Nos últimos tempos, a propósito do
Centenário da Proclamação da República, alguns
monárquicos tentam recuperar a imagem do regime monárquico.
Quem nos conhece pessoalmente ou que nos acompanha em visitas mais ou menos regulares ao blog, certamente nota que temos evitado as apreciações ou depreciações mais ou menos conhecidas. Historicamente, tentamos basearmo-nos em factos e apoiarmo-nos na bibliografia existente que temos disponível. No entanto, não podemos deixar de notar que esses monárquicos para procurarem uma legitimação que actualmente já não possuem, omitem, interpretam e tentam recriar os acontecimentos da forma que os favorece mais.
Muitos dos problemas que o nosso País atravessa são, de facto, de qualidade dos seus dirigentes, mas essa qualidade não é um problema recente. Certamente que alguns dos políticos que nos têm governado, seja na Monarquia, na 1a República, na 2a República (Ditadura), ou mesmo na 3a República cometeram erros que todos os cidadãos acabam por ter que assumir, porque vivemos num país em que muito facilmente se atiram as culpas para os outros e raramente se assume a responsabilidade pelos actos. Temos todos, começando por mim, grande dificuldade em assumir que fizemos uma má opção. No entanto, há uma coisa que não podemos esquecer, é que a liberdade política (Democracia) permite que possamos escolher outros que temos sempre a esperança que sejam melhores.
Na
Monarquia já existiam eleições, mas também se sabe que elas de livres tinham só o nome. Mais, os monarcas tiveram o cuidado de votar leis que podiam impedir o progresso eleitoral dos republicanos criando círculos eleitorais mais amplos nas regiões urbanas de Lisboa e do Porto, onde tradicionalmente havia maior votação no Partido Republicano, para conseguirem realizar mais facilmente as famosas
chapeladas (colocação de votos nas urnas). Também sabemos que era possível mudar de governo entre os dois grandes partidos monárquicos (
Progressista e
Regenerador) e, pelo menos a partir da década de 70 do século XIX, houve alguma alternancia de poder, mas os líderes pouco mudavam, a classe política era quase sempre a mesma. Com o aparecimento do
Partido Regenerador Liberal, liderado por
João Franco, cria-se uma terceira via de alternância, mas não se podia mudar o chefe de estado. Repare-se que não estou a por em causa as qualidades pessoais ou políticas da pessoa de
D. Carlos ou de
D. Manuel II, mas o certo é que eles não podiam ser eleitos e exerciam o poder pela vida inteira. Isto levanta de imediato o problema de que as pessoas mudavam por uma questão de manter as aparências, porque aquilo que era estrutural nunca mudaria. Para mais havia a questão da
hereditariedade, o título era transmitido automáticamente, sem que ninguém fosse chamado a pronunciar-se se era esse o seu desejo ou não. E muitas vezes ficamos com a sensação que alguns monarcas desejavam realizar outras actividades, fossem elas culturais, científicas, de carácter social ou religioso. Esse é para mim um dos grandes defeitos da
Monarquia.
Por outro lado, apontam-se também criticas à
República que são verdadeiras, mas que fazem parte de todos os momentos revolucionários. Sempre houve e sempre haverá exageros e também os houve durante a República, não temos qualquer dúvida em relação a isso, no entanto também sabemos que quando se vivem momentos revolucionários, de conturbação política e social os acontecimentos ultrapassam as ideias daqueles que os imaginaram e realizaram. Isso aconteceu sempre ao longo da História, seja em Portugal ou no mundo. Houve exageros na Revolução Francesa, com avanços e recuos. Houve situações mal resolvidas durante a República ou mesmo na Revolução dos Cravos, mas as História não existe para de julgar ninguém, mas para analisar e interpretar os acontecimentos. Os protagonistas dos acontecimentos tomaram decisões que só
à posteriori se verifica que foram correctas ou erradas.
Alude-se também à questão da
liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa era ainda uma conquista a fazer nos finais do século XIX. Note-se que com a
crise do Ultimatum e do
31 de Janeiro de 1891 foram encerrados variadíssimos jornais de forma compulsiva, simplesmente porque o poder político monárquico assim o entendeu fazer. Os jornalistas eram presos e julgados por emitirem opiniões contrárias ao poder estabelecido, não só os nomes mais conhecidos da propaganda republicana como
João Chagas,
Francisco Manuel Homem Cristo,
António José de Almeida ou
Heliodoro Salgado, outros pelo país sofreram estas perseguições e foram exilados ou obrigados a emigrar.
Finalmente, e porque o texto já vai longo, o problema da adesivagem ao novo regime, que é um fenómeno muito típico em Portugal, mas não só. Muitos dos Monárquicos de renome antes do 5 de Outubro, transformaram-se do dia para a noite nos grandes paladinos do novo regime. Tornaram-se os mais ferverosos dos republicanos, capazes de perseguir os antigos companheiros de política que não mudaram de posto só porque mudou a circunstância. Isso também aconteceu em 25 de Abri de 1974 e muitos ainda estão na política activa, no entanto, o povo tudo esquece e quase tudo perdoa. Daí que muitas vezes sejamos considerados um País de brandos costumes.
A.A.B.M.