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terça-feira, 29 de setembro de 2015

SESSÃO EVOCATIVA DE RAMALHO ORTIGÃO NA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS



Sessão Evocativa de Ramalho Ortigão (por ocasião do centenário da sua morte)
DIA: 1de Outubro 2015 (15,00 horas);
LOCAL: Academia das Ciências de Lisboa (Salão Nobre), Lisboa;
ORGANIZAÇÃO: Academiadas Ciências de Lisboa;

[TEMAS /ORADORES]:

Ramalho e os Vencidos da Vida” [Guilherme d’Oliveira Martins];

Saudação em nome da família de Ramalho” [Margarida Ortigão Ramos];

Virtudes e defeitos do povo n’As Farpas” [António Valdemar];

Ramalho na Academia das Ciências” [Artur Anselmo].

«Tenho hoje 54 anos, dos quais 35 consagrados à profissão das letras. Do exercício da minha arte tirei grandes alegrias de aplicação e de trabalho. Nos primeiros anos um feminismo, que estava talvez em gérmen no meu temperamento, mas que a leitura de Garrett na psicose da minha puberdade contribui muito para desenvolver num sentido romanesco, levava-me a apetecer um certo género de celebridade: que as mulheres me lessem, me olhassem com simpatia. Essa ambição tive, mas nunca tive outra sendo completa e absolutamente indiferente ao aplauso das academias, aos prémios oficiais, a toda a espécie de honras e dignidades públicas. Mais tarde esvaiu-se esse mesmo desejo de ser lido por mulheres lindas, e o meu único prazer de escrever está na minha própria escrita, quando raramente numa e noutra linha consigo fixar a imagem de um sentimento verdadeiro, transmitir uma emoção sincera.

Maçar o menos que seja possível o meu semelhante, procurando tornar para os que me cercam a existência mais doce, o mundo mais alegre, a sociedade mais justa, tem sido a regra de toda a minha vida particular. O acaso fez de mim um crítico. Foi um desvio de inclinação a que me conservei fiel. O meu fundo é de poeta lírico.

Cumpri o melhor que pude o meu destino, criando o filho e escrevendo o livro. Faltou-me plantar a árvore, e é já agora tarde para o fazer com alguma probabilidade de aproveitar a sombra.

Mas à minha profissão exercida com modéstia, mas com honradez, devo amizades, e ligações de simpatia, que fazem a minha única glória, e me permitirão talvez não morrer ao sol e às moscas” [Autobiografia]




J.M.M.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

RAMALHO, MORTO OU VIVO?


Ramalho, morto ou vivo?” – por António Valdemar, in jornal Público

“A herança que Ramalho deixou em textos de intervenção abriu novos horizontes. Desfez rotinas e marasmos. Reformou hábitos e costumes arcaicos. Empenhou-se em manter Portugal nos padrões europeus de vida e de cultura"

"Portugal é outro. Dentro de um outro mundo e em permanente transformação. Terá algum sentido falar e escrever acerca de Ramalho Ortigão, cujo centenário da morte hoje se completa, pois faleceu a 27 de Setembro de 1915 quase com 80 anos? Que interesse pode suscitar esse jornalista escritor que se caracterizou, fundamentalmente, um grande cronista, um grande repórter, um notável crítico da vida social, cultural e política da segunda metade do século XIX?

Muitas páginas dos livros de Ramalho estão datadas. Apesar disso não se extinguiu o legado intelectual de Ramalho. Se procedermos, na maioria dos seus textos, a uma descircunstancialização – no sentido a que Ortega y Gasset atribuiu o mais amplo significado desta expressão – verificamos que Ramalho, numa linguagem clara, fluente e sólida, estimula a reflexão e a crítica, combate a mediocridade e desmascara a intriga e a corrupção.
Ramalho nasceu no Porto a 24 de Novembro de 1836 e lá principiou a sua carreira intelectual. Lecionava francês no colégio do pai (Eça de Queiroz foi um dos seus muitos alunos) e entrou para a redação do Jornal do Porto. Exerceu durante alguns anos a tarimba diária do noticiário e do folhetim. Foi destacado em 1867 para a cobertura da Exposição Universal. Realizou um dos sonhos de um homem de letras. Conhecer Paris. Tomar o pulso da capital do espírito. Frequentar os teatros, ver os museus, ir às bibliotecas e livrarias, sentar-se à mesa de restaurantes e comer o que no Porto ou em Lisboa era, gastronomicamente, traduzido em calão. Foi o primeiro e decisivo contato com o mundo.
Ao contrário de Sampaio Bruno que permaneceu agarrado ao Porto, foi um dos historiadores do Porto e dos seus homens ilustres, Ramalho Ortigão – apesar de palavras cordiais escritas sobre o Porto – não gostava do Porto, nem dos portuenses. As confissões a sua mulher (Cartas a Emília introdução e seleção de Beatriz Berrini, páginas 56 e 57, edição da Biblioteca Nacional, 1993) constituem um documento, sobre todos os aspetos inconcebível. É difícil encontrar, em qualquer parte do mundo, tamanha repulsa de alguém pela sua própria terra. Pela cidade do Porto que, em vida e a título póstumo, lhe prestou as maiores homenagens. Este facto explica, porventura, ter-se radicado, definitivamente, em Lisboa. Instalou-se, em 1868, com a família no Bairro Alto, ao cimo da Calçada dos Caetanos, no último andar de um prédio com vista para o Tejo. Trabalhava muito perto. Era funcionário da secretaria da Academia das Ciências.

Retrato do grupo "Vencidos da Vida". Sentados: Carlos Lima Mayer, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão; de pé: marquês de Soveral, conde de Sabugosa, Carlos Lobo de Ávila e Eça de Queiroz; sobre a escada: Guerra Junqueiro, conde de Arnoso e conde de Ficalho (1889) – via Casa Comum


Encontrou-se com Eça que terminara o curso de Direito. Estabeleceu relações com a nova geração de intelectuais e artistas, que vai promover as Conferências do Casino, o Centenário de Camões e o Centenário de Pombal, referências emblemáticas do Portugal democrático, republicano e laico; colaborou nos principais jornais e revistas de Lisboa. Por exemplo; na Revolução de Setembro e no Diário de Notícias que se fundara, há pouco, como órgão de informação geral, sem resvalar nas querelas partidárias. Ao mesmo tempo, principiou a escrever com regularidade para o Brasil, para a Gazeta de Noticias que será, também, uma das tribunas de Eça de Queiroz. De tal modo que alguns dos livros apareceram primeiro editados no Brasil.
Entretanto, lançou com Eça de Queiroz As Farpas, crónica mensal de política, de letras e de costumes. Em vez do sarcasmo escaldante e da sátira feroz, uma rajada esfusiante de ironia passou a comentar as personagens e instituições oficiais. Ao ingressar na diplomacia, Eça interrompeu a publicação que viria a compilar em dois volumes com o título Uma Campanha Alegre. Enquanto Ramalho prosseguiu, sem intermitências, até 1888, reunindo a maior parte dos textos, em 11 tomos, sistematizados por temas e com o título genérico e original As Farpas.

Ramalho n’As Farpas mostra-nos o que o Pais era – e não deixou de ser nos seus fundamentos – a compleição geográfica do território e a diversidade humana das populações; os vícios da política e da administração pública; as acrobacias e rábulas parlamentares; a produção literária e artística; aspetos insólitos do quotidiano de Lisboa; lacunas na educação e deficiências no ensino; falta de limpeza nas casas e nas ruas; a necessidade de regras de higiene pública e privada; as imposturas, as hipocrisias e as superstições da prática religiosa. A tudo isto juntou um conjunto perfis de figuras exemplares, em vários domínios da vida portuguesa.
Nos primórdios da sua carreira Ramalho escreveu dois livros que atingiram grande sucesso: Banhos de Caldas e Águas Minerais e As Praias de Portugal. Promoveram a descoberta do litoral e do interior, das serras e da planície, das margens e do curso dos rios, numa altura em que as viagens eram difíceis. O caminho-de-ferro estava a avançar muito lentamente. As estradas eram péssimas. E o alojamento rudimentar. Percorreu o País desde o Minho ao Algarve, desde Trás-os-Montes até ao Alentejo. Estudou cada região e as qualidades e defeitos dos seus habitantes.
Além da França, com permanências demoradas em Paris, visitou parte da Europa. Inteirou -se do que era a Holanda, a Suíça, a Inglaterra, a Espanha e a Itália. Foi muitas vezes ao Brasil. Em especial ao Rio de Janeiro onde tinha família e relações literárias com escritores, poetas, jornalistas e políticos que muito o estimavam.
Apesar das várias opções políticas e ideológicas que adotou e se refletiram na sua obra, As Farpas e outros livros de Ramalho tiveram forte impacto em várias gerações. Em políticos, escritores e panfletários que lutaram pela implantação da Republica: João Chagas, Lopes de Oliveira, Tomaz da Fonseca, João de Barros. No grupo e na geração da Seara Nova que foi a consciência crítica e moral da 1a Republica – admiraram Ramalho: António Sérgio que o antologiou, prefaciando e anotando as Origens da Holanda; Câmara Reys, assinalou a morte, de Ramalho logo no primeiro número da revista Atlântico e incluiu-o e enalteceu-o nas Questões Morais e Sociais da Literatura; Aquilino Ribeiro louvou-lhe o desassombro e os primores da escrita (O Século, 25 de Junho de 1958); e Raul Proença no Guia de Portugal cita-o, com abundância, e acolheu-o como um dos orientadores no conhecimento e valorização de Portugal.

A trajetória de Ramalho, embora sem qualquer filiação explícita, decorreu em Lisboa ao lado dos precursores da República, do Socialismo e da Federação Ibérica . Ao prestar serviço na Biblioteca da Ajuda conviveu com a família real. Aderiu e apoiou a ditadura de João Franco. Radicalizou a posição monárquica após o regicídio. Insurgiu-se contra a proclamação da Republica. Combateu o novo regime dentro e fora de Portugal. Simpatizou com os integralistas. Para o jornal monárquico A Restauração, de Homem Cristo Filho, escreveu um dos últimos textos Carta de um velho a um novo (7 de setembro de 1914), reeditado em 1947, pela Causa Monárquica. Elegeram-no mestre do nacionalismo português.

Manuel Gonçalves Cerejeira, futuro cardeal patriarca, no controverso livro A Igreja e o Pensamento Contemporâneo – desmistificado por Sílvio Lima, numa obra de análise crítica retirada do mercado pela PIDE e pela Censura e que lhe interrompeu a carreira universitária – exaltou Ramalho como um dos paradigmas morais e intelectuais, até porque, pouco antes da morte, se convertera ao catolicismo e solicitara funeral católico. Na revista Nação Portuguesa, Alberto de Monsaraz, escreveu um artigo sobre a morte de Ramalho considerando-o, um dos mentores do Integralismo Lusitano.
Almada Negreiros também o elogiou. O testemunho de Almada provoca alguma surpresa. Para quem leu o Manifesto Anti Dantas estranha o apreço por Ramalho. Todavia, Almada (íntimo de Homem Cristo Filho) e parte da geração transformaram a Carta de um Velho a um Novo, numa cartilha politica e num breviário nacionalista. Havia profundas diferenças literárias e estéticas, mas identificavam-se com o ideário terminal de Ramalho. Pertenciam aos adversários irredutíveis da República.
Seja como for, a herança que Ramalho deixou está viva. E numa escrita viva. A maior parte d’ As Farpas, a Holanda, a colaboração no Álbum de Glórias, de Rafael Bordalo e outros textos de intervenção constituem referências obrigatórias. Exerceu significativa pedagogia cívica. Abriu novos horizontes. Incutiu saúde em face do pessimismo militante e dissolvente. Desfez rotinas e arrasou marasmos. Reformou hábitos caducos. Baniu costumes arcaicos. Empenhou-se em manter Portugal fiel às raízes que o definem e o singularizam, mas inserido nos padrões europeus de vida e de cultura”.
Ramalho, morto ou vivo? – por António Valdemar [Jornalista e investigador, membro da Classe de Letras da Academia das Ciências], jornal Público, 27 de Setembro de 2015, p.54 – com sublinhados nossos.
J.M.M.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

MOSTRA BIBLIOGRÁFICA: RAMALHO ORTIGÃO - UM PUBLICISTA EM FIM DE SÉCULO


A partir de 25 de Setembro, vai estar patente na Biblioteca Nacional de Portugal uma mostra bibliográfica sobre Ramalho Ortigão.

Pode ler-se na nota de divulgação evento na Biblioteca Nacional:
José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) foi uma expressão da multifacetada figura do publicista finissecular, porém com uma atividade de sincero compromisso crítico com «o país e a sociedade portuguesa» de que As Farpas foram a obra de referência de quase uma vida.

Sobre Sampaio Bruno ou França Borges, por exemplo, figuras típicas que com ele partilharam uma posição de exceção ética – quando o estatuto simbólico do publicista declinara, no fim do século XIX, no oportunismo e na promiscuidade com os interesses das elites políticas e económicas −, Ramalho Ortigão prefigura, como poucos, o longo percurso do intelectual de oitocentos. A longevidade de vida o permitiu.

O ponto de partida romântico teve lugar logo na educação doméstica, passada numa quinta nortenha aos cuidados de uma avó, a que se seguiu a tentativa de cursar Direito em Coimbra, de que veio a desistir; regressou ao Porto para dar aulas de línguas no colégio de Na Sra da Lapa, de que o pai era diretor, sendo professor de Eça de Queirós; enfim, a carreira de homem de letras, num estatuto que nunca perdeu por completo, misto de diletante viageiro, cronista do que vê, do que lê, por onde passa. Esta fase terminou com um alinhamento ao lado de Feliciano de Castilho, na querela literária com os jovens partidários do Bom Senso e Bom Gosto, chegando a bater-se com Antero de Quental de florete em riste.

Ler mais sobre o evento AQUI.

Um evento que se recomenda a todos os interessados em conhecer melhor a obra de Ramalho Ortigão.

A.A.B.M.
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