaffronta” (1903, Figueira da Foz - no único) em defesa do descanso semanal dos caixeiros figueirenses – à revindicação dos trabalhadores sucede um “longo” processo judicial, tendo sido Afonso Costa o advogado dos caixeiros processados; participa (1904) no jornal comemorativo da revolta do 31 de Janeiro de 1891, “Glória aos Vencidos”, patrocinado pelo Centro Eleitoral Republicano José Falcão da Figueira da Foz; foi redactor principal do semanário “A Razão”, mais tarde órgão desse mesmo Centro Republicano.

Retira-se para Coimbra (vive numa casa nos Arcos do Jardim, ao no52), frequenta como aluno voluntário a Faculdade de Filosofia e de Matemática na Universidade de Coimbra, exercendo a docência no Liceu da cidade, leccionando (em sua casa) um curso especial de inglês prático para alunos internos. Foi um curioso poeta e letrista (com que contribuiu para alguns estimados fados). Parte Gustaf A. Bergstrom, anos depois (1912/13?), para o Brasil. Lecciona matemática, física e química, e dá cursos particulares de inglês, no Instituto Beltrão (rua Haddock Lobo, no 419) e no Instituto La-Fayette, do Rio de Janeiro. Discursa na sessão solene das comemorações da República Portuguesa em 1913, promovidas pelo Grémio Republicano do Rio de Janeiro (foi realizada excepcionalmente no dia 12 de Outubro) no teatro Lyrico, sob presidência do dr. Bernardino Machado. Morre a 23 de Junho de 1916 (cf. jornal Estado do Pará, 24/06/2016) no hospital da “Beneficência Portuguesa”, vítima da “tuberculose” (assim o refere, como causa da sua morte, Cardoso Martha, inJornalismo Figueirense”, 1926, p. 60)]

Refira-se que “A Razão” foi criada por um grupo de republicanos que pretendiam reatar “os laços morais” da comissão municipal republicana, pelo que constituíram o núcleo (fundador) do Centro Eleitoral Republicano José Falcão (instalado e inaugurado no dia 31 de Janeiro de 1904, aniversário da revolta republicana do Porto e em que usa da palavra Gustaf Bergstrom, um dos principais impulsionadores do Centro e seu presidente). Antes mesmo da fundação do Centro Republicano José Falcão foi decidido pelo núcleo inicial a criação de um jornal que fosse seu órgão de imprensa. De facto, assim aconteceu, a 27 de Janeiro de 1904, o semanário “A Razão” [cf. Cardoso Martha, ibidem].
[A CONTINUAR]
J.M.M.
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