domingo, 29 de junho de 2014

Antigamente...

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

JOSÉ ESTÊVÃO: Revolução e Liberdade


Exposição dedicada a José Estêvão e ao seu tempo
Até 12 de Janeiro de 2010
no edifício da Assembleia Municipal (antiga Capitania)
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terça-feira, 14 de julho de 2009

O topónimo AVEIRO



Adenda à postagem «Aveiro», aqui publicada em 7 de Dezembro de 2006, e contribuição deste blogue para as comemorações dos 250 anos da elevação de Aveiro a cidade.

Abrimos hojeoutra possibilidade para a explicação do topónimo AVEIRO, quenos parece mais credível do que a apontada na postagem de 7 de Dezembro de 2006.

Na hipóteseque passamos a desenvolver, o topónimo Aveiro terá pororigemumapelativo recebido directamente do latimtardio, a que a presençaárabeou a convivênciamoçárabe terão acrescentado o artigo al, como aconteceu, porexemplo, no topónimo Almoster “o mosteiro”, emque o artigo al se antepôs a umapelativoromance, o quenão é casoúnico. Mas, talvezmelhor e maissimples, emvez do artigoárabe al, teremos a próstese de um a- inicial, comotão frequentemente acontece na formação do português. Referimo-nos ao apelativo do latimtardio lavarium, um dos compartimentos da domus, relacionado com as abluções e com os Lares e Penates (divindades domésticas), que se transformou no temploprivado do cultodoméstico das villae.

Está hoje provado que a maioria dos templosromanos tiveram umstatus de edifícioreligiosoprivado, especialmente os rurais, entre os quais se incluem os que existiam nas villae. Comefeito, muitas destas villae tinham o seuprópriotemplo, onde se praticava umcultoprivado e doméstico: referimo-nos, comoatrás dissemos, ao lavarium, porvezestambémconhecidopor sacrarium (Orr, 1978; Baker, 1994) (1).

Depois do encerramento dos templosrurais, após a adopção do cristianismocomoreligiãooficial do Estado, os santuáriosprivados das villae, que continuaram emfuncionamentoatébem entrado o século V, converteram-se no últimoreduto do paganismo, que os éditos imperiais atingiam sobretudo a esferapública, tendo uma pequena repercussão na esferaprivada.

O isolamento da zona de Aveiro está bempatente no mapa das paróquias suevas do século VI, cujas sedes estão totalmenteausentes deste litoral, certamenteaindanão cristianizado. A únicaparóquia registada nas proximidades situa-se além-Vouga e corresponde a Antuã, havendo algumas incertezasquanto à localização de Insula que, para Almeida Fernandes, se situaria no actual concelho de Oliveira de Azeméis, na freguesia de Cucujães (2). A Sul do Vouga, na área do actual concelho de Aveiro, não há registo de qualquersedeparoquial, fosse elacatólicaouariana.

Estas constatações permitem-nos deduzir da inexistêncialocal, ou nas proximidades, de quadroseclesiásticos, capazes de darassistênciareligiosa aos respectivoshabitantesque, porissomesmo, emperíodotãotardioúltimoquartel do século VI –, aindanão teriam sido cristianizados. Mas esta realidadenão será de estranhar, se considerarmos que a maioria dos Suevos, quando entraram na Península, ainda eram pagãos, e que a evangelização do reinoapenas se inicia poucosanosantes da elaboração do “Paroquial Suevo”, cerca de 550, com a chegada à Galécia de S. Martinho de Dume.

O quadropoucomelhoraquando recuamos aos últimosanos do Império, que, no Norte de Portugal, apenas vislumbramos a diocese de Braga e, na Lusitânia, paraalém da metrópole de Mérida, conhecem-se tão as dioceses de Ossonoba, Évora e Lisboa, situaçãoagravadapelainexistência na Hispânia de «corepíscopos oubisposrurais, como existiram no Oriente».

De acordocom o “Paroquial Suevo”, a região de Aveiro integrava-se na diocese de Conimbria, comsede na actual freguesia de Condeixa-a-Velha, cujajurisdição descia umpouco a Sul de Tomar, enquanto a Norte subia até ao Douro, que acompanhava paraLesteatéencontrar o rio Arda. No aro desta diocese, entre Vouga e Mondego, apenas havia as paróquias de Emínio (Coimbra) e Lorvão, muitolonge de Aveiro. O “Provincial Visigótico”, da segundametade do século VII, enuncia as diferentesdioceses e fornece-nos os respectivoslimites. Emrelação ao “Paroquial Suevo”, e para a zonaatlânticaquenos interessa, verifica-se a inclusão na diocese de Portucale do territórioentre Douro e Vouga, queantes pertencia à diocese de Conimbria. Quanto aos limites, ali se afirma que «Portucale teneat de Avia usque Loram, de Almos usque Solam», e que «Conimbria teneat de Naba usque Borga, de Torrente usque Lora». A transcrição justifica-se pelolimitecomum às duas dioceses, que é a maisantigareferência a “Loure”, do concelho de Albergaria-a-Velha, na margemdireita do Vouga e nas proximidades de Aveiro.

É este o quadroreligioso na área do Baixo Vouga e na zonaemque se inscreve Aveiro. Não haverá cristianismo, queapenas começará a entrar, e muitolentamente, a partir do século V. Poroutrolado, a evangelização privilegiava, comonão podia deixar de ser, face aos recursos reduzidos de que dispunha, os centrosurbanos, começando porganhar as respectivas elites. depois, e através destas, chegará a vez das camadaspopulares, dos servos e escravos. Não haverá cristianismo, mas, porcerto, há religião, há paganismo, há o sincretismoreligiosoque ao longo de séculos amalgamou o animismocom as mais variadas crenças e divindades.

Nesta perspectiva, o nosso Lavarium corresponderia ao santuáriolocal, que respondia às necessidades religiosas de camponeses, pescadores e salineiros das terrasemvolta, arreigados ao paganismo e às suascrenças. Sabemos quais eram essas crenças: basta uma leitura das actas dos concíliosque começam a multiplicar-se no século VII. Para se aquilatar do desenvolvimento do cristianismo na área do actual território de Portugal, bastará dizerque o primeiroconcílioaqui realizado teve lugarem Braga, no ano 561, estando presentesoitobispos de todo o reino suevo (do Cantábrico ao Tejo).


Quanto ao resto, perguntassemrespostas. Qual teria sido o destino deste lavarium, de a- prostético a tiracolo, perpetuado que foi no topónimo Aveiro? Será quelhe pertencia a estranha e arcaicae státua depositada no Museu de Aveiro, o gigante de quase 3 metros de altura, envergando umas típicas bragas célticas (em Aveiro chamamos-lhe “manaias”) e segurando pelacabeça, com a mãoesquerda, uma serpentecomcerca de doismetros e meio, enquanto o braçodireito se levanta e a mão se abre paraagarrarqualquerinsígniavolanteque se perdeu? Onde se levantaria estesantuário de cultosdesconhecidos? Porventura naquela colina, entreribeiras e debruçada sobre a água, onde nasceu o centrohistórico da nossacidade. Quem sabe se no mesmosítioemque se levantou a velhamatriz de S. Miguel, demolida em 1835, possivelmente paraquenão se pronunciasse no seu orago o nome do reimaldito e assassino. S. Miguel, o orago que surge nosprimevostempos do cristianismo da Hispânia ocidental, quasesempre a desalojar o deussolarpagão, escondendo-lhe o nome e roubando-lhe a casa, como aconteceu maisparaSul, nas proximidades do Alandroal, com o S. Miguel a destronar o poderosíssimo Endovélico. Igreja de S. Miguel. Igreja de estranha arquitectura, de torregótica e altaneira a encostar-se à capela-mor, certamente o pequenocorpo do temploprimitivoque, face ao diminutonúmero de fregueses, não precisaria de outros cómodos. Cresceu a vila, cresceu o templo. Talvez a arqueologia tenha maissorte, se alguma vez se proporcionarescavar a praça aveirense quemaishistória viu passar.


(1)LÓPEZ QUIROGA, Jorge; MARTÍNEZ TEJERA, Artemio M. –El destino de los templos paganos en Hispania durante la antigüedad tardía. In Archivo Español de Arqveología. Madrid. Vol. 79 (2006), p. 125-153. ISSN 0066-6742. ORR, David G. – Roman domestic religion: the evidence of the household shrines. In Aufstieg und Niedergang der romischen Welt. Vol.16/2 (1978) p. 1557-1591. BAKER, Jan Theo -- Living and Working with the Gods.Studies of Evidence of Private Religion and its Material Environment in the City of Ostia (100-500 A.D.). Amsterdam: J.C. Gieben, 1994. ARCE, Javier – Bárbaros y romanos en Hispania: 400-507 A.D.. Madrid: Marcial Pons, 2007. 326 p. ISBN 9788496467576. ARCE, Javier – Fana, templa, delubra destrui praecipimus: El final de los templos de la Hispania romana. In Archivo Español de Arqveología. Madrid. Vol. 79 (2006), p. 115-124. ISSN 0066-6742.


(2)Almeida Fernandes considera absurda a hipótese de Pierre David que concentra num único topónimo – Insula Antunane – estas duas paróquias suevas, com uma justificação, na verdade, muitodifícil de aceitar, face às evidências dos argumentos daquele investigador. No concelho de Oliveira de Azeméis existem hojetrêslugares denominados “Ínsua”, nas freguesias de Carregosa, Cucujães e S. Martinho da Gândara.


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quinta-feira, 26 de março de 2009

Mário Sacramento morreu há 40 anos


MÁRIO SACRAMENTO (1920-1969) morreu há 40 anos, sem ver o Portugal livre por que tanto combatera. Médico, escritor, crítico literário, político empenhado e cidadão de corpo inteiro, a morte, pressentida, levou-o cinco anos antes do 25 de Abril, nas vésperas do 2o Congresso da Oposição Democrática, que o homenageou deixando vaga a sua cadeira na mesa da presidência. Em humilde homenagem, deixamos aqui a sua carta-testamento.

Caramulo,
Pousada de S. Lourenço,
7 de Abril de 1967

Aos mais adiados...

Vai sendo tempo de escrever uma carta de despedida! A velha carcaça é já uma ruína nítida. A somar às cicatrizes das lesões pulmonares que tive, há bronquiectasias e zonas de enfisema do impossível fumador que sou, as quais hão-de vir a resultar num coração pulmonar. A tensão mínima já começa a ressentir-se disso. O rim deita vestígios acentuados de albumina e cilindros. E o estômago tem qualquer coisa que um destes dias hei-de averiguar... Como não posso nem devo emagrecer excessivamente — são os próprios colegas que mo dizem —, dado o perigo de reactivação das antigas lesões bacilares, o peso é também um contra. E, como deixar de fumar, nesta idade, além de ser um sacrifício inglório que me roubaria um dos poucos apegos concretos que ainda tenho à vida, seria levar-me a engordar ainda mais, o balanço é portanto muito nítido. Quantos anos? Depois dos cinquenta acaba-se, estou convencido. Mais erro, menos erro, a média deve ser essa.

Começo por isso a ter pressa de fazer umas tantas coisas que reservei para a fase final, quando a terrível batalha que travei na sobrevivência contra o fascismo me deixasse, à margem desta profissão cujas dificuldades e condicionamentos económicos, sociais e políticos liquidaram tantos dos meus sonhos, margem para isso. Espero roubar, sempre que possa, alguns dias à labuta e à engrenagem diária e isolar-me, como agora fiz, para escrever qualquer coisa de mais íntimo. Para o romance cíclico que trago há tantos anos na cabeça, não chegará o tempo, decerto. E é melhor assim, pois evito uma desilusão e sempre morrerei com o arzinho angustiado de vítima dum mau destino, o que é chique, como diria o Eça...

Antes de tudo, impõe-se, porém, que escreva estas singelas palavras. Quem pode afiançar-me que não vou acabar hemiplégico e afásico, como minha Mãe? Deixa aqui, então, o que depois não poderás!

Deixar cheira a testamento. E eu, que deixe, só tenho o corpo. Por mais que fizesse, por mais que me fizessem, disso é que nunca consegui ser espoliado! E, como é com ele que me avenho nas noites de insónia e nas porfias diárias, é justo que lhe dedique, ao menos, um pensamento em vida. E não o legue aos cães... Pois não equivaleria a isso estar a ver-me, daqui, de barba feita a posteriori, sapatos engraxa¬dos, fato de ver a Deus, a apresentar as minhas despedidas, muito formalizado, de dentro da cabine — espacial? Como não tenciono ir para parte nenhuma, metam-me como eu estiver no caixote mais barato que encontrem e devolvam-me os restos à terra. A terra sabe lavar-se. E não há nada como um cadáver «limpo» para marcar um limite.

Se morresse em localidade com forno crematório, não desgostava disso, se não fosse caro. E, por falar em caro: não sei se a terra será o mais barato para o caso, — ó contradições do capitalismo! E, como isto de morrer também «custa» aos outros, há que prevê-lo. A família tem uma pirâmide egípcia em Ílhavo. Embora eu esteja farto de conhecer prisões em vida, como nessa altura quem terá de aguentar isso é «o outro», não me oponho a ir para lá, se for mais económico ou mais fácil de arrumar. Não faço questões nenhumas com a morte... Ela nega-me, e é tudo. A grande magana!

Não, o motivo fundamental desta carta é outro. Aceitei dialogar, nestes últimos tempos, com os católicos. Se tivesse nascido num país protestante ou árabe ou budista, tê-lo-ia feito com esses. Pois do que se tratava — se trata, ó morto-vivo!, ainda não acabaste! — era, é de dialogar com os progressistas e, sobretudo, com o povo, directa ou indirectamente. Não há-de faltar contudo — sempre assim foi, ó alminhas santas! — quem procure fazer sujeira com isso e aproveitar-se duma ambiguidade que surja para me denegrir a memória. Se a minha Mulher ainda estiver viva — ela tem sido boa companheira! — não haverá problemas com isso, estou convencido. E o mesmo se dará se os filhos estiverem atentos: eles têm carácter. Mas quem pode prever tudo? Não que eu faça grande questão do meu bom-nome: estou-me nas tintas para ele, depois de morto. Mas, além dele pertencer, também, aos filhos dos Filhos e a estes, pertence aos meus companheiros de jornada. E, que diabo, se passei tantos maus bocados por eles, em vida, é porque considerei que era esse o meu destino. E um homem tem o direito de o defender, mesmo depois de morto!

Fica portanto entendido que sou ateu e como ateu devo ser enterrado. Em vez dum pano preto, ponham um paninho vermelho no caixote, se puderem. E usem luto vermelho, se algum quiserem usar...

Mesmo que eu ficasse pílulas ou sugestionável à hora da morte, isso não modificaria ser esta a minha opinião responsável. É esta, por conseguinte, a única válida.

Claro está que gostaria de ter sido melhor homem, melhor marido e melhor pai. A perspectiva da morte só tem de positivo fazer-nos pensar assim. Mas o homem é um bicho complicado. E eu tenho a consciência de que, pelo menos, me bati sempre comigo mesmo para ser melhor do que poderia ter sido. Fui amigo da família à minha maneira: sem efusões líricas ou rodriguinhos. E, se não fiz mais por ela, foi porque não pude, tanto no sentido social como psicológico do verbo. A prova de que o meu desejo era ser bom marido e bom pai está no muito que li, pensei e escrevi sobre isso. Sejam os Filhos melhores do que eu pude — foi sempre esse o meu sentido de missão.

Nasci e vivi num mundo de inferno. Há dezenas de anos que sofro, na minha carne e no meu espírito o fascismo. Recebi dele perseguições de toda a ordem — físicas, económicas, profissionais, intelectuais, morais. Mas, que não as tivesse sofrido, o meu dever era combatê-lo. O fascismo é o fim da pré-história do homem. E procede, por isso, como um gangster encurralado. Fiz o que pude para me libertar, e aos outros, dele. É essa a única herança que deixo aos meus Filhos e aos meus Companheiros. Acabem a obra! Derrubem o fascismo, se nós não o pudermos fazer antesl Instaurem uma sociedade humana! Promovam o socialismo, mas promovam-no cientificamente, sem dogmatismos sectários, sem radicalismos pequeno-burgueses! Aprendam com os erros do passado. E lembrem-se de que nós, os mortos, iremos, nisso, ao vosso lado!

Não veremos o que quisemos, mas quisemos o que vimos. E este querer é um imperativo histórico. Há milhões de mortos a dizer-vos: avante!

Para a Mulher, um abraço, simples e esquivo como eu sempre fui. Para os Filhos, um beijo, frio e recalcado como eu sempre lhes dei. Para todos, um afecto. Quem tinha tão pouco que dar a tantos, teve de ser avaro... Mas morre convencido de que não guardou nada para si. Ou de que teve, pelo menos, essa intenção.

Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a voltar cá!

Mário Sacramento

[– Carta-testamento. Porto: Editorial Inova, 1973. p. 15-18]
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sábado, 14 de março de 2009

Monte da Paradaia (Romãs, Sátão)

Pede-me um leitor deste blogue para estudar a possível origem do topónimo Paradaia, que identifica um monte na freguesia de Romãs, concelho de Sátão. O topónimo em questão é ignorado pelos nossos documentos oficiais que, para o mesmo acidente geográfico, registam os nomes de Monte do Barrocal ou Monte de Nossa Senhora do Barrocal. Acrescenta o nosso consulente que, neste lugar, estão referenciados «uma necrópole, um castro e uma igreja moçárabe».

Uma rápida pesquisa permitiu-me acrescentar algo mais a estas informações, como seja o facto de ali se realizar, no dia 2 de Fevereiro de cada ano, a romaria de Nossa Senhora do Barrocal, em honra de Nossa Senhora das Candeias, orago da capela ali existente, a que o povo chama Capela das Candeias ou da Fevereirinha.

Esta romaria corresponderá, quase pela certa, considerando as particularidades do lugar e os respectivos achados, à cristianização do festival celta do primeiro dia de Fevereiro, conhecido por Imbolc "Purificação" ou Dia da Senhora, que honrava a deusa Brigitt, «filha do deus Dagda, a deusa tripla dos cabelos de ouro. Era a mãe, a filha e a esposa dos deuses das origens e dos primeiros druidas. Personificava a poesia, a saúde, a força, a adivinhação, a inteligência e protegia o lar». O processo da cristianização, perante a dificuldade em erradicar as múltiplas manifestações da religião e dos costumes pagãos, transformou esta deusa Brígida em Santa Brígida, arvoradando-a em padroeira da Irlanda, com culto generalizado nesse mesmo dia 1 de Fevereiro.

A ocupação romana trouxe consigo um pouco de todo o império, incluindo, como não podia deixar de ser, a sua religião, abrindo caminho a novos sincretismos.

Neste mesmo mês de Fevereiro, entre os dias 13 e 21, a velha Roma promovia um dos seus maiores festivais religiosos, que pretendia honrar os mortos e aproximar os membros da família, envolvidos na visita aos túmulos dos seus familiares, onde levavam flores e oferendas de sal e de pão embebido em vinho.

Considerando as características do Monte da Paradaia e a existência ali de uma necrópole, pensamos ter encontrado a resposta para a origem deste topónimo no festival religioso a que acabámos de aludir. A legitimação desta hipótese, que até o nome da freguesia parece confirmar, deixamo-la a cargo de quem melhor a pode fazer: a Arqueologia.

Parentalia, era o nome deste festival, e daqui podia derivar o nome Paradaia, mediante fenómenos fonéticos presentes na formação da língua portuguesa:

Parentalia>

>*parantalia (assimilação da segunda sílaba por influência das envolventes);

>*paratalia (assimilação progressiva da segunda sílaba por desnasalação);

>*paradalia (por sonorização do intervocálico -t-> -d-);

> Paradaia (por síncope do -l- intervocálico).
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