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quinta-feira, 25 de julho de 2013

GLEBA. SEMANÁRIO DE LITERATURA E CRÍTICA


GLEBA. Semanário de literatura e crítica.

Ano I, [numero espécimen, Novembro de 1934], no1 (4 de Dezembro) ao no 4 (1 de Janeiro 1935) [suspende a sua publicação com um curioso esclarecimento em que se defende da acusação de ser um periódico “comunistóide”; refira-se que as estimadas Edições Gleba, nascem deste grupo, onde primeiro se manifesta o neo-realismo]; Comissão Directiva: Almeida e Silva, Duarte Rodrigues, Guy de Oliveira, Jorge Antunes, Jorge Domingues, Mário Dionísio, Moura Vitória, Victor Santos [este grupo tinham antes fundado as revistas Quid? e Prisma]; Redacção: M. Ramos da Cunha; Impressão: Impr. Baroeth, Lisboa; 1934-35, 1+4 numrs

Colaboração: Almeida e Silva, Anjo Alva, António Sérgio, Câmara Reis, Campos Lima, Duarte Rodrigues, Fernando Barros, Guilherme Morgado, Guy de Oliveira, Jorge Antunes, Jorge Domingues, José Rodrigues Miguéis, Leite da Costa, Lino Carracho, M & M [? – curioso texto com o título “Quinto Império], Mário Dionísio, Moura Vitória, Palma Carlos, Rocha Pinto, Rodrigues Lapa, Seabra Diniz, Sérgio Augusto Vieira, Vasco da Gama Fernandes, Vicente Martins, Victor Santos.
O núcleo que constitui Gleba não tem norma, não respeita a tradição, não aceita o passado; também não é um camartelo demolidor, por sistema, nem iconoclasta no sentido mais lato da palavra … Gleba não é o porta-voz duma seita. Aspira a ser o estandarte dum escol que não imporá ideias, mas que as difundirá persuasivamente entre os predispostos, porquanto os dispostos delas não carecem” [inDicionário das Revistas Literárias Portuguesas do Século XX”, de Daniel Pires].

J.M.M.

sábado, 9 de abril de 2011

TERRA LIVRE – SEMANÁRIO ANARQUISTA


TERRA LIVRE. SEMANÁRIO ANARQUISTA – Ano I, no 1 (13 Fevereiro 1913) ao no 24 (31 de Julho de 1913), Lisboa; Propriedade: Grupo Terra Livre; Administração e Redacção: Rua das Gáveas, 55, 1o, Lisboa; Editor: Jaime de Castro; Director: Pinto Quartin; Corpo Redactorial: Carlos Rates, Neno Vasco, Pinto Quartin, Sobral de Campos; Impressão: Oficinas Gráficas, Rua do Poço dos Negros, 81, Lisboa; publica-se às quintas-feiras; 1913, 24 numrs,

Colaboração/textos: A. Girard, Adolfo Lima, Afonso Manaças (estudan. medicina), Araújo Pereira, Astrogildo Pereira, Aurélio Quintanilha (estudan. Medicina), Bel-Adon, Campos Lima, Clemente Vieira dos Santos, Eça de Queiroz, Edmundo d’Oliveira, Emília Garrido, Emílio Costa, Errico Malatesta, Francisco Lopes de Sousa [carta ao semanário sobre a sua prisão e de outros camaradas em Olhão], Francisco Moreno, G. Moitet, Gaspar Santos (estudan. Medicina), Humberto de Avelar, Ismael Pimentel, Jacinto Benavente, Joana Dubois, José Bacelar, José Benedy, José Carlos de Sousa, José Gomes Ventura, Madeleine Vernet, Manuel Luiz da Costa Júnior, Marcela Capy Marques, Manuel Ribeiro, Max Nourdau, Miranda Santos, N. de B., Nelly Roussel, Pedro Kropotkine, R. C. Júdice, Rocha Vieira (caricaturista), Rene Miguel, Rui Forsado, Zeferino Oliva.

A Biblioteca Nacional disponibilizou online um dos mais importantes jornais da corrente anarquista e libertária do movimento operário, Terra Livre. Nascido em 1913, “nesse agitado e turbulento ano” [cf. João Medina, Um semanário anarquista durante o primeiro governo de Afonso Costa. ‘Terra Livre’, Análise Social, vol. XVII (67-68), 1981] que curiosamente “não deixava saudades a quem quer que fosse, nem mesmo porventura a Afonso Costa, que em começos do ano seguinte acabaria de se apear do Ministério, após a árdua tarefa de dirigir o país durante exactamente treze meses” [ibid], o semanário Terra Livre (“órgão da luta social e económica”) teve a colaboração dos mais preclaros e esclarecidos libertários de então [Pinto Quartin, Carlos Rates, Neno Vasco, Sobral de Campos, Manuel Ribeiro, Emílio Costa, Adolfo Lima, Campos Lima, Aurélio Quintanilha]. Doutrinador e formativo, promoveu um conjunto de raras iniciativas no campo político, cultural e de divulgação do ideário anarquista, criticando e combatendo o parlamentarismo republicano e o governo de Afonso Costa [ver César de Oliveira, in Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, 1837-1936, Lisboa, 1984].

Com uma tiragem de 3500 exemplares, o semanário Terra Livre era um “ponto de encontro” e lugar de debate para os mais esclarecidos e “iluminados” dirigentes do movimento operário. Não resistindo à repressão imposta pelo governo de Afonso Costa [o “novo João Franco” ou o “racha-sindicalistas”], com a prisão e a expulsão [por dez anos para o Brasil] do seu director, Pinto Quartin, e de muitos dos seus colaboradores, no decorrer de uma feroz vaga repressora anti-operária e anti-social, o periódico Terra Livre termina a sua publicação ao fim de 24 números e com ele finda uma voz incómoda ao “conservadorismo republicano” [ver, sobre o assunto, o esclarecido artigo, já citado, de João Medina].

Terra Livre AQUI online.

J.M.M.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A GAFANHA - CAMPOS LIMA



"A Gafanha, meus caros senhores, não é senão esta boa terra de mesquinharias e de toleimas, a fingir de nação da Europa e que nem ao menos por decoro anda de tanga. A Gafanha é a ‘piolheira’, onde só é gente o sr. Burnay. A Gafanha são os padres do ‘Portugal’, é a intentona, é a juventude monárquica, é a barriga do sr. Alpoim, a chefia do sr. Vilhena, a lei de 13 de Fevereiro, a beleza do sr. D. Manuel, o ‘Vasco da Gama’, o discurso da coroa, a chalaça do sr. Ferreira do Amaral e os adiantamentos. A Gafanha é esta terra de cegos, onde não havendo ao menos quem tenha um olho para ser rei, por esse facto se pensa fazer a República ..." [in A Gafanha, no1]

A Gafanha. Quinzenário(?) Anarquista [no1 (Março ? 1909) a no 8 ? (1909)]. Editado por Campos Lima [João Evangelista]; correspondência, Rua do Ouro, 149, 2o, Lisboa; composto e impresso na Typ. Minerva, de Gaspar Pinto de Souza & Irmão, Vila Nova de Famalicão.

A Gafanha é um periódico de grande raridade, dado a perseguição e as penas a que estavam sujeitos aqueles que pugnavam pelas "doutrina do anarquismo", resultante da Lei de 13 de Fevereiro de 1896 [cf. Rita Pereira, A Gafanha, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Maio de 2010 – onde encontra a entrada bibliográfica ao periódico. Não consta da bibliografia consultada por R. Pereira, o livro de Alexandre Vieira, "Para a História do Sindicalismo em Portugal" onde é referido a existência de apenas 8 numrs d’A Gafanha], pelo que se desconhece quer o inicio da sua publicação quer o seu terminus.

A Gafanha, no1 e no2digitalizado pela Hemeroteca Municipal de Lisboa;
A GafanhaFicha histórica por Rita Pereira, H.M.Lisboa.

J.M.M.

sábado, 10 de março de 2007

CAMPOS LIMA: NOTA BREVE (II)



Em 1924, Campos Lima funda a Editora Spartacus

[onde publicou contos, romances e opúsculos seus, como O Amor e a Vida, 1924; A Revolução em Portugal, 1925; A Ceia dos Pobres (3a ed., peça para teatro, publicada inicialmente em 1906 e que teve grande êxito no Brasil entre a comunidade libertária), a Teoria Libertária ou o Anarquismo, 1926; Gente Devota, 1927; Mulher Perdida, 1928; etc. Registe-se a publicação, pelas Edições Spartacus, das raras novelas de Ferreira de Castro, "Sendas do Lirismo e de Amor”" e "A Casa dos Móveis Dourados"]

e mantêm a sua faceta de jornalista [sócio efectivo da Casa dos Jornalistas no 120, de 11/11/1924], articulista e, mesmo, de director, num conjunto quase infindável de publicações periódicas. Assim, colabora no jornal Vanguarda (1899-1911), no jornal O Mundo (1900), na Verdade (1903), no jornal republicano País (1905-1921), na Era Nova (já citado), na Greve (jornal republicano-sindicalista, dir. Alexandre Vieira, 1908), no jornal republicano O Povo (1911-1916), no importante semanário libertário Terra Livre (1913), no diário do partido republicano "Portugal" (1917-1920), no jornal O Século, na Pátria (1920), no Diário de Notícias, no jornal republicano da tarde A Notícia (1928), no Diário da Noite (Lisboa, 1932-33), Gleba (1934-35), no jornal anarquista A Batalha e no seu importante suplemento literário, na Revista do Instituto de Coimbra, na Vida Contemporânea (1934-36), no magazine mensal Civilização [dirigido por Ferreira de Castro e Campos Monteiro, 1925-37]. Foi também [proprietário e] director do diário da tarde "A Boa Nova" [no1, 1 Maio 1908], da Imprensa de Lisboa [diário dos grevistas e único que se publicou na Greve de 1921], do jornal Imprensa Livre [1925, onde colaborou Ferreira de Castro que, curiosamente nesse mesmo ano, publica o célebre e raro livro Mas...], funda [Março de 1929-Fevereiro 1930] a revista libertária Cultura [XIV numrs] e é, ainda, director [entre o no 275-326] do semanário de critica literária e artística O Diabo, em 1939.

Campos Lima foi um manifestamente um intelectual de orientação libertária [registe-se que João Freire, no seu artigo "A evolução ideológica de alguns expoentes do anarquismo português no pós-guerra" (Revista da Biblioteca Nacional, 1-2, 1995, p. 140) assinala a existência de um "grupo informal de antigos libertários" reunidos como tertúlia, da qual fazia parte, além de Campos Lima, Emílio Costa, Pinto Quartim, Jaime Brasil e Alexandre Vieira, e que se "reuniam habitualmente no Café Chiado", debatendo, conspirando e estabelecendo "programas políticos libertários"], um historiador do movimento operário, libertário e republicano [veja-se a sua Dissertação para a cadeira de Ciência Económica da FDUC, "O Movimento Operário em Portugal" (publicado em 1910 e, depois, em 1972), "O Estado e a Evolução do Direito" (1914), "O Reino da Traulitânia (25 dias de reacção monárquica" (1919), "A revolução em Portugal" (1925) ou leia-se os artigos da revista Cultura (em especial "Nós e as Ditaduras", no 3, 1929)], um verdadeiro romântico de "ideias livres". Nunca aceitou ser deputado, tendo recusado cargos de chefia de estado, como governador civil de Braga (durante o "ministério de Bernardino Machado") ou ministro da Justiça (convite que lhe é feito depois do "movimento de 19 de Outubro de 1921").

Torna-se por isso tudo e, justamente, pela "sua conduta”", "aprumo moral", "tolerância", "indiferença à glória" e total "desassombro" [refa a artigo de Belisário Pimenta sobre C.L., Vértice, no 153] uma figura absolutamente notável, que assume, defende e professa as suas ideias até ao fim da sua luminosa vida, a 15 de Março de 1956.

Bibliografia geral consultada: Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal: as convergências possíveis (1892-1910), de António Ventura, Cosmos, 2000 / Breve História do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal, por Edgar Rodrigues, Assírio & Alvim, 1977 / Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Séc XX, de Daniel Pires, Grifo,1996 / Jornais Diários Portugueses do séc. XX, de Mário Matos e Lemos, Ariadne Editora, Coimbra, 2006 / Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 5

J.M.M.

CAMPOS LIMA: NOTA BREVE (I)

João Evangelista de Campos Lima [1877 ?-1956 * ver nota no fim do post] nasce a 16 de Setembro no Porto. Foi estudante de direito em Coimbra e destacou-se (ver aqui e aqui) na denominada Questão Académica de 1907 ou Greve Académica de 1907. Colaborou, muito cedo, em jornais e revistas literárias (e libertárias).

[Ave Azul, Viseu, 1900 / Bohémios, 1900, publicação simbolista do Porto / Mocidade, de Lisboa, 1901 (data desse ano o opúsculo de C.L., "Nova Crença", Coimbra, 1901) / Revista Livre, publicação libertária de Coimbra sob sua direcção, 1902 / Arte e Vida, Coimbra, 1904-1906 / A Vida, Porto, 1905 - curioso semanário libertário, dirigido por Manuel Joaquim de Sousa e a partir de 1909, por Álvaro Pinto, com colaboração de Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Alfredo Pimenta, Pinto Quartim, Homen Cristo Filho, etc / Nova Silva, Porto, 1907, revista dirigida por Leonardo Coimbra - veja-se, Daniel Pires, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Séc XX, Lisboa, Grifo,1996]

Em finais de 1905, Campos Lima, que se tornaria num hábil orador, aparecia já a pronunciar conferências sobre questões sociais [como em Outubro de 1905, na Liga das Artes Gráficas, sob o tema "A Questão Social", conferência que foi publicada em 1906, em livro, sob edições do NEA] e militava na corrente libertária, integrando o NEA [Núcleo de Educação Anarquista de Coimbra, 1906], pelo que colabora no seu jornal, Era Nova [no1, 3 de Fevereiro 1906, onde escreviam, também, Alfredo Pimenta, Ângelo Vaz, Pestana Júnior, Araújo Pereira (actor), Bento Faria (jornalista), Emílio Costa, Gonçalves Preto, Lopes Oliveira, Pulido Valente,.., ver Edgar Rodrigues, Breve Historia do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal, p. 124].

Em 1906, Campos Lima, regressado de Paris, onde tinha ido com o Orfeão Académico de Coimbra [ver, Campos Lima, "Os meus dez dias em Paris", 1906] lança o projecto da "Escola Livre", que de algum modo reflecte essa ideia de "educação libertária", tão cara ao ideário anarquista, e que teve em Portugal, nesses anos, uma considerável difusão através da chamada "Escola Moderna" [a Escola Moderna seguia os métodos do espanhol Francisco Ferrer e de La Ruche de Sebastião Faure, em França].

Nesse mesmo ano adere à maçonaria, tendo sido iniciado [24/11/1906] na Loja Fernandes Tomás, no 212 da Figueira da Foz [onde temporariamente residiu] com o nome simbólico de Kropotkine [depois, dado a sua mudança da Figueira da Foz para Lisboa, pede o atestado de quite a 27/12/1907], tendo atingido posteriormente "cargos relevantes no GOLU e no Grande Tribunal Maçónico" [ver, A Loja Fernandes Tomás, O Arquivo e a História, ed. Museu Figueira da Foz, 2001 e o Dicionário de Maçonaria de Oliveira Marques, Delta, 1986]

Em 1907, em consequência da Greve Académica de Coimbra, é expulso da Faculdade de Direito, sendo depois "indultado e formando-se nesse ano" [refa Gr. Enc. Port-Bras., vol 5]. Depois, exerceu a advocacia em Lisboa com grande sucesso, participou na comissão da "Reforma da Lei do Inquilinato", fez parte da comissão organizadora do Congresso Cooperativista, integrou a Comissão do Congresso de Livre Pensamento (Outubro de 1913) e surge como fazendo parte da Caixa de Previdência dos Profissionais de Imprensa ("até à sua dissolução, em 1934"). Ao mesmo tempo continuava a realizar conferências sobre questões sociais e o ensino (principalmente "em associações operárias"), participava activamente na luta política, onde se distinguia como excelente orador, ao mesmo tempos que era professor na Escola Industrial de Afonso Domingues, em Lisboa.

[NOTA: a data de nascimento de Campos Lima torna-se, de algum modo, complicado de apurar a partir das diferentes biografias consultadas. Em quase todas elas, e foram muitas (como Oliveira Marques, António Ventura, a enc. Portuguesa e Brasileira,etc.), surge como data do seu nascimento 1887 (o que a ser verdade significa que C.L. teria 20 anos quando se formou, bem como seria muitíssimo jovem quando começa a publicar textos em revistas e jornais, o que nos deixou perplexos). A enciclopédia Lello refere o ano de 1877, o mesmo ano de nascimento que lhe atribui Edgar Rodrigues (A Oposição libertária em Portugal 1939-1974, Sementeira, 1982), significando que Campos Lima, que se formou em 1907, teria na época 30 anos, o que não sendo impossível, nos parece pouco provável. Outra fonte - A Loja Fernandes Tomás O Arquivo e a História, ed. Museu Figueira da Foz, 2001 - refere como data de nascimento 1874, o que ainda é menos plausível. Portanto, a nosso ver e salvo melhor opinião, existe alguma inexactidão sobre a data de nascimento de Campos Lima, que de momento não conseguimos ultrapassar, de todo. No Arquivo da U. de Coimbra há o registo da matrícula de Campos Lima a 4/10/1902. Porém não se conseguiu encontrar a sua certidão de nascimento, bem como na Carta de Curso não aparece nenhum documento sobre o aluno J.E.C.L., pelo que a dúvida subsiste. Continuaremos, quanto nos for possível, a investigação sobre o assunto - em actualização]

[continua]

J.M.M.

OS ESTUDANTES - POR CAMPOS LIMA


"Os estudantes, segundo o regulamento da casa, sam obrigados a um trajo especial. A capa e batina, habito talar propriamente, ficou como reminiscencia d'aquela boa Universidade fradesca, toda humanista, sem preocupacões d'ordem scientífica, que fez as delicias d'algumas gerações de frades.
O trajo academico, á rigori e conforme a praxe universitaria estatue, seria uma coisa sem elegancia e cheia de gravidade. Esmancham os rapazes a disciplina do vestuario, terçando as capas ou descendo-as dos hombros. Em regra só os lentes observam a lei, usando a capa sobre as espaduas caindo lisa até aos pés.

Caso sem importancia, sem significação, dirám. Logico parece que isto não deva ser tomado em conta para o balanço da vida universitaria.
Pois engana-se quem assim cuida. Nada mais fundamental. A capa e batina e o modo de a usar, desde que se transpõe a Porta Ferrea ou a Porta Minerva, se entra ao Museu ou ao Jardim Botanico, é uma questão de vida e de morte para a Universidade. Ha archeiros zelosos encarregados da compostura da nossa toilette e que nos podem levar á reitoria, como renitentes no desleixo da vestimenta.

A questão das gravatas é um capitulo interessantissimo na historia interna do estabelecimento. A gravata deve ser preta; do contrario, como num colegio, o estudantinho que prevaricou pode ser impedido de entrar na aula e, quando haja reincidencia e ainda por cima se atreva a protestar, arrisca-se a passar um mau quarto d'hora na reitoria.
E não se diga que isto poderia ser uma questão de birra da parte de reitores irrasciveis. Não, senhores. Sabem bem o caso d'aquele bom reitor que comprava gravatas aos rapazes e a cada um que lhe levavam por pecha de mal engravatado presenteava com uma gravata convenientemente preta. Não era birra. Era, como não podia deixar de ser, o natural funcionamento da engrenagem universitaria.

Ha também quem faça questão por causa dos rasgões da batina. Os archeiros então mandam-nos cozer e não ha remedio senão dar os pontarecos. Muito estudante atribue reprovações e má disposição de certos lentes ao facto de não se escovar todos os dias, não usar botas de polimento, trazer a capa cossada, a batina rota e a barba por escanhoar.

Assim a Universidade tem o aspecto d'uma grande alfaiataria. Á viva força nós havemos de sahir de lá cuidadosos com o fato, preocupadíssimos com o laço da gravata, considerando a linha elegante do nosso perfil desenhado ao lado na sombra que vamos projectando sobre a calçada e de que nos enchemos de inveja.

Se ele é assim, ha uma lacuna importante nos Gerais. É urgente mandar colocar nas paredes uma fileira de espelhos"

[Campos Lima, no no 3 de Verdade, 31/10/1903 (aliás, in A Questão da Universidade. Depoimento d'um estudante expulso, Livraria Clássica Editora, 1907)]

J.M.M.

sexta-feira, 2 de março de 2007

CAMPOS LIMA DISCURSANDO


Campos Lima discursando num comício republicano

Um dos estudantes expulsos da Universidade de Coimbra em 1907, João E. de Campos Lima, aqui discursando em 1909 num comício republicano. Campos Lima (aluno do 5o Ano de Direito) foi punido com a expulsão de 2 anos da Universidade, sob o acórdão do Conselho de Decanos de 1 de Abril de 1907. A decisão do Conselho de Decanos considerava-o

"como principal autor, por instigação essencial e execução ... porquanto iniciou os gritos de morras à Faculdade de Direito e 'à canalha', aludindo aos respectivos professores, na ocasião em que terminou o julgamento do referido licenciado; preferiu um violento discurso com injúrias graves contra a mesma faculdade e especialmente contra o Dr. Álvaro Vilela, seu mestre, verberando a reprovação do licenciado e incitando os companheiros à revolta, com escândalo publico e máxima publicidade, pois falou às turbas de uma janela na Rua Ferreira Borges ...; compareceu nos Gerais na ocasião dos tumultos e desacatos, apesar de não ter aulas a essa hora, tomando parte activa e dirigente nos mesmos ...; provocou a assuada contra o Dr. Alberto dos Reis, quando este passava no pátio das escolas para a sua aula ...; recebeu parabéns pelo bom resultado do plano criminoso (citados depoimentos ...); A sua qualidade de instigador e principal autor tornou-se notória dentro e fora da cidade, como consta de várias publicações em jornais juntos ao processo e dos depoimentos ..." [in História da Greve Académica de 1907, de Alberto Xavier, p. 199 - sublinhados nossos]

Foto de Campos Lima, in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.
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