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segunda-feira, 20 de maio de 2019

A HOSTILIDADE AOS PROFESSORES – POR JOSÉ PACHECO PEREIRA


A Hostilidade aos Professores" – por José Pacheco Pereira, in Público, 18 de Maio de 2019

[Os professores têm muitas culpas, mas isso não esconde que têm hoje uma das mais difíceis profissões que existem. E que, sem ela, caminhamos para o mundo de Camilo]
A hostilidade aos professores é evidente em muitos sectores da sociedade portuguesa. Manifestou-se mais uma vez no último conflito gerado pelas votações dos partidos na Assembleia atribuindo aos professores a contagem integral do tempo de serviço. Antes, durante e depois deste processo, a vaga de hostilidade aos professores atingiu níveis elevados, com a comunicação social a escavar fundo a ferida, com sondagens orientadas e uma miríade de artigos de opinião e editoriais.

Valia a pena parar para pensar, porque este movimento de hostilidade é mais anómalo do que se pensa, e acompanha outros, como o ataque aos velhos como sendo um “fardo” dos novos. Mostram que estamos a entrar numa cosmovisão social que implica um retrocesso enorme naquilo a que chamamos precariamente “civilização”. É preciso recuar muito para encontrar ataques aos professores, o último dos quais teve expressão quando a escola laica, em países como a França, foi um alvo importante da Igreja, que tinha o monopólio do ensino.
Mas eu seria muito cuidadoso sobre as razões dessa actual hostilidade, porque ela incorpora aspectos muito negativos da evolução da nossa sociedade. É um caminho que muita gente está a trilhar, sem perceber que ele vai dar a um profundo retrocesso. E isso acontece muitas vezes na história: anda-se para trás quase sem se dar por ela, contando com a inacção, a apatia, ou a acédia de quem deveria reagir. Como a democracia é uma fina película contra a barbárie e é apenas defendida pela vontade dos homens e não por nenhuma lei da natureza, mais vale prevenir com todos os megafones possíveis.

Há vários aspectos na actual hostilidade. Há uma agravante no caso português que tem a ver com a vitória muito significativa da ideologia da troika, que está longe de ter desaparecido e, nalguns casos, migrou para sectores que lhe deveriam ser alheios e não são: os socialistas, por exemplo. Disfarçada de “economia”, essa ideologia assenta numa visão pseudocientífica, muito rudimentar e simplista, cheia de variantes neomalthusianas, que se apresentou como não tendo alternativa, a nefasta TINA. Isto encheu-nos as cabeças e não saiu delas.
Essa ideologia centra-se na crítica do Estado, em particular do Estado social, e transforma os funcionários públicos em cúmplices de uma rede de privilégio, sendo descritos apenas como “despesa” excessiva. Vale a pena ensinar-lhes um pouco de história europeia e lembrar-lhes o papel do Estado desde Bismarck como instrumento para impedir sociedades bipolares de “proletários” e ricos, com a consequente conflitualidade social extrema. Acresce que esse processo criou à volta do Estado uma classe média, os tais desdenhados funcionários públicos, que não só funcionou como tampão como arrastou muita gente que vinha da pobreza e acedeu à mediania. A economia privada e o dinamismo das empresas, quando existiu ou existe, teve e tem igualmente esse papel, mas não chegou para criar este elevador social.


Portanto, gritem contra a função pública e os malefícios do Estado - que também existem como é obvio -, mas percebam que o pacote de não ter professores, enfermeiros, médicos, jardineiros, funcionário das repartições, leva atrás de si o ensino e a saúde pública, que são componentes essenciais do elevador social, o único meio de retirar as pessoas da pobreza, quer no privado, quer no público. Pais lavradores, que conheceram a verdadeira pobreza, filha professora primária ou funcionária pública, neto estudante universitário – sendo que o papel da educação é um elemento fundamental para esta ascensão.
Depois, há outros ingredientes. Os professores protestam, fazem greves, boicotam exames, fecham escolas, e hoje há uma forte penalização para as lutas sociais. Quem defende os seus interesses é penalizado e de imediato tem contra si muita comunicação social, o bas-fond das redes sociais e a maioria da opinião pública. São os enfermeiros, os camionistas, os professores, os trabalhadores dos transportes – manifestam-se, são logo classificados de privilegiados e egoístas. Os mansos que recebem migalhas no fundo do seu ressentimento invejam quem se mexe. Sem mediações, a sociedade esconde os que não precisam, e pune os que lutam. As greves hoje são solitárias.

O papel mais negativo é o da comunicação social, que se coloca sempre na primeira linha do combate ao protesto social. Despreza por regra os sindicatos, que considera anacrónicos, aceita condições de trabalho de sweatshop e ajuda a apagar e a tornar incómoda a memória de que o pouco que muitos têm no mundo do trabalho foi conseguido com muito sangue, e não ficando em casa a jogar gomas no telemóvel ou a coscuvilhar no Facebook.
Por fim, e o mais importante, há uma desvalorização do papel do professor, de ensinar, de transmitir um saber. Vem num pacote sinistro que inclui o falso igualitarismo nas redes sociais, o ataque à hierarquia do saber, o desprezo pelo conhecimento profissional resultado de muito trabalho a favor de frases avulsas, com erros e asneiras, sem sequer se conhecer aquilo de que se fala. É o que leva Trump a dizer que se combatia o incêndio de Notre-Dame com aviões-tanques atirando toneladas de água, cujo resultado seria derrubar o que veio a escapar, paredes, vitrais, obras de arte. É destas “bocas” que pululam nas redes sociais que nasce também a hostilidade aos professores. É o ascenso da nova ignorância arrogante, um sinal muito preocupante para o nosso futuro.

Os professores têm muitas culpas, deveriam aceitar uma mais rigorosa avaliação profissional, deveriam evitar ser tão parecidos como estes novos ignorantes, deveriam ler e estudar mais, deveriam ser severos com as modas do deslumbramento tecnológico, mas isso não esconde que têm hoje uma das mais difíceis profissões que existe. E que, sem ela, caminhamos para o mundo de Camilo. Não de Eça, mas de Camilo, do Portugal de Camilo. Verdade seja que isto já não significa nada para a maioria das pessoas. Batam nos professores e depois queixem-se …"

A Hostilidade aos Professores – por José Pacheco Pereira, Público, 18 de Maio de 2019, p.8 – com sublinhados nossos.

J.M.M.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

CONGRESSO ANUAL ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DE HISTÓRIA


Nos próximos dias 28, 29 e 30 de Outubro de 2016, realiza-se em Coimbra, na Faculdade de Letras, o Congresso Anual da Associação de Professores de História , este ano subordinado ao tema Questões transnacionais: migrações, segurança e ambiente.

Este congresso foi acreditado pelo CCPFC (0,6 unidades de crédito).

O programa do congresso é o que abaixo se apresenta:

Dia 28, SEXTA-FEIRA
13.30-14.00: Receção aos participantes
14.00-14.30: MESA DE ABERTURA: Catarina Marcelino – Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade; Alto-comissário para as Migrações – Pedro Calado.
14.30-15.00: COMUNICAÇÃO DE ABERTURA: Integração regional, soberania e segurança económica: o caso português João Paulo Avelãs Nunes (UC)

PAINEL MIGRAÇÕES E MIGRANTES:
15.00-15.30: Emigração – Emergência e historiografia do conceito Jorge Alves (UP)
15.30-16.00: Os que “Saem” e os que “Entram” em Portugal. Interação no Âmbito das Relações Transnacionais Maria Beatriz Rocha-Trindade (UAb)
16.00-16.15: DEBATE
16.15-16.30: INTERVALO
16.30-17.00: Migrações e exílios portugueses na América Latina Heloísa Paulo (UC)
17.00-17.30: Retornados? O êxodo dos refugiados brancos da África Portuguesa (1974- 1975) Fernando Tavares Pimenta (UC / UNL)
17:30-18:00: Expressões Culturais do "Regresso Sentimental" Lélia Pereira Nunes (U. Federal de Sta. Catarina)
18.00-18.30: Imigrantes, religiões e identidades no Brasil Ivo Pereira da Silva (U. F. do Pará)
18:30-18:45: DEBATE E ENCERRAMENTO DA SESSÃO

Dia 29, SÁBADO
PAINEL MIGRAÇÕES E MIGRANTES (cont.):
10.00-10.30: Os refugiados da Guerra Civil Espanhola em Portugal Luis Horrillo (AEPHG)
10.30-11.00: Refugiados em Portugal durante a II Guerra Mundial Irene Pimentel (UN)
11.00-11.15: DEBATE
11.15-11.30: INTERVALO
11.30-12.00: Migrações e diversidades culturais Ana Paula Beja Horta (UAb)
12.00-12.30: Cartografia das Migrações Contemporâneas - Uma Abordagem Cronotópica Fátima Velez de Castro (UC)
12.30-12.45: DEBATE
12.45-14.00: ALMOÇO

PAINEL SEGURANÇA:
14.00-14.30: Espaço pós-soviético: política externa e segurança da UE Licínia Simão (UC)
14.30-15.00: “(In)segurança, migrações e conflitos violentos: das responsabilidades às respostas dos atores internacionais Daniela Nascimento (UC)
15.00-15.30: Partidos portugueses ante a perspetiva de uma política externa de segurança da EU Dina Sebastião (UC)
15.30-16.00: Globalização e Estado-Providência: a crise de um compromisso histórico com o capitalismo António Rafael Amaro (UC)
16.00-16.30: Questões transnacionais – uma experiência de ensino e aprendizagem no 12o ano Mariana Lagarto (Escola Sec. da Amora)
16.30-16.45: DEBATE
16.45-17.00: INTERVALO

PAINEL AMBIENTE:
17.00-17.30: Da crise ambiental aos desafios da cooperação compulsiva no sistema internacional Viriato Soromenho Marques – (UL)
17.30-18.00: COMUNICAÇÃO DE ENCERRAMENTO: Ética e educação em sociedades multiculturais João Maria André (UC)
18.00-18.15: DEBATE
18.15-18.30: ENCERRAMENTO DOS TRABALHOS
20:30: jantar convívio

Dia 30, DOMINGO
10.00-13.00: Visitas de Estudo: A. Conimbriga; B. Mosteiro de Santa Clara a Velha; C. Museu Machado de Castro.

Um interessante conjunto de temas a debater neste congresso anual da Associação de Professores de História, desta vez realizado na região centro.

A acompanhar com todo o interesse.

A. A. B. M.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA


… Vivemos governados por um excesso de estímulos, amplificados por uma sociedade que encontra na permanente exposição a melhor forma de se esconder, isto é, de não se pensar. Estranho modo de vida, este, que nos leva de ruído em ruído, preferindo o 'aborrecimento de viver' à 'alegria de pensar' (Gaston Bachelard).

Precisa-se, neste 'tempo detergente', de um pacto de silêncio, de uma pausa que permita ver para além da poeira dos dias que correm. Pensar exige tranquilidade, persistência, seriedade, exigência, método, ciência …

O futuro ainda demora muito tempo? Nada mudou? Tudo mudou? Estamos num momento de transição. Pressentimos o fim de um ciclo histórico, iniciado em meados do século XIX, quando se inventou a modernidade escolar e pedagógica. Mas temos dificuldade em abrir caminho à contemporaneidade …

[António Sampaio da Nóvoa - Evidentemente. Histórias da Educação]

“ … Os economistas, especialistas e comentaristas “decretaram” (é esta a palavra certa) que se gasta de mais na educação. A ideia é falsa, mas toda a gente parece aceitá-la sem discussão. Estranho e medíocre consenso! É verdade que, durante um curtíssimo período de tempo, Portugal se aproximou, por volta do ano 2000, da média dos então 15 países da União Europeia... depois de séculos de atraso. Eu digo, se aproximou, porque, em termos de despesa total por aluno, só havia um país que gastava menos do que Portugal, que era a Grécia; e em termos de percentagem da despesa com a educação e formação em percentagem do produto interno bruto, Portugal continuava abaixo da média europeia. Claro que eu junto, como não podia deixar de ser, as três parcelas dos relatórios da União Europeia (despesa pública, despesa privada e despesa das empresas). É assim que se fazem as contas. É assim que se definem os objectivos estratégicos dos países.

Mas os nossos economistas, que gostam de torturar os dados até que eles confessem, limitam-se a citar a primeira parcela (despesa pública) e partem daí para um raciocínio que está todo ele errado. Desenganemo-nos. É urgente um maior esforço do Estado, e um maior esforço das famílias, e um maior esforço das empresas. Não queiramos colher aquilo que não semeámos! …”

[António Sampaio da Nóvoain Entrevista. Pela Educação]


… Disse, e repito, prefiro um mundo imperfeito, com liberdade, do que um plano perfeito, sem ela. Estou disposto a renunciar a tudo, menos à liberdade.

Sei bem que, nos tempos que correm, não podemos perder tempo com pessimismos. Fala-se das universidades como instituições com um grande passado (em Portugal, nascemos há mais de 700 anos) e com um glorioso futuro (dizem-nos que somos as instituições centrais das 'sociedades do conhecimento').

Um grande passado e um glorioso futuro. E o presente? Parece que o presente “desapareceu” no meio de tanto passado e de tanto futuro. A mim, interessa-me o presente, o presente futuro certamente, o presente como futuro.

O futuro? Mas o futuro não existe, exclamou um dia António Sérgio! Existe, sim. Existe o futuro como ideia. O que constitui uma nação não é uma causa eficiente: é sempre sim uma causa final: um projecto, um plano, uma ideia do que há-de ser …

[António Sampaio da Nóvoa]

J.M.M.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA NO SEU CENTENÁRIO (1913-2013)

A Faculdade de Direito de Lisboa no seu Centenário 1913-2012”, Vol. I (A Instituição) & Vol. II (Os Doutores), Dir: Martim de Albuquerque; Coord. Martim de Albuquerque, Gonçalo Sampaio e Mello e Luís Waldyr; Dir. Artística: Luísa Castelo dos Reis; Fotografia: António Nascimento e Nuno Antunes, Lisboa, Faculdade de Direito de Lisboa, 2013, II Vols (620+462) pags.

"Os dois volumes de História da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa correspondem a um trabalho colectivo de professores e investigadores escolhidos e coordenados pela Comissão do Centenário.

Esta Comissão foi presidida pelo Professor Catedrático Jubilado Prof. Doutor Martim de Albuquerque. Cabe-me a honra de ser o Director da Faculdade no ano em que se comemora o centenário e de poder, representando a sua comunidade escolar, agradecer aos autores, aos colaboradores, aos membros da Comissão e ao seu Presidente o trabalho efectuado em prol da nossa Escola.

Trata-se de um registo de factos, situações, opiniões, imagens, biografias e contributos das pessoas que fizeram da nossa Faculdade uma presença incontornável na História de Portugal. E também uma referência elevada do ensino superior universitário público do Direito no país, no espaço de língua comum e na Europa …" [Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto] – ler MAIS AQUI e AQUI
[ALGUMAS ANOTAÇÕES NOSSAS]:
Do Vol. I [A Instituição]:
- “Os Antecedentes e a Fundação (Das Origens a 1927)”, texto de Luís Bigotte Chorão (pp. 14-199);
- “A Extinção e a restauração (1928)”, texto de Luís Bigotte Chorão (pp. 200-207);
- “A Consolidação (1928-1958), texto de Pedro Soares Martinez (pp. 208-317).
Do Vol. II [Os Doutores]:
- [Algumas Notas Biográficas sobre]: Afonso Costa [Luís Bigotte Chorão], Abel de Andrade [António Menezes Cordeiro], José Tavares [idem], Joaquim Pedro Martins [Martim de Albuquerque], Caeiro da Matta [Pedro Soares Martinez], Ruy Ulrich [Fernando Araújo], António Abranches Ferrão [L. B. Chorão], Fernando Emygdio da Silva [F. Araújo], Carneiro Pacheco [Marcelo Rebelo de Sousa], Paulo Merêa [Gonçalo Sampaio e Mello], José Maria Barbosa de Magalhães [L. B. Chorão], Albino Vieira da Rocha [idem], José Ludgero Neves [Sílvia Alves], Alberto Rocha Saraiva [Paulo Otero], Nobre de Mello [P. S. Martinez], João Tello de Magalhães Colaço [Diogo Freitas do Amaral], Fezas Vital [P. S. Martinez], Jaime de Gouveia [L. B. Chorão], Armindo Monteiro [M. R. de Sousa], Manuel Rodrigues [L. B. Chorão], João Pinto da Costa Leite (Lumbrales) [F. Araújo], Marcelo Caetano [Jorge Miranda], Adelino da Palma Carlos [Paula Costa e Silva], Manuel Cavaleiro Ferreira [Maria Fernanda Palma], Luís Pinto Coelho [G. S. e Mello], Inocêncio Galvão Telles [P. S. Martinez], Armando Marques Guedes [J. Miranda], Isabel Magalhães Colaço [Luís de Lima Pinheiro], André Gonçalves Pereira [Fausto de Quadros], António de Sousa Franco [Eduardo Paz Ferreira],
J.M.M.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ESTADO NOVO E UNIVERSIDADE: A PERSEGUIÇÃO AOS PROFESSORES


AUTORES: Fernando Rosas & Cristina Sizifredo;
EDITOR: Tinta-da-China (Setembro 2013), p. 144.

A Perseguição aos Professores conta a história de todos aqueles que, por motivos políticos, se viram impedidos de aceder à docência universitária, foram afastados dos seus centros de investigação, impossibilitados de progredir nas carreiras académicas ou compulsivamente exonerados das suas funções como investigadores ou professores das universidades portuguesas durante a Ditadura Militar e o Estado Novo.

A depuração política do corpo docente universitário ou de quem a ele pretendia aceder, quase sempre fundamentada em informações da polícia política, atingiu um largo espectro de investigadores ou docentes, muitos dos quais representavam, nos seus sectores – na matemática, na medicina, na economia, na física, na agronomia, nas ciências humanas –, o escol do pensamento científico português. A perseguição política desses elementos por parte de um regime que considerava a liberdade de opinião e de expressão, e portanto a liberdade científica, como incompatíveis com a segurança do Estado, acarretaria nefastas e duradouras consequências para o desenvolvimento científico em Portugal.

Muitos dos investigadores e docentes perseguidos pelas suas convicções políticas viram-se forçados ao exílio em vários países da Europa e da América Latina, ou nos EUA, onde livremente puderam exercer o seu múnus científico. E aí semearam a marca indelével do seu saber, deixando aos países que os acolheram aquilo que foram impedidos de oferecer ao seu.

Não parece possível abordar o problema da depuração política das universidades sem se compreenderem as relações do Estado Novo com o saber científico e académico e, portanto, com as universidades, depositárias tradicionais desse conhecimento e órgãos por excelência da sua reprodução. Tenhamos presente que no projecto político, ideológico e cultural da 'política do espírito', delineado no rescaldo do plebiscito constitucional de 1933 com a criação do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), virá a ser atribuído um papel claramente periférico e subalterno ao saber académico, à cultura científica e às universidades de uma forma geral”.[ler AQUI - sublinhados nossos]
J.M.M.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

I CONGRESSO DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS (1892)


DELEGADOS ao I Congresso dos Professores Primários [realizado nos dias 16, 19, 20 e 21 de Maio de 1892, em Lisboa]

1o plano (sentados, a partir da esquerda): Dr. Cândido de Figueiredo, José Narciso Braga Condé, Guilherme José da Silva, Dr. Bernardino Machado, António Sérvulo da Mata, Francisco José Pinto Coelho e Manuel José Ferreira;

2o plano (em pé): José de Carvalho e Silva, D. Maria Cândida Augusta Lopes Castelo, António Francisco dos Santos, João António Carlos de Carvalho, Guilherme Augusto Candeias, D. Carolina Assunção Lima, Manuel José Felgueiras, Francisco José Cardoso, Artur Loureiro Dias, Manuel José Martins Contreiras, Leonídio Cerqueira de Vasconcelos, Ulisses Machado e Padre João António Ribeiro Nobre.

inA Federação Escolar", Porto, 26 de Setembro de 1926

J.M.M.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ASSOCIAÇÃO ESCOLA 31 DE JANEIRO (PAREDE)


LIVRO: Associação Escola 31 Janeiro: 100 anos de Instrução, Educação e Progresso (Parede) [livro Comemorativo do seu Centenário];
AUTOR: Rui Pinto;
EDIÇÃO: Associação 31 de janeiro, com apoio da C. M. de Cascais.

" ... A Associação-Escola 31 de Janeiro é uma das muitas instituições de ensino fundadas no alvorecer da República. Perseguindo o ideal republicano do direito à instrução e face à insuficiência da oferta prestada pela rede de ensino público da época, a 1 de janeiro de 1911 esta associação sem fins lucrativos fundou [um dos 12 fundadores foi Abeillard de Vasconcelos - ver AQUI] uma escola privada com o intuito de contribuir para a cobertura da escolaridade obrigatória no concelho de Cascais.

'O grande desafio para os fundadores da Escola e dos seus seguidores foi conciliar a sobrevivência de uma instituição privada de ensino com os ideais republicanos da educação', refere o autor do livro, agora editado com o apoio da Câmara Municipal de Cascais. A opção pela gestão direcionada para o alargamento do ensino ao maior número de crianças possível e não para a obtenção de lucros criou algumas dificuldades à sustentabilidade da escola que durante os primeiros anos funcionou sem instalações próprias e totalmente dependente do pagamento das quotas dos associados, do financiamento camarário e da angariação de fundos através do desenvolvimento de atividades lúdicas e culturais. Frequentemente a sua missão estendia-se para além das obrigações educacionais e, a partir de 1927, a escola passou a prestar apoios sociais aos alunos mais necessitados ...
[ler AQUI - ler Origem e História AQUI]

J.M.M.

domingo, 12 de setembro de 2010

ENCONTROS COM … 100 ANOS DA REPÚBLICA – CONGRESSO NA FIGUEIRA DA FOZ


"... Uma oportunidade de reviver o ideário Liberal, assistir à implantação da República, passar pelo Estado Novo, sofrer a Guerra Colonial, saudar o 25 de Abril, discutir o Constitucionalismo, jantar com sabor a Casino, tomar Café com Livros, conversar com Escritores, entrar pelo Teatro dentro na Itália de Mussolini ..."

CONGRESSO: "Encontros com ... 100 anos da República"
DIAS: 2, 9, 16 e 30 de Outubro
LOCAL: Casino da Figueira da Foz
DINAMIZAÇÃO: Centro de Formação da Associação de Escolas Beira-Mar

Inscrições: professores [registo de acreditação CCPFC/ACC-63532/10 – 25 horas] e público interessado nas temáticas da História de Portugal do Século XX [consultar o BOLETIM DE INSCRIÇÃO]

Dia 2 de Outubro – Painel: "Do ideário Liberal ao Republicanismo"

1 - "O Ideário Liberal", pelo Prof. Henrique Fernandes Tomás, Pres. da Associação Manuel Fernandes Tomás;
2 - "Considerações sobre a História do Republicanismo Português", pelo Prof. Amadeu Carvalho Homem;
3 - "A República como Ética e como Regime", pelo Prof. Reis Torgal;
4 - "Exposição passo a passo: como organizar e construir uma Exposição", por técnicos do Museu Municipal Santos Rocha;
5 - Visita guiada à Exposição [em montagem]: "Evocação da Implementação da República" – a inaugurar dia 5 de Outubro.

Dia 9 de Outubro – Painel: "Dos Percursos do Estado Novo aos Caminhos da Guerra"

1 - "Propaganda, Manipulação e Repressão", pelo Prof. José Pacheco Pereira;
2 - "Homens para o Estado Novo", por Joaquim Vieira;
3 - "Guerra Colonial", por Joaquim Furtado;
4 - "Encontros com…100 anos de vida das mulheres em Portugal", pelo Profa Irene Pimentel;
5 - "A Música de intervenção como instrumento de oposição ao regime", por Francisco Fanhais.

Dia 16 de Outubro – Painel: "Da Revolução à Democracia"

1 - "A Primavera Marcelista e a oposição de 1969", pelo Prof. Luís Farinha;
2 - "Entre a censura e fim do jornalismo", pelo Prof. João Figueira;
3 - "25 de Abril", pelo general Augusto Valente;
4 - "O Constitucionalismo Democrático", pelo Prof. José Gomes Canotilho.

Dia 30 de Outubro – Painel: "Dos Percursos do Estado Novo aos Caminhos da Guerra"

1 – Avaliação: Apresentação dos Trabalhos dos formandos;
2 - "Mesa Redonda", com a presença de Carlos Brito, Francisco Moita Flores, Joaquim Vieira, José Jorge Letria e José Pedro Castanheira;
3 – Encerramento do Congresso, com a participação do tenor Luís Pinho [a realizar-se no Palácio Sotto Mayor] e entrega dos certificados.

INSCRIÇÕES no Centro de Formação da Associação de Escolas Beira-Mar

J.M.M.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A HISTÓRIA DAS PUBLICAÇÕES ESCOLARES DO LICEU DE AVEIRO DURANTE O ESTADO NOVO

Preia-mar s.f. nível máximo da maré; o maior nível atingido pelas águas, no fim da enchente; maré cheia; maré alta A Escola Secundária de Estarreja, "aproveitando a abundância da maré", por ser a hora esperada e seguros dos trabalhos de marinharia, lançou a revista "Preia-Mar" (em versão digital, AQUI). São 98 páginas de "(re)encontro com pessoas e documentos", uma navegação à memória das gentes e das terras que a comunidade educativa serve, uma escrita que é um "tributo à natural afeição das gentes de Estarreja", ao labor da terra, da ria e ao mar. E pelo que se vê o vento foi próspero. Muitas felicitações! No que a este "estabelecimento" diz respeito, fazemos referência à publicação do estimado texto de Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva [MJSOS], "A História das publicações escolares do Liceu de Aveiro durante o Estado Novo" [pp. 9-15], aliás uma adaptação de uma parte do mestrado da autora em História Contemporânea de Portugal ["A história e o liceu no Estado Novo", Maio 1993], via FLUC. É evidente que o trabalho académico de MJSOS foi um serviço que enriqueceu a (então?) pobre historiografia na área da história da educação e das ideias pedagógicas em Portugal, nomeadamente o importante e incontornável contributo da imprensa periódica escolar para o estudo das reformas educativas, mas que também nos traz a dimensão do pensamento pedagógico e a construção das instituições escolares, do mesmo modo que coloca a problemática e a natureza da cultura associativa, da organização, revindicação e luta do movimento associativo da classe docente. Da República ao Estado Novo e deste ao 25 de Abril não há dúvidas que a imprensa escolar é o lugar privilegiado, o lugar de afirmação, vigilância e regulação colectiva [cf. António Nóvoa] de luta (resistência) de ideias e valores dos/contra os regimes, que a partir dos seus conflitos e polémicas caracterizam ao longo de gerações não só a obra e o sistema educativo mas que reflecte, também, a ideologia e a acção governativa. Da recolha feita à lista dos periódicos escolares portugueses [do sec. XIX-XX] por MJSOS, ressalta os apontamentos retirados sobre 3 (três) periódicos do Liceu de Aveiro: Labor (1926-73), Farol (1957-1970) e Anuário (1926-62). A escolha teve em conta a “continuidade em termos de publicação”, a “colaboração variada”, “representatividade de correntes de opinião”, “interligadas no tempo e no espaço”. Das revistas citadas, salienta-se para nós a "Labor" [aqui por nós citada], de iniciativa de um grupo de professores e editada à margem da política educativa da ditadura, que é de facto das mais importantes ligadas ao ensino secundário (liceal), pela sua tomada de posições contra o ensino livresco e memorizado, pela aplicação de "sãos e racionais preceitos pedagógicos e didácticos modernos", pela organização de vários "Congressos Pedagógicos do Ensino Liceal", pelo tom crítico e independente e por se assumir como a "voz da imprensa" das revindicações do professorado ou não fosse designada (depois) como "órgão provisório do professorado liceal". Ler o artigo integral AQUI. O grupo de colaboradores da "Labor" é imenso [sobre o assunto consultar "A Imprensa de Educação e Ensino", dir. António Nóvoa, (333), p. 581-585; existe ainda um Índice Geral da Revista, por autor e título, realizado por Falcão Machado, em 1974, apud A. Nóvoa, ibidem], sendo de registar a presença de José Pereira Tavares [director], Álvaro Sampaio, Falcão Machado, Leite de Vasconcelos, Joaquim de Carvalho, Fortunato de Almeida, Orlando Ribeiro, Rodrigues Lapa, Delfim Santos, Hernâni Cidade, Rómulo de Carvalho, Francisco Dias Agudo, Jaime Magalhães Lima, Joel Serrão, Agostinho Campos, Gastão de Sousa Dias, João da Silva Correia, Aurélio Quintanilha, Mário Dionísio, Mário Fiúza, Rui Grácio, José de Melo, Gomes Bento, etc. Ler o artigo e a Revista "Preia-Mar" AQUI. J.M.M.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

COLÓQUIO REPÚBLICA E ENSINO


Vai realizar-se nos próximos dias 23 e 24 de Abril, em Lisboa, com o apoio da CNCCR, o Colóquio República e Ensino.

Este colóquio vai ter lugar no auditório da Reitoria da Universidade de Lisboa e conta com a colaboração de alguns dos nossos especialistas na questão do Ensino.
Entre os oradores contam-se Sérgio Niza, Fernando Catroga, Maria João Mogarro, Joaquim Pintassilgo, Justino Magalhães, Jorge Ramos do Ó, José Cardim, Luís Reis Torgal, Guilherme d`Oliveira Martins, Amadeu Carvalho Homem, Augusto Mateus, Jaime Reis, Maria José Artiaga, entre outros.

Pode ler-se na nota de abertura do colóquio:

República e Ensino
Com a realização do Colóquio República e Ensino pretende-se analisar a obra educativa da I República, sublinhando a sua importância enquanto projecto coerente e inovador de reforma do ensino. Esta análise que engloba os pressupostos pedagógico-didácticos que informaram a educação republicana e a forma como os mesmos se concretizaram nos diferentes níveis de ensino, é feita com o objectivo de captar os principais vectores da herança educativa republicana, no sentido de reflectir sobre a sua adequação aos nossos dias. A partir da visão das propostas e realizações republicanas, nos seus êxitos e nas suas limitações, proceder-se-á a uma análise prospectiva dos actuais problemas educativos, na busca de proposta que permitam projectar o futuro em ordem a uma educação de qualidade para todos, numa sã vivência democrática de participação cívica consciente.


O programa completo, com os conferencistas e respectivos resumos pode ser consultado AQUI.

Uma iniciativa que conta com o apoio da Comissão Nacional e que merece todo o apoio e divulgação. Esperemos que se aproveite para debater se os modelos de ensino têm sido os mais adequados, principais virtudes e defeitos e, sobretudo, projectar para o futuro os sonhos que se vão renovando a cada geração.

A.A.B.M.

sexta-feira, 5 de março de 2010

IN MEMORIAM ROGÉRIO ANTÓNIO FERNANDES 1933-2010


Nasce em Lisboa a 12 de Outubro de 1933. Em 1951 frequenta a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, participa no movimento estudantil, tendo sido eleito para a Comissão Pró-Associação. Forma-se (1955) em Ciências Histórico-Filosóficas, lecciona como professor eventual do Ensino Técnico e do Ensino Secundário Particular [cf. "O Pensamento Pedagógico em Portugal", de Rogério Fernandes, ICP, 1978], e foi segundo assistente de Filosofia na sua Faculdade, de 1957-60 [cf. Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, 2001, Vol VI], tendo pedido a rescisão do contrato. Mais tarde (1972-1974) foi professor do Instituto Superior de Serviço Social, em Sociologia da Educação, e do Instituto Superior de Psicologia Aplicada [ibid.].

Rogério Fernandes, proibido de leccionar pela ditadura, ingressa no jornalismo, colaborando a partir de 1962 na revista Seara Nova, tendo sido seu sub-director e director (1962-1967) e na Vértice (ver vol. 37). A partir de 1967 é redactor (e chefe da redacção) do jornal A Capital, onde coordenava a Secção de Educação, e aí se manteve até 1970. Foi consultor da Editora Livros do Brasil e secretário da direcção do Grémio dos Editores e Livreiros [cf. AQUI]. Escritor ["Três Tiros e uma Mortalha", Contos, 1969], autor e co-autor de várias obras e ensaios [Obra Filosófica de Vieira de Almeida; Apologia e história no pensamento filosófico de Pascal; Ensaio sobre a obra de Trindade Coelho, 1961; Cartas de António Sérgio a Álvaro Pinto: 1911-19, 1972], foi ainda tradutor [de Aldous Huxley, Mircea Elliade, J. J. Rousseau], principalmente nos Livros do Brasil. Tem, ainda, uma intensa actividade no movimento associativo e cultural [ver, ainda, AQUI]

Em 1969 adere à CEUD de Lisboa, participa no II Congresso Republicano de Aveiro [15-17 de Maio] com uma comunicação ["A Batalha Socialista pela Democratização do Ensino"], depois publicada via Seara Nova, assina o Manifesto dos Escritores Oposicionistas [20 de Outubro], subscreve o abaixo-assinado de um grupo de jornalistas publicado na imprensa a 23 de Outubro desse ano e integra a Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democratica (Aveiro, 1973). Depois de Abril milita no P.C.P., tendo participado na III Legislatura (1983-85) e na VI (1991-1995), integrando (em 1983) o Conselho Nacional de Alfabetização e Educação de Base de Adultos. Foi Director-Geral do Ensino Básico entre Agosto de 1974 e Agosto de 1976 [convidado pelo então ministro Vitorino de Magalhães Godinho] e, nessa data, exonerado - saneado - por Sottomayor Cardia, tendo-lhe sido atribuído o cargo de Inspector-geral da Junta Nacional de Educação (mais tarde Inspecção Geral do Ensino). Lecciona, depois, a disciplina de História e Ciências da Educação na F.C. de Lisboa, colabora com a Fundação Calouste Gulbenkian, concorre ao lugar de Professor Associado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U. L., onde termina a sua carreira como Professor Catedrático.

São numerosos os seus trabalhos de investigação sobre Educação, História da Educação e o associativismo docente

[Ensino; sector em crise, 1967 / Para a história dos meios audiovisuais na escola portuguesa, 1969 / João de Barros - educador republicano, 1971 / Educação e a existência, 1971 / As ideias pedagógicas de F. Adolfo Coelho, 1973 / Situação da Educação em Portugal, 1973 / D. Duarte e a Educação Senhorial, 1977 / Educação: uma frente de luta, 1977 / O Pensamento Pedagógico em Portugal, 1978 / A pedagogia portuguesa contemporânea, 1979 / Luís da Silva Mousinho de Albuquerque e as reformas do ensino em 1835-36, 1983 / Nascimento da educação de adultos em Portugal, séc. XVII-séc. XVIII, 1984 / Bernardino Machado e os problemas de instrução pública, 1985 / Cortesão e a Universidade do Porto, 1986 / História da Educação em Portugal (co-autor), 1988 / A Cultura Matemática na Escola Portuguesa, 1990 / Directoria Geral dos Estudos e a Orientação do Ensino na Alvorada de Oitocentos, 1991 / A Formação Moral da Criança Portuguesa em Vésperas da Revolução Liberal de 1820 / Opções Políticas e Perseguições ao professorado nas Primeiras Décadas do Liberalismo, 1991 / Delfim Santos, 1992 / Irene Lisboa: Pedagogista, 1992 / Uma experiência de formação de adultos na 1a República: a Universidade Livre para educação popular, 1911-1917, 1993 / Marcos do Processo Histórico da Alfabetização de Adultos em Portugal, 1993 / Os caminhos do ABC: sociedade portuguesa e ensino das primeiras letras: do pombalismo a 1820, 1994 / Para a história do ensino liceal em Portugal (Actas dos Colóquios do I Centenário da Reforma de Jaime Moniz, 1894-1895), 1999]

e, do mesmo modo, colabora em diversas revistas na área da Educação, como a "Escola Portuguesa" (boletim publicado entre 1934-1974 para o ensino primário), "O Instituto" de Coimbra (ver, vols 140-141), "A Nossa Escola", "O Professor" (publicação do GEPDES. R.F foi director da revista a partir de 1981 até 1992), "Revista da Educação" (1986), "Educação Especial e Reabilitação" (Dez. 1988) ou a "Colóquio-Educação".

Morre no dia 4 de Março de 2010.

"Muitos dos professores portugueses nunca o esquecerão, pelo muito que prestou àqueles que com ele privaram, pelo respeito exemplar com que tratava toda a gente e pela forma generosa como ensinava" [ler AQUI]

LOCAIS: Rogério Fernandes em Entrevista a "A Página" / Prefácio a quatro vozes e dois tons / Rogério Fernandes: ao mestre com gratidão / Estou (Ainda Mais) Triste.

J.M.M.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

HISTÓRIA DO SINDICALISMO DOCENTE



"A Universidade Lusófona realizou recentemente um seminário com o tema 'Memórias do associativismo e sindicalismo docentes'. Propuseram-me [Helena Pato], então, que aí deixasse o meu testemunho, as minhas recordações, acerca de como nasceram os sindicatos dos professores. Acedi, com a satisfação de poder, deste modo, legar memórias. Memórias que, ao que sei, nem nas comemorações dos 30 anos dos Sindicatos dos Professores nascidos em Abril de 74, nem agora, na passagem do 40o aniversário do Grupos de Estudo (que estiveram na base da sua criação), interessaram às direcções sindicais. Desdobrámos essa intervenção em três partes1, 2 e 3para que se torne mais fácil a sua leitura nestes CAMINHOS DA MEMÓRIA. A primeira parte pode ser lida aqui (...) a segunda aqui" e a terceira aqui.

de Helena Pato, via Caminhos da Memória.

FOTOS: da esquerda, capa da "História do movimento associativo dos professores do ensino secundário - 1891 a 1932", de [José António C.] Gomes Bento [julgo que na época era docente da E.P. António Nobre, Matosinhos], Livraria Júlio Brandão,Janeiro de 1973; foto da direita, Caderno "O Professor" no1, GEPDES, Julho de 1971, in "Educação, Acto Político", de Agostinho dos Reis Monteiro, Edições O Professor, 1975 [clicar para aumentar]

J.M.M.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A UNIVERSIDADE POPULAR



As Universidades Populares tiveram origem em França nos finais do séc. XIX, procurando difundir os conhecimentos entre as massas populares e tentando ultrapassar as barreiras existentes entre as classes intelectuais e a classe operária.

Em Portugal, esta associação, criada pela iniciativa de Feio Terenas, em 1906, com o apoio e influência da Maçonaria, tinha por objectivo "desenvolver o ensino popular pela mútua educação dos cidadãos".

Procurava seguir os mesmos moldes das organizações congéneres criadas no estrangeiro e organizou cursos livres, conferências, leituras, palestras, concertos, visitas a museus, fábricas, exposições, etc. Os resultados acabaram por ficar aquém das expectativas, porque até 1910 a sua acção foi muito localizada no tempo e no espaço. A partir de 1911, conhece um período de reorganização a que se segue uma intensificação das actividades. Nesse contexto, emerge então a Universidade Popular no Porto, já em 1912.

Faziam parte da Comissão Promotora da Universidade Popular: Sebastião de Magalhães Lima (presidente); José de Castro; António Joaquim Ribeiro; Adelino Furtado; João de Barros; José António Simões Raposo (Filho); Carneiro de Moura; João Teixeira Simões; Ernesto de Vasconcelos e Damásio Ribeiro.

O plano de estudo elaborado por esta comissão incluía as seguintes áreas de estudo a desenvolver: matemáticas, as ciências físico-químicas, as ciências biológicas e as ciências sociais (história, economia, direito, educação, etc).

Com a eclosão da 1a Guerra Mundial, a situação agrava-se bastante em Portugal, e, somente após o final do conflito surgem novos esforços para recuperar esta forma de promover a cultura. Assim, em 1919, funda-se em Lisboa a Universidade Popular Portuguesa, que o governo republicano da época logo reconheceu a utilidade e decide apoiar de forma mais empenhada com um subsídio para apoiar as actividades a desenvolver. A Universidade Popular renasce e floresce até 1922, tendo publicado por essa altura uma revista de instrução e cultura intitulada Educação Popular.

Várias personalidades de destaque estiveram ligadas à Universidade Popular como Bento de Jesus Caraça, Tomás Cabreira, Manuel de Arriaga, Ferreira de Macedo entre muitos outros.

A Universidade Popular entra em crise com o advento da Ditadura, as desconfianças com o apoio dado aos opositores ao regime conduzem a perseguições declaradas. A instituição termina a sua actividade em 1950, tendo entregue todo o seu património à Sociedade Voz do Operário.

A.A.B.M.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

ESTATÍSTICA DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA (1864)



Neste inquérito, trazido a público em 1864, foram também avaliados os professores envolvidos. Assim, dos 1687 professores avaliados "segundo o zelo demonstrado pelo ensino" observava-se o seguinte modelo:

- 172 professores demonstravam muito zelo;
- 1141 professores manifestavam zelo suficiente;
- 264 professores eram tidos como pouco zeloso;
- 110 professores tinham uma situação desconhecida.

Analisando, percentualmente, verificava-se que 10% dos docentes eram considerados profissionais muitos zelosos da sua função. Cerca de 67% alcançaram um patamar suficiente e, pelo menos 16% dos docentes, eram considerados profissionais pouco zelosos. Existiam ainda quase 7% dos docentes que não obtiveram avaliação por razões que não foi possível apurar.

Seria este sistema que, em certa medida, inspiraria o actual Ministério da Educação a realizar este novo modelo de avaliação da classe docente? Provavelmente, muitos dos actuais mentores deste projecto nem sequer tinham conhecimento da existência deste modelo. Outra questão importa ser clarificada, quase século e meio depois, ainda haverá quem acredite que esta avaliação trouxe resultados significativos ao sistema de avaliação existente nos finais do séc. XIX? Ele foi estudado em pormenor para se poder retirar todas as conclusões que permitam maximizar as melhorias a introduzir no sistema, ou tudo deve ser, como parece agora regra, para tentar mostrar resultados de qualquer forma, nem que para isso seja necessário garantir as transições de forma quase automática.

Estas e outras explicações vamos encontrar daqui a alguns anos, quando a geração que agora experimenta esta "sensação de absorção" por parte dos docentes, chegar aos patamares mais elevados do nosso sistema de ensino e alguns dos proponentes forem confrontados com a dura realidade da ignorância, facilitismo e laxismo que andaram a estimular entre muitos estudantes.

O sistema de ensino tem sido e será num futuro próximo um sistema piramidal. Os problemas que se causam agora nas bases do sistema vão fazer-se sentir anos depois no topo da pirâmide. Os educadores republicanos, que defendiam uma educação nova para formar uma geração civicamente activa e democrática, devem estar muito desiludidos com rumo da educação em Portugal, porque o problema da cidadania apesar de ser conteúdo curricular não deixa de ser uma miragem, num sistema que permite sempre a transição ao longo do percurso escolar.

Foto: Sala de desenho, Casa Pia, 1900 - por Alberto Carlos Lima, in Arquivo Fotográfico

A.A.B.M.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO



Amanhã (20 de Junho), sábado (21 de Junho), domingo (22 de Junho) e segunda-feira (23de Junho) realiza-se, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da cidade do Porto, um congresso sobre História da Educação. Subordinado ao tema central Cultura Escolar, Migrações e Cidadania.

Os trabalhos foram organizados em oito eixos essenciais, a saber:

1. Circulação de ideias, discursos e modelos educativos; manuais, imprensa e iconografia.
2. Currículo, práticas educativas e quotidiano escolar
3. Infância, geração e família
4. Inclusão, género e etnia
5. Formação, identidades e profissão docente
6. Instituições educativas e cultura material escolar
7. Políticas educativas e cidadania
8. Historiografia, métodos, fontes e museologia

Entre os organizadores destacam-se os seguintes elementos:
Comissão Organizadora

Ana Maria Pessoa (ESE - Inst Polit. Setúbal)
António Gomes Ferreira (UC-FPCE)
Carlos Eduardo Vieira (UFPR)
Cláudia Maria Costa Alves (UFF)
Décio Gatti Júnior (UFU)
Diomar Motta (UFMA)
Luís Alberto Marques Alves (UP- FL)
Luís Grosso Correia (UP- FL)
Marcus Aurélio Taborda de Oliveira (UFPR)
Margarida Louro Felgueiras (UP-FPCE)

Comissão Organizadora Local

António Barroso (EB de Viana do Castelo)
Luís Alberto Marques Alves (UP- FL)
Luís Grosso Correia (UP- FL)
Margarida Louro Felgueiras (UP-FPCE)
Rodrigo de Azevedo (CIIE- FPCE- UP)

Ao longo dos dias em que decorre o congresso, é possível escolher as temáticas que se julgarem mais interessantes. Assim, o programa detalhado das várias sessões de apresentação de trabalhos impressiona pela quantidade de pessoas envolvidas. Encontram-se trabalhos que se enquadram nos diversos eixos deste evento. Participam com trabalhos de investigação entre muitos outros: Justino Magalhães, Anabela Araújo de Carvalho Amaral, Jorge Ramos do Ó, Claudia Alves, Maria Beatriz Rocha-Trindade,Maria João Mogarro, Antonio Gomes Ferreira, Aires Antunes Diniz, António José Gonçalves Barroso, Ernesto Candeias Martins, Manuel Luís Pinto Castanheira, Joaquim Pintassilgo, António Augusto Simões Rodrigues.

Uma nota de destaque para a presença de inúmeros investigadores das mais variadas universidades brasileiras que vêm apresentar os seus trabalhos de investigação a Portugal.

O programa resumido do congresso pode ser consultado aqui e as várias sessões temáticas para apresentação de trabalhos podem ser consultadas aqui.

Pelo que conseguimos perceber, pela avaliação do programa das actividades, vai ser um evento de uma dimensão acima da média, com grande número de apresentações e qualidade científica reconhecida a muitos dos investigadores.

A não perder pelos interessados na temática da História da Educação.

A.A.B.M.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

LIGA NACIONAL DE INSTRUÇÃO



Esta associação, fundada em 1907, com amplo apoio e dinamizada por importantes figuras da Maçonaria, teve como principais impulsionadores José Francisco Trindade Coelho e Manuel Borges Grainha .

Esta associação tinha a sua sede em Lisboa, mas criou núcleos em diversos pontos do País, tinha como objectivo combater o analfabetismo que existia em Portugal. Criaram-se núcleos nas seguintes localidades: Leiria, S. Martinho do Porto, Peniche, Óbidos, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Alcobaça, Montemor-o-Velho, Figueira da Foz, Alhadas, Quiaios, Covilhã, Viana do Castelo, Aveiro, Soure, Coimbra e Santarém. Para além disso, conseguiu estabelecer-se na colónia portuguesa de Angola (Bié e Benguela).

Organizou ao longo do tempo vários congressos pedagógicos para debater os problemas do ensino em Portugal, como os de 1908, 1909, 1912 e 1914.

Veja-se o que era importante para a Liga Nacional de Instrução em 1908:




Note-se a preocupação com as questões que envolviam o problema do analfabetismo. Por outro lado, procurava-se "elevar o ensino nacional em todos os ramos e criar uma verdadeira educação cívica e social". Entre os ambiciosos fins desta associação encontramos alguns que, passado um século, ainda continuam por realizar, como se pode observar nos vários pontos do artigo 2.

Fica a questão para reflexão: a que distância ficamos de atingir as metas propostas e formuladas pela Liga Nacional de Instrução? Mesmo que cem anos depois tenhamos consciência de que muitas ainda estão por realizar.

A.A.B.M.

domingo, 8 de junho de 2008

ESTATÍSTICA DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA (1864)



Segundo os dados recolhidos por A. Henriques Carneiro, Evolução e Controlo do Ensino em Portugal. Da fundação da Nacionalidade ao 1o Ministério da Instrução Pública, col. Textos da Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2003, p. 470-471 (adaptado) onde se apresentam os seguintes dados com base num Inquérito levado a efeito em 1863, pela instituição da época semelhante à Inspecção de Geral da Educação, mas cujos dados fundamentais se referem a 1864. Existiam nessa época as seguintes escolas:

- 1514 Escolas Masculinas que foram inspeccionadas 104 que não foram inspeccionadas, num total de 1687 escolas;
- 173 Escolas Femininas que foram inspeccionadas e 32 que não foram, num total de 205 escolas.

De seguida, apresentam-se os dados sobre a capacidade das escolas inspeccionadas, onde se conclui que alguns dos problemas das escolas não são só dos nossos dias, mas que já se arrastam há muito tempo. Uma parte siginificativa das escolas em Portugal, nos meados do século XIX, não tinha capacidade para receber os alunos com que na realidade trabalhava, algo não muito diferente da realidade que se vive em alguns aglomerados populacionais nas periferias dos grandes centros urbanos.

CLASSIFICAÇÃO DAS ESCOLAS INSPECCIONADAS(CAPACIDADE)

- 942 escolas foram classificadas com suficiente;
- 689 escolas consideradas insuficientes;
- 56 escolas em situação desconhecida;


Nos próximos dias apresentaremos novos dados.

A.A.B.M.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

PARA UMA HISTÓRIA SOCIAL DO PROFESSORADO PRIMÁRIO


Margarida Louro Felgueiras

A Editora Campo das Letras publicou recentemente este trabalho que resulta de uma tese de doutoramento apresentado pela autora à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Nesta obra, é possível acompanhar a evolução e transformações por que passou uma instituição formadora de professores primários, e, particularmente, as origens sociais do corpo docente que ali foi formado.

«Poucas vezes um trabalho de investigação – por definição, altamente especializado – consegue entrelaçar tão complexa, profunda e rigorosamente a trama de uma história institucional como acontece na presente obra.
Uma obra que, por isso mesmo, extravasa amplamente o seu objecto específico de estudo para converter-se num autêntico fresco de uma época. A história do Instituto do Professorado Primário Oficial Português (Instituto Sidónio Pais), que Margarida Louro Felgueiras se propõe construir (e reconstruir) neste trabalho, urde-se sobre uma rica e poliédrica trama em que a análise das relíquias – isto é, os registos e restos materiais da instituição – e os relatos – a memória e o relato oral de antigos alunos – se interligam admiravelmente. O resultado já não é (ou não é somente) a crónica histórica de uma instituição que durante setenta e cinco anos se ocupou a acolher, instruir e formar os filhos e filhas daqueles professores que, isolados no interior do país, "derramavam a luz da instrução" nos pequenos povoados e aldeias: as fontes (primárias e secundárias) utilizadas, a metodologia que adopta para o seu tratamento e os planos e categorias analíticas que se recortam tornam possível que a partir de uma informação "saturada" se construa um autêntico estudo histórico-sociológico sobre a profissão docente em Portugal, em cujo fundo se desenham os traços que a determinam – a condição rural do país, os restos do colonialismo, a influência do poder militar, a força dos sectores católicos, o carácter classista, autoritário e hierarquizado da sociedade… mas também a aspiração de determinados grupos e forças sociais (entre elas o professorado e suas associações) a afirmar (afirmando-se ao mesmo tempo) o poder transformador da educação para provocar as mudanças e a chegada "do novo"… Nessa linha, a aproximação ao ethos que a institução analisada provocou nos seus alunos internos para responder a isso é, finalmente, outra das grandes contribuições do trabalho, exemplar do ponto de vista metodológico.»
AIDA TERRÓN BAÑUELOS, Professora de História da Educação. Universidade de Oviedo


Uma obra que recomendamos, pela análise que propõe, e pela marca que lançou na investigação de instituições formadoras de docentes.

Um trabalho de folego que se saúda.

A. A. B. M.
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