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domingo, 28 de dezembro de 2008

OS FILHOS

[…]

 Ao que tudo respondeu Dom Quixote:

- Os filhos, senhor, são pedaços das entranhas de seus pais, e, assim, se hão-de querer, ou bons ou maus que sejam, como se querem as almas que nos dão vida. Aos pais toca o encaminhá-los desde pequenos pelos passos da virtude, da boa criação e dos bons e cristãos costumes, para que quando grandes sejam báculos da velhice de seus pais e glória de sua posteridade.

 […]

 Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha

domingo, 21 de dezembro de 2008

AS QUATRO IDADES DA MULHER

Quatro caixinhas, fiéis

Presentes da Providência,

Resumem de cada Bela

As estações da existência.

 

Guarda a primeira caixinha

Inocentes rebuçados

A segunda as cartas doces

Dum cento de namorados.

 

Na terceira o vermelhão,

Que as faces vai besuntando,

Inventa as rosas postiças,

Quando as outras vão murchando.

 

Mas depois que o espelho quebra,

Da idade por crua lei,

Toda a ternura se encerra

Na caixinha do agnus Dei.

 

JOÃO DE LEMOS

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VERSOS DE OURO

Não faças inúteis despesas

com os que ignoram em que

consiste o belo.

Avaro também não sejas:

a justa medida em tudo é excelente.

 

Não tomes jamais a peito

o que te poderia prejudicar

e reflecte antes de agir.

 

PITÁGORAS (Séc. VI a. C.), Versos de Ouro

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

EMANCIPAÇÃO PELO TRABALHO

A mocidade vive nas antecâmaras do governo como os antigos poetas do século passado nas salas de jantar dos fidalgos ricos. Os moços […] dizem-se republicanos, democratas, socialistas, […] mas não nos dão em si próprios o exemplo de que o primeiro dever de todo o cidadão que se quer prezar de democrata e de livre é ele próprio bastar para si mesmo, prover pela sua iniciativa a todas as suas necessidades, trabalhar só, viver de si, que é o único meio de não ser explorado e de não explorar ninguém, afirmar-se finalmente na única forma da independência poderosa e legitima, na única dignidade verdadeira e segura – o trabalho pessoal e livre. A mocidade tem a mais elevada compreensão dos destinos sociais, da moral e da justiça. Unicamente a mocidade tem um defeito que há-de esterilizar a sua iniciativa: ela pensa, mas não trabalha.

 RAMALHO ORTIGÃO, As Farpas

sábado, 6 de dezembro de 2008

BIOGRAFIAS ERÓTICAS

Qualquer homem tem duas  biografias eróticas. Geralmente só se fala da primeira, que se compõe de uma lista de ligações e de encontros amorosos.

A mais interessante é, sem dúvida, a outra: a corte de mulheres que queríamos ter e que nos escaparam, a história dolorosa das virtualidades por cumprir.

Mas há uma terceira, uma misteriosa e inquietante categoria de  mulheres. Agradam-nos, nós agradamos-lhes, mas simultaneamente percebemos bem depressa que não podemos tê-las, porque na nossa relação com elas nos encontraríamos do outro lado da fronteira.

 MILAN KUNDERA, O livro do riso e do esquecimento

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

RETALHOS DA VIDA ...

 “Já lá vão dez anos” – dizia-me. “O lirismo acabou. Tenho o destino que me é devido. Tentei atravessar esses muros que estão à frente dos que começam sem a influência dum pai abastado ou duma camarilha. Cansei-me, desisti. A qualquer de nós resta sempre uma migalha; aceitei a que me estava destinada. Talvez não tivesse sabido lutar, talvez não o merecesse: encontramos sempre justificação para as nossas fraquezas. De qualquer dos modos, vou-me conformando. Trabalho, como, durmo. É o bastante para encher uma vida …”

 FERNANDO NAMORA, Retalhos da Vida de um Médico

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

INÍCIOS DA REPÚBLICA NO PORTO

A iniciativa da constituição do Centro Eleitoral Republicano Democrático do Porto pertenceu a A1ves da Veiga, a mais espontânea e persistente dedicação republicana moderna em Portugal; e a nova agremiação política aparecera em público, com surpresa atónita mas cortês e respeitosa, pela primeira vez, numa impressiva solenidade liberal que no Porto se efectuou, com singular, lúgubre imponência. Foi a trasladação das ossadas dos enforcados da Praça Nova, recolhidas numa urna do pátio da casa da Misericórdia, à Rua das Flores, e transferidas para o monumento fúnebre que a mesma Misericórdia lhes consagrara no seu cemitério privativo, no campo santo do Prado do Repouso. O Centro Republicano fez-se representar no cortejo por uma delegação respeitável, e os anúncios convocatórios saíram insertos nos jornais logo a seguir ao convite oficial da irmandade. Poucos eram, porém, então os republicanos portuenses agremiados, mas a escassez da quantidade encontrava-se brilhantemente compensada pelo lustre da qualidade. Porque, entre os fundadores do novo Centro, se contavam um desembargador da Relação (Pereira de Sousa); um engenheiro das obras públicas (José Jerónimo de Faria); um professor do liceu (Augusto Luso). E logo vinham advogados, Alexandre Braga, Manuel José Teixeira; engenheiros, Eduardo Falcão; lentes, Joaquim Duarte Moreira de Sousa; farmacêuticos, Lopes da Silva, Salgado Lencart; leccionistas, O’Neill de Medeiros; médicos, Tito Jorge de Carvalho Malta; jornalistas, Prado de Azevedo. Era uma verdadeira aristocracia intelectual.

 [ Nota : a cerimónia de trasladação das ossadas dos “Mártires da Liberdade” a que o texto alude ocorreu, no Porto, no dia 18 de Junho de 1878. ]

 SAMPAIO BRUNO, Os Modernos Publicistas Portugueses

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